30 dezembro 2005

scratch #051

fNeon ELetter LIsign z2Brought to you by the number zeronO parkingOne Digit / 6!

Falado com o Flickr

Um Ano num Post

Dias estranhos. Ano estranho. Mas quem confundir com poeira o que se esconde pelos cantos tá precisando de óculos. Ou de um novo headfone. Se a gente for tratar só de cultura (inútil pra tantos) e de ciências de baixa tecnologia, foco deste bloco, 2005 foi um ano riquíssimo. Só me arrependo de ter deixado assuntos altos de lado, assim como o BlueNoir, no 2º semestre. Sorry... (pra quem liga). Mas vamos dar uma geral:

Música

Ano de descobertas e poucos lançamentos bombásticos. Apesar da lista entusiasmada do Nelson, postada em março. A única promessa não cumprida foi do Red Hot, que passou o ano sumido. Fez falta? Sempre faz, ainda mais depois dos 2 últimos discos. Mas enfretaria um concorrente fortíssimo: o disco do ano foi "Guero", do Beck. Criativo, provocador, inteligente e divertido. Quem tira valor até de tecladinho "funkarioca" tem o que mostrar. Imbatível.

Mas também tivemos Oasis, Audioslave e Cowboy Junkies. Cada um na sua, reforçando estilos (ou retomando, como o Oasis) e com muito a dizer. Fica a grata surpresa da cover de "One", do U2, pelos Cowboys. Aliás, a primeira descoberta (pra desespero do Towerson, hehe): Rachel Goswell, baixista do Mojave 3 (a melhor banda deprê da Grã-Bretanha), gravou um disco solo. Tem um 'q' de CJ, e é bom pra caramba! (Na verdade é de 2004, mas... descoberto agora). Assim como o Jughead, que é de 2002. Banda pop formada por músicos "progressivo-metal-melódico"... pasmem! É punk-pop-beatle mais divertido que tudo que se lança com tal (ridículo) rótulo.

Já Pindorama ressuscita pela enésima vez a MPB, com 20% de inspiração e 80% de pura colação mesmo. Não é demérito. Vale mais que qq coisa "trabalhada" pela mídia. Tô falando de Maria Rita e seu "Segundo" álbum, o "4" de Los Hermanos e o "Cru" do Seu Jorge. Mas quem viveu a adolescência nos anos 80 sempre seguirá sentindo falta de algo... Algo que o "Acústico" do Ultraje e o "MTV ao Vivo" do Barão não ajudam a saciar... Quem gosta de releitura é gravadora...

Mas baixou em Pindorama o Pearl Jam, pra salvar o ano. E 2006 já começará melhor pq rolarão U2, Oasis e Stones no primeiro semestre... It's only rock'n'roll (I know), but I Love it!


Cinema, TV e Vídeo

Aqui já não sei se 2005 foi fraquinho pq vi poucos filmes ou se vi poucos pq o cardápio foi fraquinho. Saiu em janeiro o filme do ano... "Closer". Outra coisinha legal é "Tentação", com a Naomi Watts (produzido por ela com a grana que ela ganha fazendo blockbusters de gosto duvidoso).

E foi uma enxurrada de releituras e adaptações: Sin City (vale pela audácia estética), Batman Begins (pelo 'begins'), Quarteto Fantástico (pela Alba) etc. Ainda não vi "Jardineiro Fiel", que parece ser bom e tem um diretor (brasileiro) realmente competente. Pena que de brasileiro o Fernando Meirelles tenha tão pouco...

..ao contrário do Luis Fernando Carvalho. Além de bancar "Hoje é dia de Maria", o programa mais belo e inteligente da TV Globo nos últimos 40 anos (hehe), ele bancou (literalmente) o lançamento (enfim!) de "Lavoura Arcaica" em DVD. Com 4 anos de atraso. Tudo em nome da obra. Coisa de AUTOR de verdade, qualidade que fugiu de quase todos os nossos criadores de cultura. Mas eu vi pouco, admito.. entendi menos ainda.


Livros e Livros

Ano de "estudo técnico" acaba comprometendo leituras mais sérias, hehe. Mas mandei bem. Pelo menos tirei atraso dos clássicos ("O Velho e o Mar", "Coração das Trevas" e "100 Anos de Solidão"). Valem todos. Valem 100 anos de leitura. (E eu me lembro, Cacá e Tio Paulo, que o próximo passo é o Guimarães...).

Mais pop é "Reconhecimento de Padrões", que propagandeei em todos os blogs e bares possíveis. Literatura antenada e visionária, é o melhor livro do William Gibson. Ponto.

Mas sigo mergulhado no tijolaço (literal e literalmente) "Criatividade e Grupos Criativos" do mestre Domenico de Masi. A história do mundo contada de um prisma: a Criatividade. Poderia ser o único, hehe. E, como disse no boteco do Claré, para desespero dos tucanos presentes: se o FHC tivesse escrito 1 única página deste livro (e não mandasse a gente esquecê-la) ele teria meu voto, hehehe... Explico: Domenico é sociológo tbém. Tbém?


Outros Meios

Tem um site que visitei durante todo o ano, só pelo prazer. Não li nada. Não tinha notícias, piadas, histórias.. nada. Só um conjunto único de imagens. Fotos que, não sei pq, causam sensações estranhas.. até saudades de coisas e lugares que não conheço. É de Bob Trancho o lindo "Limited Exposure".

E o BlueNoir mereceu algumas participações bem legais. A mais fiel e bem escrita (hehehe) é do mano caçula Guz. Eu tinha que escolher um texto pra deixar aqui de exemplo. Escolhi o menos Guz e o mais BlueNoir de todos: "Companhia".

Pintaram por aqui tbém Cazuza e Renato Russo, num bate papo remixado pra lá de ultrajante. Mas não mais que a presença de Ariela Mazé, aquela que matou o Benjamin. Vergonha (e modéstia) de banda, talvez tenha sido um dos meus mais inspirados momentos. Sem a raiva que costuma inspirar outros momentos.


2006

"Mais perto de mim, tão longe de tudo".. é d'uma música do Barão.

Mudei meu eco-sistema, minha vista e alguns planos.
Me aproximei de meus próximos deixando alguns amigos distantes ainda mais distantes.
Foi em Sampa que ouvi que "raiz de mineiro" ninguém corta. É verdade.
E estiquei demais alguns galhos buscando um sol que nem é de verdade.
Temi a poda. E a queda.
Hoje meus medos são outros. Quase insignificantes..
..se confrontados com a nova Vista e os novos Planos.
Que venha 2006!

20 dezembro 2005

Psychadelic Mash-Up

Quem não acompanha muito o Graffiti ou afins (ITech-related-coisas) não deve sacar muito nossa última onda: Mash-ups! Web 2.0 ou Bubble 2.0 são outros termos, pejorativos ou não, que nomeiam nossa última nova moda. Seguinte: Interatividade( + rica) + Reutilização (de serviços já existentes). Eu poderia, por exemplo, misturar Flickr, GTalk, Google para criar uma aplicação (um site) totalmente novo, vertical, específico. Muita coisa legal tem aparecido. Aqui tem uma listinha bem completa dos brinquedinhos. Sugiro a visão "Matrix", pra vc ter uma idéia do tamanho da salada que andam aprontando.



Rola de tudo. Mas uma das mais divertidas é a miXtura Psychadelic Rock. Feita em Flash e usa a base de dados (e receita$) da Amazon. E eu queria saber como o cara fez a montagem. Será q o maluco fotografou aquele tanto de CD juntos?

15 dezembro 2005

Scratch #050


Solsbury Hill
Climbing up on solsbury hill
I could see the city light
Wind was blowing, time stood still
Eagle flew out of the night
He was something to observe

Came in close, I heard a voice

Standing stretching every nerve
I had to listen had no choice
I did not believe the information
Just had to trust imagination

My heart was going boom boom, boom
Son, he said, grab your things,
I’ve come to take you home.


To keeping silence I resigned
My friends would think I was a nut

Turning water into wine

Open doors would soon be shut

So I went from day to day
Tho’ my life was in a rut

’till I thought of what I’d say
Which connection I should cut
I was feeling part of the scenery

I walked right out of the machinery

My heart was going boom boom boom

Hey, he said, grab your things,
I’ve come to take you home.

Yeah back home

When illusion spin her net
I’m never where I want to be

And liberty she pirouette
When I think that I am free

Watched by empty silhouettes

Who close their eyes, but still can see
No one taught them etiquette
I will show another me
Today I don’t need a replacement
I’ll tell them what the smile on my face meant
My heart was going boom boom boom
Hey, I said, you can keep my things,
They’ve come to take me home.


Lyrics by Peter Gabriel
Image by PV ("Mantiqueira Hills")

Scratch motivado por
coincidências.


08 dezembro 2005

Fazenda :: Geraes


Bm7 Gm7
Água de beber

Bm7 Gm7
Bica no quintal

Bm7 Gm7 F#m7
Sede de viver tudo

Bm7 Gm7
E o esquecer

Bm7 Gm7
Era tão normal que o tempo parava

(A7M D/A)
E a meninada respirava o vento

C#m7 F#4/7 C#m7 F#4/7
Até vir a noite e os velhos falavam coisas dessa vida

Bm7 D7M Bm7 C#m7 Bm7 Gm7 F#m7
Eu era criança, hoje é você, e no amanhã, nós

Bm7 Gm7
Água de beber

Bm7 Gm7
Bica no quintal, sede de viver tudo

Bm7 Gm7 F#m7

Bm7 Gm7
E o esquecer

Bm7 Gm7
Era tão normal que o tempo parava


(A7M D/A)
Tinha sabiá, tinha laranjeira, tinha manga rosa

C#m7 F#4/7
Tinha o sol da manhã

C#m7 F#4/7 Bm7 D7M Bm7 C#m7
E na despedida tios na varanda, jipe na estrada

Bm7 Gm7 F#m7

05 dezembro 2005

Como dizia Sócrates...

Por Guz Vasconcellos


Ainda que eu dissesse toda a verdade, na língua mais correta, e ainda a provasse com atestados, certidões e fotografias – carimbos do cartório! – escrevesse laudas no texto mais bacana, se não fosse útil, de nada serviria.

Ainda que eu soubesse algumas verdades – universais ou banais – sobre o passado e o futuro, sobre você, o seu cabelo e o do presidente, sobre Deus ou diabo, e tivesse a oportunidade de publicar no jornal mais lido, se não fosse útil, de nada, nada serviria.

Eu bem podia ter fontes exclusivas sobre os bastidores da criação do mundo, da construção da ponte, do desalinhamento do horizonte, e aqueles segredinhos do seu pai, mas, se não fosse útil, ai, meu Deus, de nada serviria eu dizer.

Eu até podia ter descoberto a cura da mentira, da covardia ou da coragem, entender a regra do beisebol, da política ou do processo seletivo pra ingressar no Céu. Conhecer os fundamentos da mitologia, da bruxaria, da putaria – você até riria! - mas se não fosse útil ao menos pra um pessoazinha só, seria bem melhor eu ficar quieto.

É, eu bem queria que você, sua mãe, sua vizinha ou um desconhecido qualquer lessem este texto e aprendessem que só ser verdade não basta. Que é preciso ser útil, construtiva, transformadora qualquer palavra que saia da nossa boca. E que esse conhecimento faria o mundo um lugar muito mais silencioso e tranqüilo. Mas se você não entendeu o que está lendo agora, eu sinto muito lhe dizer: acabou de perder o seu tempo.

01 dezembro 2005

PJam - Wish[set]List #6


Elderly Woman Behind The Counter In A Small Town

i changed by not changing at all, small town predicts my fate
perhaps that's what no one wants to see
i just want to scream...hello...
my god its been so long, never dreamed you'd return
but now here you are, and here i am
hearts and thoughts they fade...away...
hearts and thoughts they fade...away...



Poem by Pearl Jam
Art by LimitedExposure
Mix by PV


30 novembro 2005

PJam - Wish[set]List #5


Crazy Mary

That what you fear the most, could meet you halfway
Take a bottle, drink it down, pass it around


Poem by Pearl Jam
Art by LimitedExposure
Mix by PV


29 novembro 2005

PJam - Wish[set]List #4


Black

All the pictures have all been washed in black, tattooed everything...
All the love gone bad turned my world to black
Tattooed all I see, all that I am, all I'll ever be...
I know someday you'll have a beautiful life, I know you'll be a star
In somebody else's sky, but why
Why, why can't it be, why can't it be mine


Poem by Pearl Jam
Art by LimitedExposure
Mix by PV


28 novembro 2005

PJam - Wish[set]List #3


Footsteps

...
don't even think about getting inside. Voices in my head. Ooh, voices.
I got scratches all over my arms. One for each day since I fell apart.

I did, oh, what I had to do. If there was a reason it was you.

Footsteps in the hall... It was you, you.
Oh, pictures on my chest... It was you. It was you...


Poem by Pearl Jam
Art by LimitedExposure
Mix by PV

27 novembro 2005

PJam - Wish[set]List #2


RearViewMirror

once you, were in my...
rearview mirror...
i gather speed from you fucking with me
once and for all i'm far away
i hardly believe, finally the shades...are raised...
saw things so much clearer
once you, once you...
rearviewmirror...




Poem by Pearl Jam
Art by LimitedExposure
Mix by PV



26 novembro 2005

PJam - Wish[set]List #1


Indifference

i will light the match this mornin', so i won't be alone
watch as she lies silent, for soon light will be gone
i will stand arms outstretched, pretend i'm free to roam
i will make my way, through, one more day in hell...
how much difference does it make
how much difference does it make...
i will hold the candle till it burns up my arm
i'll keep takin' punches until their will grows tired
i will stare the sun down until my eyes go blind
hey i won't change direction, and i won't change my mind
how much difference does it make
how much difference does it make..
how much difference...
i'll swallow poison, until i grow immune
i will scream my lungs out till it fills this room
how much difference
how much difference
how much difference does it make
how much difference does it make...




Poem by Pearl Jam
Art by LimitedExposure
Mix by PV

24 novembro 2005

Miquelina



Desconheço um lugar que inspire tantos adjetivos quanto Sampa. Ainda não conheço outra cidade que provoque sentimentos tão antagônicos. Sampa é hotel e prisão; porto e destino; esperança e desespero; grana e fome. Sampa é imensa mas parece caber na esquina da Ipiranga com a São João. Sampa é plural e poliglota, mas parece se expressar num esperanto que é só seu. Com um sotaque que só existe aqui. Sampa é policromática mas, vira e mexe, é reportada como uma grande massa cinzenta. Ontem, num papo rápido com a arquiteta Cíntia Ito, arrisquei dizer que a falta de personalidade da arquitetura de Sampa é o que a torna única. Sampa é o caos que contradiz todas as teorias e que, no fim do dia, parece ter funcionado. Sampa funciona na sua mítica pressa, contestada pela média de 22km/h em seu trânsito.
Sampa funciona.


Há 8 anos sou hóspede em Sampa. A relação de amor e ódio vira rotina logo nos primeiros dias. Rotina e paixão não combinam? Você não conhece Sampa...

E não teve a sorte de conhecer os apaixonados incondicionais. Gente de extremos, ideológicos e pouco-lógicos, não importa. O comuna que vende bichanos de pelúcia para a classe média que frequenta os botecos da Paulista. Ou o empresário que se arma com os mesmos bichanos e algumas flores para conquistar uma nova paixão na Augusta. Entre os pólos, entre porquinhos (palmeirenses) e maloqueiros-sofredores (corintianos), um indecifrável mínimo denominador comum: Sampa.

O cronista-cambeta deveria estar elaborando (sic) algo mais importante. Mas há 2 dias ensaia um convite diferente. Inspiração não pede espaço em agenda, certo? hehe

Seguinte: há pouco tive a chance de conhecer uma dessas figuras que escrevem, ativamente, algumas das infinitas e nada lineares histórias de Sampa. O Lorival, irmão de sangue corintiano mezzo-mineiro, cozinheiro de verdade e um perfeccionista doentio (elas dirão: virginiano, né?). Pois bem, o caro Lorival, em conjunto com outros amigos (que perdoarão o anonimato), acabou de lançar um portal do tempo. Um '13º andar' (só os letrados entenderão o enigma). Lorival acabou de compartilhar um sonho chamado Miquelina Bar e Arte.

Lorival perdoará a interpretação cambeta: Miquelina é um boteco-cultural. Ops.. é "O Boteco Cultural".. um sarau e um restaurante chique. Um canto (em seu sentido geográfico) aconchegante decorado com cantos cantados, retratos falados (o do Chet é animal!) e um gosto único. Gosto de quem tem opinião formada sobre Sampa, seus sabores e gostos, sons e rostos.

Hoje (qui, 24nov) espero compartilhar com alguns colegas o Miquelina. Estarei lá por volta das 20h30...

Não deu hoje, apareça outro dia. Acho que rola de domingo a domingo, começando com o "chá das 5". Fica na Rua Francisca Miquelina, 306. É na Bela Vista e o acesso mais fácil deve ser pela Brigadeiro Luis Antônio. Ali pertinho do Teatro Abril é (quase) só dobrar a esquerda, achar a Rua Santo Amaro e.. bom. O Apontador foi inventado pra isso mesmo, certo?



Considerações Finais:

  1. Não é jabá nem babação. Quem conhece o BlueNoir já viu posts parecidos falando de filmes, sons et cetera;
  2. É injusto citar só o Lorival. Assim como é impossível citar todos os envolvidos no projeto. Queria destacar aqui tb o trabalho da Vértices, que cuidou da programação visual, design, (degustação e curtição et cetera - né caros Mozart e Sandro?);
  3. E, lógico, agradecer ao varginhense Anderson e ao "Toca da Raposa", o único(?) boteco cruzeirense de Sampa, co-irmão do Miquelina. Não fossem eles eu não teria conhecido o Lorival.

18 novembro 2005

Penso Diferente

Por Luciano Pires

Vivemos recentemente uma experiência que pode nos ensinar muito sobre a convivência com pessoas de idéias antagônicas.Durante as semanas em que nos envolvemos no referendo do “sim” ou “não”, foi interessante ver o volume de informação que circulou pela Internet com argumentos pró e contra o desarmamento. Não me lembro de ter visto um assunto tão debatido. Foi tanta coisa circulando que perdi a credibilidade em qualquer dado que passei a receber. A Internet tem esse problema: aceita qualquer coisa. Textos com assinaturas falsas, resultados de pesquisas manipulados, dados inventados, são coisas normais. Mas o mais interessante foi a situação criada quando meu colega ali ao lado revelou-se defensor do “sim”, enquanto eu optara pelo “não”. As conversas invariavelmente giravam em torno do convencimento, de parte a parte, de que sua posição era a correta. E mais de uma vez a conversa virou discussão.

Que interessante. Temos quase a mesma idade. Somos da mesma classe social. Trabalhamos no mesmo ramo. Somos pais de adolescentes. Somos honestos e éticos. Não temos armas em casa. Mas ele era sim e eu era não. Essa diferença de opiniões fez com que ele mudasse? Tomar uma cerveja com ele ficou diferente? Trocar idéias não é mais como antes? Nada disso. Não mudamos um milímetro. Somos os mesmos. Mas a evolução dos
bate-bocas em torno do referendo rotulou os do “não” como “a turma do mal”. E “os do sim” como a “turma do bem”, naquela atitude maniqueísta tão característica do brasileiro.

Pois faltou pouco para que eu passasse a ser visto como um comedor de criancinhas, um indivíduo maléfico, pronto a agredir qualquer um que encostasse no meu carro. Indigno de ser convidado para uma cerveja...

Por outro lado, os do “sim” foram caracterizados como bobalhões, românticos inocentes úteis que mudariam de lado no primeiro ato de violência armada que sofressem.

Já escrevi a respeito da dificuldade que temos de separar a opinião do indivíduo, do indivíduo. Por pensar diferente passo a ser tratado como um extraterrestre, um demônio vivendo para sacanear as pessoas, apoiado em valores morais errados. Deixo de ser um igual...

Pois saiba que, guardando as proporções, é esse sentimento que faz aquele idiota da torcida organizada matar o torcedor do time adversário. Afinal, ele é diferente. Foi esse sentimento que exterminou judeus nos campos de concentração. O sentimento de que os iguais não são tão iguais. E começa assim: pensam diferente. São “esquisitos”. Uma ameaça. Talvez eu deva me proteger deles... Percebeu?

Idéias são os bens mais fantásticos para se compartilhar. Devemos ter - e defender com unhas e dentes a liberdade de ter - acesso a todas as idéias. Estudar, debater, comparar, criticar, adotar ou recusar idéias é mais que um direito. É uma necessidade. Mas que serve pra nada, se não respeitarmos quem tem idéias diferentes
das nossas.

13 novembro 2005

Warm Up - Pearl Jam, 02/dez - Pacaembu



O Globo - Edição do dia 10/11/2005 - Segundo Caderno

Política, rock e surfe nas malas de Eddie Vedder

Bernardo Araujo

Eddie Vedder pega um café e senta-se em um canto para telefonar para O GLOBO de sua casa em Seattle. O cantor do Pearl Jam virou a noite, dormiu algumas horas pela manhã — quando soube que seu amigo Kelly Slater havia faturado mais um título mundial de surfe, desta vez em Florianópolis — e não consegue tirar da cabeça... o próximo disco de sua banda. Não que não esteja feliz ou interessado nos países que vai visitar pela primeira vez, como o Brasil (a banda toca no Rio dia 4 de dezembro), mas o momento da criação está tomando todas as suas energias. Típico bom moço do rock, Vedder, de 40 anos, faz perguntas sobre o Brasil e ataca o governo Bush.

— Vou começar a pensar nos shows quando entrar no avião — confessa. — Não sei como será o repertório, isso depende de muitas coisas, não é? De como estaremos no dia, da situação do mundo, dos problemas de cada país... não tocaremos nada do CD novo, porque ele tem uma sonoridade diferente, deve ser ouvido todo de uma vez.

Quantos problemas, hein? Será que ele sabe alguma coisa sobre o Brasil?

— Mais ou menos — admite. — Andei pesquisando, mas ainda não li muito. Sei que Bush esteve por aí, não foi? E houve protestos. Tem um presidente de quem ele fala como se fosse o próprio diabo, é o seu?

Não, Eddie, os protestos mais fortes contra Bush foram na Argentina e seu inimigo é Hugo Chávez, da Venezuela.

— Isso, desculpe — diz. — Se Bush o demoniza, algo de bom ele deve ter feito.

Vedder e o Pearl Jam são o tipo de artistas que tem em seu site a seção “ativismo”.

— Fale-me sobre a situação política de seu país — pede, para depois escutar com atenção. — Sabe que acho que os EUA estão caminhando para isso, um lugar em que a riqueza está concentrada nas mãos de um número cada vez menor de pessoas? Você acha que esse escândalo tem a repercussão que merece ou o outro lado está forçando a barra, como no caso de Bill Clinton?

“É como ter uma fratura e não consertá-la”

Sua voz fica mais firme ao falar de Bush.

— É muito decepcionante ser cidadão americano atualmente — diz. — É como se você tivesse quebrado o quadril e, em vez de ir consertá-lo com uma cirurgia, acabasse se acostumando a andar torto, mancando, sentindo dor. Nossa vontade é andar para a frente, mas temos que neutralizar as forças que nos puxam para trás. Já começaram até a questionar a teoria da evolução das espécies. É como se dissessem que a Terra é plana.

O meio ambiente também é uma das preocupações do Pearl Jam.

— Jeff Ament, nosso baixista, colabora com uma fundação que mede os níveis de carbono no ar e elabora planos para as indústrias, mostrando-lhes maneiras de lucrar mais sem agredir tanto a natureza — diz. — Isso está começando a dar certo.

A amizade entre os músicos do grupo é um orgulho para Vedder.

— É um relacionamento de muitos anos, que só nos torna cada vez mais próximos — diz. — Conseguimos conversar sempre profundamente, sem jamais guardar mágoas. Acontecimentos como o festival de Roskilde ( na Dinamarca, quando oito pessoas morreram enquanto a banda se apresentava, em 2000 ) e o 11 de Setembro foram superados com as nossas união e amizade.

Já que quem tem amigos tem tudo, o Pearl Jam trará ao Brasil uma banda menos conhecida de sua geração, o Mudhoney.

— Estou muito feliz de poder viajar com eles — diz Vedder. — Sempre achei que eles mereciam mais sucesso do que nós.

Ele diz que a cena musical de Seattle ainda se parece com aquela que estourou em todo o mundo no início dos anos 90.

— Há muitas bandas e poucos lugares para se tocar — diz. — A maior parte do pessoal dos velhos tempos ainda está aqui, como Kim Thayil, do Soundgarden, e Kris Novoselic, do Nirvana, que mora em uma fazenda mas aparece de vez em quando.

Apesar da empolgação de viajar — “e, quem sabe, entrar na água e surfar” — ele admite que, principalmente depois de Roskilde, megashows não são sua praia.

— Não somos o tipo de artista que rende melhor em frente a dezenas de milhares de pessoas — diz. — Por isso preferimos as salas menores. É claro que, em lugares como o Brasil, temos que satisfazer os fãs que querem nos ver há tantos anos. Ouvi dizer que a procura por ingressos está boa, não é? Fico muito feliz. E não sei se merecemos.

Modesto, hein? Ele não consegue segurar uma risada quando questionado sobre a origem do nome Pearl Jam (“Geléia de pérola”), que viria de uma iguaria alucinógena que sua avó índia, Pearl, costumava preparar.

— É verdade! Tenho a receita. Fiz muita geléia aos 16 anos. Foi um bom ano.

08 novembro 2005

Scratch #049




"Ai, seu moço, eu só queria
P´ra minha filicidade
Um bão fandango por dia,
E um pala de qualidade.
Um facão fala verdade,
E u´a viola de harmonia
P´ra chorá minha sodade.
Um rancho na bêra d´água
Vara de anzó, pôca mágua,
Pinga boa e bão café...
Fumo forte de sobejo,
P´ra compretá meu desejo,
Cavalo bão - e muié..."


De Cornélio Pires
Surrupiado do Café Brasil

31 outubro 2005

B(t)H



Stephen Wirtz Gallery

Foto de Todd Hido. Excepcional.


ps: B(t)H = Belo (e Triste) Horizonte

25 outubro 2005

Lavoura Arcaica

E era Ana do meu lado.
Tão certo e tão necessário que assim fosse
Que eu fiquei pensando que muitas vezes, feito meninos,
haveríamos os dois de rir ruidosamente.
Espargindo a urina de um contra o corpo do outro.
E nos molhando como há pouco,
E trocando sempre, através das nossas línguas laboriosas,
A saliva de um com a saliva do outro;
Calando nossos rostos molhados pelos nossos olhos.
O rosto de um contra o rosto do outro.
E só pensando que nós éramos de terra e tudo que havia em nós só germinaria em um com a água que viesse do outro.
O suor de um pelo suor do outro.
(Raduan Nassar - "Lavoura Arcaica")





========================================

pv: Em breve falo mais sobre o filme.

24 outubro 2005

Scratch #048

ou, "A Camisa do Timão é mais perigosa que um treizoitão"



O papo rolou na tarde de ontem, domingão, logo após um saboroso "frango ao molho pardo" que só minha mãe sabe fazer. Pra evitar qq tipo de constrangimento, evitamos o assunto do dia: o "Não X Sim". Amenidades e futebol. Aí deixou de ser ameno. Mama e tio Kinka começaram a lamentar a violência no futebol. Sugeriram o término imediato do brasileirão. Tentaram descobrir uma forma de evitar que os 'fanáticos' fossem aos campos. Gastaram 5min tentando descobrir a razão de tanta irracionalidade.

O papo morreria ali, sem muitas conclusões, não fosse uma infeliz intervenção do bobinho aqui: "Segunda-feira da semana passada saí da nossa peladinha semanal vestindo, orgulhoso, a camiseta do Timão. Só quando estava perto de casa me lembrei do risco que corri".

Pronto! Minha mãe ficou assustada. Tio Kinka me repreendeu no ato: "Vc tá louco! Deixa a camiseta aqui (em Varginha). Não dá pra usar isso lá não..."

Ambos votaram no "Não"! Me deram a liberdade de possuir uma arma. Mas não tenho a liberdade de usar uma camiseta...

23 outubro 2005

Interferência

por L.F.Veríssimo

Agora é tarde, Inez é morta, provavelmente a tiros, mas o debate vai continuar depois do referendo. E como muita gente se queixou que o referendo foi confuso, sugiro que da próxima vez que consultarem a população sobre o assunto simplifiquem a pergunta, colocando-a em termos corriqueiros, de experiências pessoais como as que estão todos os dias nos jornais, e que qualquer um entenderá. Por exemplo: se você fosse a mãe de um rapaz morto com um tiro numa briga de torcidas, preferiria que fosse mais difícil alguém ter acesso a armas como a que matou seu filho ou que seu filho também tivesse acesso a uma arma para poder se defender? Não é uma pergunta sentimental ou injustamente armada para favorecer um lado, eu até tenho dúvidas sobre como as “mães” hipotéticas responderiam. Mas a questão é, ou era, simplificada, exatamente esta.


Os que pregaram o “Não” invocaram muito a interferência indevida do estado na vida e no direito de escolha dos cidadãos. Vale a pena recordar outras ocasiões em que foram ouvidas queixas parecidas, na história do Brasil. Na abolição da escravatura havia tantos argumentos fortes a favor como contra a medida e — como no caso do referendo das armas — muitos dos antiabolicionistas nem tinham escravos, defendiam a escravatura em nome do direito de quem tinha de não ser coagido pelo estado. Não foi uma resistência emocional, foi racional e bem articulada como muitos dos artigos que lemos recentemente na defesa do “Não”, e o resultado é que atrasou a nossa história. O Brasil foi o último país do mundo a acabar com a imoralidade do escravismo. Mas algumas defesas da liberdade de ter escravos foram brilhantes.

Outro exemplo: a revolta contra a vacinação antivaríola no Rio de Janeiro, que chegou, violentamente, às ruas, mas começou na imprensa, onde Oswaldo Cruz era denunciado como uma ameaça pública pior do que qualquer epidemia. Foi preciso recorrer às armas para enfrentar a revolta, e alguns setores do exército aderiram aos revoltosos. A população do Rio foi vacinada literalmente à força. Livrou-se da varíola sob repetidos protestos contra aquela suprema interferência — subcutânea! — do estado na vida dos cidadãos. Oswaldo Cruz perderia um hipotético referendo popular sobre a vacina, na época, de zero.

O Brasil perdeu a oportunidade de dar um bom exemplo ao mundo na questão das armas. Mas estou escrevendo sem saber qual foi o resultado do referendo. Pode ter dado o “Sim”. Neste caso, se você leu até aqui, desleia.


==============

pv: Infelizmente uma turma do 'não' utilizou indevidamente o nome do Veríssimo. Assim como 'inventaram' um texto do Dallari. Mas a manobra mais ridícula foi uma elaboradíssima teoria da conspiração: a Globo estaria montando, com a fábrica de armas Glock, uma mega-empresa de segurança privada...

Blz. Seguimos sem entender coisas como Estado e Liberdade*.

==============

* Eu tinha 8 anos. A professora, magra e muito alta, chamava-se Ângela. Nos encontrava só uma vez por semana: era aula de educação artística. Acho que não guardei nada sobre combinação de cores ou qq outra coisa 'artística'. Mas não vou me esquecer nunca d'uma frase dela (usada para nos dar um 'puxão de orelha'):

"Sua liberdade termina onde começa a do outro".

20 outubro 2005

Dicas Aleatórias de Leitura



Há outros igualmente úteis, como:

How to Make your Grandmother a Porn Star
How to Get Your Brother Kicked Out of the House
Do-It-Yourself Liposuction
Laser Eye Surgery at Home
How to Murder a Complete Stranger and Get Away With It
How to Overcome Nymphomania

Pena q, por enquanto, só existem as capas... no FlapArt.

13 outubro 2005

Scratch #047



"One minute of reconciliation is worth more than a whole life of friendship."
- Ursula (Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Marquéz)

06 outubro 2005

Scratch #046



Eve: I'm a big girl.
Roger: Yeah, and in all the right places too. [They share a lingering kiss.]
Eve: You know, this is ridiculous, you know that don't you?
Roger: Yesss.
Eve: I mean, we've hardly met.
Roger: That's right.
Eve: How do I know you aren't a murderer?
Roger: You don't.
Eve: Maybe you're planning to murder me right here tonight?
Roger: Shall I?
Eve: Please do. [Another long kiss.]
Roger: Beats flying, doesn't it?
Eve: We should stop.
Roger: Immediately.
Eve: I want to know more about you.
Roger: What more could you know?
Eve: You're an advertising man, that's all I know.
Roger: That's right. [They shift positions.] The train's a little unsteady.
Eve: Who isn't?
Roger: What else do you know?
Eve: You've got taste in clothes, taste in food...
Roger: ...and taste in women. I like your flavor.
Eve: You're very clever with words. You can probably make them do anything for you. Sell people things they don't need. Make women who don't know you fall in love with you.
Roger: I'm beginning to think I'm underpaid.

===============

Só 1 dos diversos fantásticos diálogos de "North by Northwest" (Intriga Internacional), com Cary Grant e Eva Marie Saint. Precisa dizer que é do Hitch?

03 outubro 2005

Bang-Bang

Pois é, o BlueNoir anda ficando muito "político" (no péssimo sentido) ultimamente. Empurrado pro tema por desilusões e/ou questões absurdas. A última tá estampada na capa da Veja desta semana: "7 razões para votar Não". Tá falando do desarmamento. Com a isenção que lhe é peculiar.

Por exemplo: uma das razões é que o desarmamento foi imposto também por Hitler. Pode? Quando for conveniente eles vão lembrar que o Hitler também tentou acabar com os cigarros.. e acabou com quase todos os livros que existiam na Alemanha. So? A revista mostra a outra ponta (da régua política) falando que o Stédile (MST) também vai adorar o desarmamento. Pra assustar o leitor médio da revista só faltou dizer que haverá uma explosão de violência tão logo o desarmamento entre em vigor.. hã? ops.. ah, eles falaram isso tbém..

Eu detesto PROIBIÇÕES. De qq natureza e origem. Passo mal, mal mesmo. Seja em família, na escola (as piores proibições são inventadas nas escolas), nas empresas (as proibições mais estúpidas são implantadas nas empresas). Mas..

Leis e proibições foram inventadas para garantir que uma sociedade se tolere. Se respeite. Quanto maior o número de leis e proibições, podes crer, maior a nossa burrice. Maior nossa incapacidade de convívio. Nossas desigualdades..

Conheço gente que poderia muito bem andar a mais de 120km/h nas estradas (de SP, pq em MG a proibição é a péssima qualidade das estradas). Gente bem treinada e responsável. Só por isso devemos liberar que TODO MUNDO ande a mais de 120km/h? Tenho dois amigos (AMIGOS de verdade) que adoram armas. Há tempos. Um é piloto de Boeings (desnecessário dizer que é louco mesmo) e o outro trabalha no aeroporto controlando vôos (ou seja, um louco que tenta administrar o trampo dos loucos que voam). Ninguém duvida de sua responsabilidade. De sua CAPACIDADE em ter e manter uma arma. Em casa ou na roça, não importa. Isso significa que devemos liberar para TODO MUNDO?

[Eu sei, eu sei. Não é TODO MUNDO. Mas é quase isso, certo?]

A revistinha citada ali em cima reclama da pergunta que nos será apresentada no próximo dia 23/out: "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?". Ela acha que deveria ser assim: "O Estado brasileiro tem direito de proibí-lo de se defender?". Blz né? Vou sugerir uma também:

"Todo brasileiro tem maturidade, preparo e inteligência suficiente para portar uma arma?"

Se vc duvidar de UM. Se este UM significar o risco de morte de outro UM brasileiro, como vc votaria?

================

Dicas culturais: Não, nada a ver com a novela que estréia hoje. São dois filmes que mostram um pouquinho do que é o tal "comércio legal de armas" e sua desastrosa associação com pessoas "mal preparadas":

Tiros em Columbine, de Michal Moore; e
Elefante, de Gus Van Sant.

No mínimo servem de contra-ponto para a revistinha que paga o salarinho do Diogo Mainardi. E que deve estar planejando uma nova edição da NOVA ou da Cláudia. Coisa mais ou menos assim:

29 setembro 2005

Referências & Referências

Brunão acabou de completar 7 anos. Sobrinho e afilhado, assusta quando mostra (sincero) uma série de afinidades: cinema, rock, a magreza, a canhota, a raiva e a birra. Ah, e a total ausência de chatice quando o assunto é comida. Sei que ele é meu fã. Acho que ele sabe que sou fã dele.



Há um tempo, passeando em Vga, trocando informações em ritmo 'suspeito', ele pára, olha pra cima e lasca:

- Nando, como vc sabe de tudo?

Com certeza a engolida seca, a gaguejada e a falta de jeito foram suficientes para mostrar pro Bruno o quanto ele estava errado. "Sei de nada não"...

Mas vira e mexe alguém comenta minhas referências "circulares y cíclicas" e elogia minha memória. Não os decepciono como um dia decepcionei o Brunão. E ensaio contar uns segredinhos sem parecer chato nem 'mascarado'. Desnecessário dizer que não "cola", né? Quem sabe confessando-os aqui...

Da memória não sei segredo nenhum. Bebo muito café e queimo muito Marlboro.. se um estimula o outro 'consome' neurônios.. então.. Mas lembro umas coisas absurdas. Datas, diretores, eventos, atrizes, posições (do tipo q vc pensou mesmo) e alterações, revoltas e reviravoltas, escalações e gols, golos e rolos. "Sei d'onde vem não"...

Mas sobre referências é fácil. Tecnicamente a gente poderia dizer que existem alguns 'patterns'.. padrões. Tipo: se vc não gosta de ler o q vc tá fazendo aqui? Xô!



Ops.. vc lê. Qq coisa? Melhor ainda. Jornal? Faz bem, nem q seja só aos domingos (pra rever tudo q vc viu na web durante a semana). Um livro? Dois por ano? Já tentou 6 por ano? E 12? Tempo? Experimenta desligar a televisão 1h por dia pra vc ver como consegue. E algo diretamente relacionado com sua área? Vc lê por obrigação ou prazer? Se ficou com a 1ª opção só tenho uma certeza: vc tá na área errada.. hehe

Vai vc! É a tua!!

Mas pq uma coleção de referências faria tanta diferença?

De repente me coloquei sem querer nesta sinuca de bico. Pq? Sinceramente?
Acho que é pq a vida é muito curta. Então, através de livros, jornais, revistas, filmes e sons, vivo um pouco a vida de quem os criou. Dá a sensação de que enganamos nossa vida, nosso relógio biológico, vivendo um cadinho mais.
[update: na 1ª leitura - soou piegas... mas não deleto não - foi sincero]

Mas não teria graça nenhuma se eu não pudesse compartilhá-las de alguma forma (digo, as tais referências). Daí a razão pra existência do BlueNoir e outros. [Lembra aquele papo de que não teria graça nenhuma traçar a, digamos, Angelina Jolie, se a gente não pudesse contar pra ninguém].

====================

Q melda! Esse papo todo só pra falar que criei duas novas seções no cantinho direito do blog, logo abaixo dos links. "Na Cabeceira e no Player" pra mostrar o que estou lendo e ouvindo. "A Fila" pra mostrar o que deve vir na sequência...

É que ando preguiçoso.. e com muito trampo. Queria poder comentar todas as dicas. Como não consigo mais (e meus colaboradores são uns bundas-moles), vale o mínimo: links para referências e críticas legais. Uma vez por mês eu dou um tapa e atualizo as listas.

====================

Sacanagem.. esqueci o Brunão lá em cima e terminei o papo sem ele.

Box Mag

Na verdade é o tipo de dica que se encaixa melhor no 'PinUps', que anda bem abandonado...



A Box Mag é uma revista soft-porn. Cool, nada agressiva. A 1ª edição tá disponível para download em versão PDF. Curta. Mas abra com cuidado!

20 setembro 2005

Tropeçando

Vc não usa o Firefox? Então não sabe o que está perdendo.



Tô lá desde maio. Uso menos do que queria (ôpa - vc acha que tenho tanto tempo livre assim?). Mas se trata de um site de 'redes de contatos' com uma proposta muito diferente de orkuts, linkedins e afin$.

Scratch #045

O inverno que se vai foi o mais quente de todos os tempos. 2° acima da média histórica. Os furacões estão com o dobro da força que tinham há 35 anos. Não é de hoje que a natureza envia alertas. Sem querer parecer alarmista ou eco-chato (o que não sou, definitivamente): temo que os alarmes estejam mais frequentes e barulhentos. Em 89 o Marillion, então com o novo vocalista H., lançou o "Seasons End". Nossa única sorte é o sonzão não ter virado hino do Greenpeace. Só!

Seasons End

(Helmer/Hogarth/Kelly/Mosley/Rothery/Trewavas)

Getting close to seasons end
I heard somebody say
That it might never snow again
In England
Snow flakes in a new-born fist
Sledging on a hill
Are these things we'll never see
In England

We'll tell our children's children why
We grew so tall and reached so high
We left our footprints in the earth
And punched a hole right through the sky

We'll tell them how we changed the world
And how we tamed the sea
And seasons they will never know
In England

So watch the old world melt away
A loss regrets could never mend
You never miss it till it's gone
So say goodbye, say goodbye

We'll tell our children's children why
We grew so tall and reached so high
You never miss it till it's gone
So say goodbye, say goodbye
To seasons end


12 setembro 2005

365 Tomorrows

Tem gente que fala que a Internet é um monte de lixo. Sem medo de errar chuto que todo o conteúdo disponível na web é dividido mais ou menos assim:

30% - Pornografia e correlatos (entretenimento)
30% - Notícias - noticiosos e bullshiteiros
30% - $Money$ - e-QQCoisa e-verywhere
10% - Sub-cultura da melhor qualidade (hehe)

Encaixam-se na última categoria todos os links que Indico aí do lado. Não são substitutos para livros, filmes, HQs, games, CDs e correlatos. Vejo-os como complementos. Como um tipo de conteúdo que só faz sentido (e só existe) na Internet. Taí a triste crise existencial do BlueNoir, por exemplo... hehe



Outro carinha que acabou de merecer um espacinho ali na seção de referências é o 365tomorrows. Um projeto que começou no último dia 01/Agosto e dura até 31/Julho do próximo ano. Para cada dia um pequeno conto sci-fi, falando de amanhã (derivando de hoje) - ou seria falando de hoje (provocando amanhãs)? Saca só um trechinho do post "The Nine Billion Names of God":

“You know what Google is?”

“Yes,” I said. I was running low on patience.

“No, I mean, do you really know? More than just the site?”

Reluctantly, I shook my head.

“You ever meet anyone who worked for them?”

“Don’t think so.”

“You haven’t. Nobody works for them anymore.”

I shrugged, and took the man’s empty pint. I didn’t offer to refill it.

“They’re self-contained. It’s all automated, in there. It’s underground.”

I nudged the basket of pretzels in his direction. “Why don’t you eat something?” I suggested. He shook his head with so much force that I thought he might knock himself off of the stool.

“Listen. Hear me out. You know how Google works,” he said, but didn’t want for a response. “They cache things, right? Like they send out these spiders and take pictures of everything on the web, so when you’re searching, you’re not even searching the internet.”

I’ve heard that before, but it never made much of a difference to me. “Same thing, though,” I said.

“You ever wonder why Google doesn’t cache it’s own searches?”



Philip K.Dick, um dos melhores contistas sci-fi de todos os tempos, ralou muito para publicar seus livros. Quando o sucesso apareceu no fim do túnel ele já tava nas últimas. Os K.Di(u)cks de hoje aparecem na web. Podem falar para milhões sem gastar um tostão. E sem ganhar também. E daí?

07 setembro 2005

Scratch #044

Inútil!

[Ultraje a Rigor]


A gente não sabemos escolher presidente
A gente não sabemos tomar conta da gente
A gente não sabemos nem escovar os dente
Tem gringo pensando que nóis é indigente

A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!

A gente faz carro e não sabe guiar
A gente faz trilho e não tem trem prá botar
A gente faz filho e não consegue criar
A gente pede grana e não consegue pagar

Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!

A gente faz música e não consegue tocar
A gente escreve livro e não consegue publicar
A gente escreve peça e não consegue encenar
A gente joga bola e não consegue ganhar

Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!

04 setembro 2005

Stateless

I got no home in this world
Just gravity, luck, and time
I've got no home in this world
Just you, and you are not mine

Stateless
Fateless
Stateless
(shut you cold)

There are no colours in your eyes
There's no sunshine in your sky
There's no race, only the prize
There is no tomorrow, only tonight

Stateless
Oh... what's the difference?
You can cover the world with your thumb
Still so big, so bright, so beautiful

Weightless
Stateless

Push down on me
Push, down on me
(Push)

Awake now
A weight, get down on me
Your weight... down...
Bring your weight on, down on me
Be the heavy hand, the mortal sand
Be the weight, heart, get down on me

Stateless
Weightless




==================

O som aí é do U2, da trilha de "Million Dollar Hotel". Tem algo a ver com o que quero falar. E o mesmo nome: Stateless... sem estado.

Nossa crise 'política' anda me fazendo pensar idéias diferentes. E assimilar as coisas de uma forma bem diferente tbém. Semana passada revi '21 Gramas' na cola imediata de 'Amores Brutos' (Amores Perros), seu irmão mais velho*. Não há estado ali. Só algumas vidas que se cruzam, se modificam e tentam desesperadamente se reconstruir. São fábulas sobre a destruição de vidas. E, parafraseando (sacaneando) o mais injustiçado album do R.E.M., os 2 filmes são uma destruição de fábulas. Justiça, Vingança, Ajuda, Socorro... Tudo ocorre como se aquelas vidas fossem totalmente autônomas. Não há estado. Não há mercado tbém.

E o idiota aqui reclamava de sua orfandade ideológica poucos dias antes duma tsunami previsível (ao contrário daquela que atingiu a ásia há 9 meses) arrasar New Orleans e várias outras cidades paupérrimas do sul/sudeste estadunidense. Aquilo ali é ser órfão de verdade. Cadê o estado? Cadê Ajuda, Socorro... Respeito?

Não sei se foi coincidência, mas o Telecine programou "Efeito Dominó" poucos dias depois do fim da terra do Blues. Não conhecia o filme que tem Kyle McLahalan e Elizabeth Shue nos papéis principais. Há um blecaute (lembra um cado um livro do Marcelo Rubens Paiva). Ninguém explica o que aconteceu. Não há um mísero meio de comunicação funcionando. As pessoas tentam se salvar. Cada um por si. Elevam-se os preços de tudo. Vendem-se mais armas. Acontece de tudo. Sem a mínima presença do tal estado.

Tento lembrar agora (Dom, 12h40 - não é hora disso né?) as últimas vezes em que o tal estado foi relevante. Invadindo o Iraque? Caçando Bin Laden? Entregando nossas 'estatais' de mão-beijada? Dizimando inimigos políticos? Fabricando bombas? Eliminando raças?

Tudo que o Bush fez até agora foi 'guerra', além de reduzir impostos dos ricos. E foi reeleito!?!? Tudo que o PT fez até agora foi tentar montar um esquema de prorrogação ilimitada de seu poder. Se olharmos Berlusconi (Itália), Blair (Grã-Bretanha) e todos os outros perceberemos o mesmo vazio. Vazio de sentido.

Se, no final das contas, é cada um por si e o estado contra todos, pq será q votamos mesmo?


===========

* Há mais de ano devo um post para falar especificamente de '21 Gramas' e seu irmão mais velho, 'Amores Brutos', que é do mesmo diretor mexicano Alejandro González Iñárritu. Sigo sem palavras. Só com a percepção mal documentada acima.

Pintura "Stateless" de Teresa Moore.

02 setembro 2005

Scratch #043

Chatterton

Seu Jorge

Chatterton, suicidou
Kurt Cobain, suicidou
Vargas, suicidou
Nietzsche, enloqueceu
E eu, não vou nada bem



Chatterton, suicidou
Cléopatra, suicidou
Isocrates, suicidou
Goya, enloqueceu
E eu, não vou nada nada bem

Chatterton, suicidou
Marc-Antoine, suicidou
Van Gogh, suicidou
Schumann, enloqueceu
E eu - puta que pariu!! - não vou nada bem...



============

ps do pv: Comigo é só uma gripe fdp mesmo!

btw: o som aí é do último disco do cara, "Cru". Muito bom.

30 agosto 2005

Scratch #042


"Velha roupa colorida"
Belchior

Você não sente e não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer.

Nunca mais seu pai falou: "- she's living home
E meteu o pé na estrada like a rolling stone..."
Nunca mais você convidou sua menina
Para correr no seu carro... (loucura, chiclete e som)
Nunca mais você saiu à rua em grupo reunido
O dedo em "v", cabelo ao vento
Amor e flor, que é de cartaz
No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais.

Você não sente e não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer

Como Poe, poeta louco americano
Eu pergunto ao passarinho: "blackbird o que se faz?"
E raven never raven never raven
Blackbird me responde: " tudo já ficou pra trás"
E raven never raven never raven
Assum preto me responde: "o passado nunca mais"

26 agosto 2005

História

O Towerson é foda! Aparece ali no canto esquerdo como 'colaborador' mas não publica nada aqui no BlueNoir. Aí, com medo da cobrança, desaparece das happy-hours... Aí, como quem não quer nada, manda um e-mail pra puxar papo. Saca só:


Fala, mano !!!

Desculpa o furo (na verdade, a total falta de comunicação) de ontem.

Um amigo, dono de uma agência de publicidade, me passou o seguinte link:

www.agencynet.com

É ou não é uma versão "horizontal" da primeira idéia de interface para o BlueNoir que tivemos lá no München, em 2000 ? Olha só como nós somos visionários. hehehehe...

===========

2000... eu tenho que achar o 1º rascunho do BlueNoir... um jornalzinho nunca lançado em Varginha. circa 1990!!

Mas, falando da interface ali. Bem legal, mas a nossa era mais Inteligente!
E seria um Boteco e não um escritório, né? Agora acho mais fácil eu abrir um boteco 'BlueNoir' do que a gente implementar a metáfora aqui no blog, hehe...

25 agosto 2005

Companhia

por Guz Vasconcellos



Era segunda-feira outra vez. Isso já havia acontecido
diversas vezes naquele ano. O mundo dá muitas voltas.
Ele sabia. E já estava cansado de ser retardatário na
corrida da vida. Onze e meia da manhã. A cidade
inteira já estava funcionando a todo vapor. Parecia
que só ele não fazia parte daquela engrenagem.

O vazio e o silêncio do quarto em contraste com os
ônibus e carros e vozes lá fora aumentava ainda mais o
sentimento de solidão. Por um momento ele sentiu medo.
Depois veio a raiva, a angústia... e a fome. Não havia
comido nada na noite anterior. No frigobar, desligado,
só um vidro de azeitona. Pelo menos ajudava a pressão
não baixar. Foi quando ele escutou a campainha tocar.
O aluguel do quartinho estava há seis meses atrasado,
mas desta vez não era cobrança. Pelo olho mágico ele
pôde ver as costas e o cabelo dela. Ela sempre
aparecia nos dias de mais solidão.

– Você está fedendo! – ela disse já abrindo a
geladeirinha. – Não tem nada pra comer aqui?! E essa
bagunça? Não faz nada o dia inteiro, devia pelo menos
deixar essa espelunca arrumada...

E ele só ouvia, acompanhando os movimentos dela com os
olhos. Era linda.

– O quinto dos inferno deve cheirar melhor que este
teu banheiro! Desde quando você não dá uma descarga?
Já sei. Mais ou menos desde quando não acerta o mijo
dentro da privada...

E ele só olhando. Quando ela estava lá o quarto
parecia menor. Ela não parava de falar. Eles se
conheceram quando ele foi despedido do jornal. Naquela
noite, voltou para casa e encheu a cara de vodka.
Quando acordou, ela estava lá. Falando. Depois disso,
passou a ser uma visita cada vez mais freqüente.

Ele não tinha muitos amigos. Sequer conversava
informalmente com alguém. Na redação, nunca entregava
os textos em tempo. Estava sempre um passo atrás dos
outros. Com o passar dos dias, três, quatro passos
atrás. Não teve como não ser mandado embora. Era um
escritor, não um jornalista.

Depois disso ainda fez alguns bicos por aí. Seu texto
tinha estilo. Só lhe faltava cabeça. Então começou a
faltar dinheiro, feijão e sobriedade, até ficar do
jeito que estava.

– Que rabiscos são estes aqui? – a moça mexia nos
papéis sobre a escrivaninha – “Era segunda-feira outra
vez. Isso já havia acontecido diversas vezes naquele
ano...” Que porcaria é essa? Tentando escrever de
novo? Já te disse para largar mão disso. Tem é que
arrumar um serviço ou ainda vai morrer de fome...

– Não fuça nas minhas coisas! – finalmente ele disse
alguma coisa. E ela continuou:

– Você precisa crescer, rapaz. Sair desse teu
mundinho. Ninguém ganha a vida brincando com
palavras... – ela falava sem parar. Nem parava de
andar. E ele já cansado de acompanhar os passos e a
voz dela.

– Por que você vem aqui? – ele perguntou tentando
interrompê-la. Sem sucesso.

– ... sabe, acho que você devia tomar uma atitude. Sei
lá. Dar um upgrade na sua vida...

– O que vem fazer aqui?! – tentou novamente. E ela
ignorando. Todas as vezes que ela aparecia, ele
perguntava e nada.

– ... quem sabe sair pelo mundo, viajar só você e sua
mochila...

– QUE MERDA VOCÊ VEM FAZER AQUI?! – Ele já estava aos
berros e ela nem aí. Continuando seu discurso. Como
sempre. Ela vinha, enchia o saco, nem o escutava, mas
quando ia embora ele não via a hora dela voltar.

Ali, enquanto ele gritava, ela falava. Ninguém se
ouvia. E, lá fora, a Bernadete, vizinha do lado,
comentava com a amiga que o moço do 201 – o da porta
que não mais abria - estava gritando sozinho de novo.
Coitado.

22 agosto 2005

BlueNoir - Lyrics

Antes de mais nada: não é culpa minha. Achei aqui um som chamado BlueNoir. Não ia perder a deixa, né? Saca só:

B L U E N O I R

Awhile ago I was so sure I'll never know
How could I feel something or somehow
Now I dont know 'bout the future
but I know I want you to be around
-
So why push me away
Its so easy for me to let go
Its so easy for me to be alone
and seal it all and carry on
just carry on
-
I know that I could fall in you anytime
But I didnt alow myself to do so
cause it was so unsure and cause Im so fragile
I dont want to scare you away
-
So dont push me away
its so easy for me to let go
Its so easy for me to be alone
and seal it all and carry on
just carry on
...

19 agosto 2005

Fotos...

Janelas permanentes... Prisão de momentos.
Podemos desfilar zilhões de metáforas (várias piegas) para falar de Fotos. Desconheço quem não goste delas, de uma forma ou de outra.
Curto vê-las. Só.



Se vc tb, não deixe de conhecer Limited Exposure.

17 agosto 2005

O Grande Encontro

Por Guz Vasconcellos


O Desajeito tinha um serviço pra entregar e ainda por cima estava atrasadíssimo pra aula. Enquanto isso, o Apressadinho, que não tinha pra fazer, não via a hora de chegar em casa. Era por volta daquele horário estranho que fica entre a novela das seis e a das sete. Há mais ou menos um ano e meio, pra ser mais exato. Cada um vindo de um lugar diferente da cidade.

Não se conheciam. Sequer sabia um da existência do outro. Foi, talvez, no mesmo momento que o primeiro apertou o botão do elevador que o segundo ligou o seu carro., embora não haja provas concretas do fato. Dois mundos diferentes, prestes a se encontrar. O Desajeito sempre pensava demais, dizem até que ainda fala, sozinho, andando na rua. Ás vezes até ri. Já o Apressadinho sabe muito bem como se comportar na multidão e nunca tinha imaginado - pelo menos foi isso que ele disse à polícia – fazer mal a uma formiga.

O Desajeito andava rápido, a pé, fazendo ultrapassagens no passeio. O Apressadinho mais rápido ainda, de carro, driblando o trânsito lento da avenida. O Desajeito, leste-oeste. O Apressadinho, norte-sul. E ali na frente o sinal. Fechado. Quase
abrindo. O Desajeito pensou que dava tempo de atravessar enquanto o Apressadinho ficou feliz de saber que o sinal abriria assim que ele chegasse. Não se viram. Sincronismo perfeito. Um grande encontro.




ps do pv: Baseado em fatos reais!

15 agosto 2005

Órfão

O mano Guz mandou um texto novo, pra variar bem legal, mas proibiu sua publicação se ele fosse o seu 3o post consecutivo. Ou seja, eu tinha que dedicar um pouquinho da minha atenção ao BlueNoir. Não falo nada novo desde 27/7 e bem que eu poderia justificar minha 'ausência' falando que o trampo novo tá pesado. Ele tá pesado, mas minhas razões são outras. Temo que a principal delas seja uma certa desilusão que me pegou pela 1ª vez em quase 36 anos de vida. Logo eu, que numa auto-piedade mal policiada vivo pensando que já vivi de tudo. Logo eu, que numa arrogância bastante criticada vivo apropriando, indevidamente, uma coisa chamada "Verdade".

Juro que não queria 'poluir' o BlueNoir com assuntos assim. Por outro lado estaria quebrando a principal regra (totalmente tácita) deste espaço: a liberdade de falar, desenhar, cantar ou gritar qq coisa. A qq momento. Então vamos lá:

Quando minha mãe, Dona Tutti, e o Tio Kinka começaram a falar que nunca mais votariam em ninguém eu fiquei 'p' da vida. Escolheram mal (Collor), se decepcionaram e agora iriam se abster de emitir uma opinião? Eu achava que aquilo era uma covardia estúpida, burra mesmo.

Discutir política comigo é, desde então, um 'programa de índio'. Com exceção da barba que, apesar da vontade, nunca ostentei, tudo em minha postura remete ao PT. Àquele PT raivoso, de 89 e 94. Tudo vira 'cavalo de batalha', sacrilégio, ofensa. Nunca fui filiado ou 'militante'. Nunca vi motivo para tal. Mas em mesas de trabalho ou de botecos sempre mereci o rótulo "petista". Com algumas variações do tipo "comunista" ou "revolucionário". Algumas vezes com algumas críticas (verdadeiras) bastante constrangedoras. Do Chico Beto Souza, por exemplo: "Para um comunista até que vc tem uns gostos bem elitistas, não?" ... hehe

Difícil explicar. Não sou um "comunista". Aqueles com estofo suficiente para definir rótulos falariam que sou um "socialista". Pra simplificar gosto de falar que sou um "canhoto de esquerda".

Que, desde 89, sempre votou no PT. A primeira 'traição' aconteceu no ano passado. Escolhi o cara do PSTU pra prefeitura de Vga. Não me senti bem. Mas tenho certeza que ficaria pior escolhendo o cara do PT. (Que, no final das contas ganhou e está executando (?) seu 2º mandato.) Era uma coisa localizada? A insatisfação com os rumos (rumos?) de minha cidade natal? Acho que sim.

Mas pensando na incrível montanha de lixo que os caras tentaram esconder com uma toalhinha de rosto percebi que aquilo lá, pequenininho em Vga, já era sinal de que minha escora/escola política já não era mais a mesma.

Um 'liberal-empresário' como vice?
Um 'tucano' no BC?
Política macro-econômica neo-liberal?
A expulsão da Heloísa e da Luciana?
Esmolas na política social?
Aliado do R.Jefferson e do Severino?

Já tinha sintoma sufiente para um diagnóstico sem erros: aquele governo não tem nada a ver com o que a gente pensava. Nadica de nada. Mas, movidos por uma esperança cega que nem Freud explica, seguimos torcendo. Teve que aparecer a tal montanha de lixo (pra não usar uma palavra mais pesada) pra gente perceber o erro. O tal "estelionato eleitoral". A traição. Difícil nomear o sentimento.

Escolhi um bem próximo, conhecido: tô me sentindo órfão.

Minha ideologia não mudou. Meu jeito de ver o mundo não mudou.
Minhas utopias e sonhos estão mantidos.
Mas agora meus heróis são só aqueles que já morreram (alguns de overdose).

Ontem eu tava numa mesa com outros 2 caras que também sempre votaram no PT. Gastamos umas 2 horas do nosso tempo tentando entender a tal 'montanha de lixo': Pequenas variações do mesmo tema; Soluções implausíveis; Uma ou outra piadinha sem graça; 2 golos de cerveja e um 'taco baiano'; Centenas de dúvidas e só uma coisa certa: o olhar triste e perdido de 3 órfãos.

====================

Naquele estilão de Barão Vermelho das Verdades vivia dizendo que a Esquerda Americana (digo, do Alaska a Terra do Fogo) era BURRA. Antes da eleição do Lula eu já falava, imaginando uma possível derrota.

E pensar que eu vi inteligência na vitória...

Que Burro!

[imagine o encerramento aí pronunciado por aquela menininha da propaganda (excepcional) da Sadia].

09 agosto 2005

A Conta

Por Guz Vasconcellos


Dia desses a D. Maria entregou uma notinha ao seu marido e antes mesmo que ele argumentasse que, afinal de contas, era ele quem punha comida na mesa, ela já foi explicando:

- Num preocupa não que isso não tem nada a ver com os 35 anos de serviços prestados. Aí não estão as roupas lavadas, passadas e guardadas. Não inclui todos os cafés da manhã, almoços e jantas prontos exatamente de acordo com os horários da sua agenda e escolhidas de acordo com sua vontade: frango com macarronada às quintas e domingos, feijão gordo às quartas e sábados, bife com batata às terças e sextas... Nada de varrer, tirar pó, pôr as coisas nos lugares. Também não levei em conta as faxinas de empurrá móvel e horas-extras lavando a garagem. Antes que você diga qualquer coisa, quero só que você saiba que não estou cobrando nada disso...

E o marido só olhando.

- Acontece que eu passei em frente do bar ali na esquina e vi que a cerveja “para levar” custa vinte centavos mais barato. Quer dizer que o dono do bar cobra vinte centavos por cerveja pela amolação?! Então eu truxe essa conta aí. São só os meus vinte centavos por cerveja que você tomou aqui em casa...

Ele ficou uns minutinhos quieto. Pensando. Depois perguntou se ela aceitava cheque para trinta dias...

28 julho 2005

Um Pretérito mais que Perfeito...

Se você lê - jornal, livro, bula de remédio, este blog - é sinal que um mínimo de intimidade com a língua portuguesa você tem. Eu, particularmente, embora dê os meus escorregões, tenho uma grande simpatia por ela, numa relação que mantemos já há uns dez anos. Digo uma relação mais significante do que simplesmente tê-la como instrumento de comunicação. E a cada dia que eu conheço e entendo um detalhe seu dá uma vontade danada de contar pra alguém. Como não são muitos os simpatizantes dessa ‘causa’, escolhi você, leitor, pra me escutar. Já está aí mesmo, com o BlueNoir na sua frente. Não custa nada, né?

Então, o que me deixou inquieto desta vez foi o tal do ‘pretérito mais-que-perfeito’. Quem deu esse nome para o tempo verbal devia ser cronista. No mínimo, uma ironia fina ele tinha. Já reparou que de ‘perfeito’ mesmo o tal não tem nada. Pensa bem. Usado nas lamentações, arrependimentos e saudades, o pretérito mais-que-perfeito, embora bonito, gosta sempre de nos lembrar que o tempo não volta e ai de quem deixou a vida pra depois.

Claro que nas conversas por aí ninguém diz ‘quisera eu’ ou ‘pudéramos’. Além de dar a idéia de um passado lá longe, esse tempo verbal parece ser algo que só era usado num antigamente lá longe também. O mais perto que chegamos dele hoje é nos ‘quem me dera’ dos sonhadores ou pessimistas. De qualquer forma, não é pelo fato de não ser perfeito e estar em desuso que o ‘pretérito mais-que-perfeito’ deixa de ser interessante. Ele lembra poesia.

A gente já ouviu uma porção de vezes que a palavra saudade só existe na língua portuguesa. Como é a única língua que eu conheço, não sei se isso é verdade. Mas um detalhe curioso é que o ‘mais-que-perfeito’ – o tempo verbal da saudade – parece ser algo só da nossa língua também.

Enfim, a verdade é que esse arzinho de chuva dessa semana trouxe um bocado de outroras. Quisera eu poder voltar no tempo...



por Luiz Gustavo, que deixa sempre pra amanhã o que podia ter feito ontem.

27 julho 2005

Great Expectations

Com certeza já assisti Great Expectations (Grandes Esperanças) mais de 10 vezes. É um daqueles raros títulos que me pegam sem uma razão aparente: são centenas de razões - pouco aparentes. Ou melhor, descobertas ou redescobertas toda vez que vejo o filme.



O roteiro é baseado no clássico homômino de Charles Dickens. A direção é do mexicano Alfonso Cuarón. Acho que é o único filme do cara que merece destaque. Mas é um DESTAQUE! Nunca tinha visto alguém colocar a câmara na diagonal ou na horizontal e a coisa fazer sentido - não ser só um 'maneirismo'. Os personagens principais, Finn e Estela, são interpretados por Ethan Hawke e Gwyneth Paltrow. Tem ainda Robert de Niro e Anne Bancroft. Trata-se de uma história de amor. Que passa bem longe do 'romantismo' de padaria. É cínico, violento e, em vários momentos, constrangedor. Mas é acima de tudo um filme inteligente e, principalmente, belo! Bonito mesmo.

Foi filmado em 97. Mas, se por algum motivo inexplicável (e imperdoável) vc ainda não viu, pare de ler agora... posso estragar algumas agradáveis descobertas.

=====================

As poucas pessoas que me falaram que já assistiram só o fizeram uma vez*. Nenhuma reparou numa coisa gritante: o Verde! (Shhh... lembra aquele papo de 'pardal' da semana passada? Pois é...)

Tudo no filme é verde! Ou melhor, quase tudo... roupas, móveis, janelas, portas, luzes... Mas parece ter um significado bem simples nisso. Quando Finn tá puto, é pura raiva, ele não usa verde. Usa preto. Aí, na festa do Finn dá pra distinguir as pessoas de 'bom coração' daquelas invejosas... sério! Parece festa do Ameriquinha mineiro (preto e verde)... Até tentei achar algo na internet explicando. Nada. Bom, o verde é a cor da esperança, certo? E o filme é sobre Esperança... O que me incuca é vc passar pelo filme todo e não notar o verde!! Aconteceu comigo na 1a assistência. E, pelo jeito, com todo mundo que só viu 1 vez.

E daí? Nada.. não altera a percepção e o fato de gostar ou não dele. Mas tinha que ser verde??? (verde-musgo-levanta-pardal???)

Tinha que ser esperançoso e incrivelmente amargo? Tinha que ter final feliz? Tinha que ter Tori Amos ("Siren", assustadora) e Chris Cornell (do Audioslave, com "Sunflower", linda num dos momentos mais quentes do filme)?? Tinha que ter aquelas pinturas do Francesco Clemente? Tinha que ter a Gwyneth tão bonita??.. Ehiahiah 3x...



Duas das sequências mais bonitas da história do cinema estão aqui. Ambas acontecem num bebedouro.

=================

Da penúltima geração de 'galãs' de Hollywood, Ethan Hawke é o mais eclético. Só detestei um de seus últimos filmes, "Roubando Vidas". Mas, além de um excelente ator, o cara é escritor ("Quarta-feira de Cinzas" é um bom livro) e agora também roteirista. Escreveu com Julie Delpy e Richard Linklater o excepcional Before Sunset ("Antes do Pôr-do-Sol")... que o maluco aqui viu logo depois de "Grandes Esperanças".

==================

* Mas sei q não sou o único maluco (que viu "Grandes Esperanças" mais de 3x) pq tem 218 outros doidos numa comunidade sobre o filme no Orkut.

Scratch #041



"Kite"
[U2, Bono]

Something
Is about to give
I can feel it coming
I think I know what it is

I'm not afraid to die
I'm not afraid to live
And when I'm flat on my back
I hope to feel like I did

And hardness
It sets in
You need some protection
The thinner the skin

I want you to know
That you don't need me anymore
I want you to know
You don't need anyone
Or anything at all

Who's to say where the wind will take you
Who's to say what it is will break you
I don't know
Which way the wind will blow

Who's to know when the time has come around
Don't want to see you cry
I know that this is not goodbye

It's somewhere I can taste the salty sea
There's a kite blowing out of control on the breeze
I wonder what's gonna happen to you
You wonder what has happened to me

I'm a man
I'm not a child
A man who sees
The shadow behind your eyes

Who's to say where the wind will take you
Who's to say what it is will break you
I don't know
Where the wind will blow

Who's to know when the time has come around
I don't want to see you cry
I know that this is not goodbye

Did I waste it
Not so much I couldn't taste it
Life should be fragrant
Rooftop to the basement

The last of the rocks stars
When hip-hop drove the big cars
In the time when new media
Was the big idea
What was the big idea

=====================

Pode até ser que o Bono não conheça o filme. Mas que 'Kite' parece uma fala ou pensamento do Finn, isso parece. E tenho certeza que ela entraria na trilha sonora se tivesse sido lançada em 97.

A pintura é de Francesco Clemente, pintor italiano que fez todos os desenhos de "Grandes Esperanças" (Great Expectations), tema do meu próximo post.

26 julho 2005

Early 21st Century Blues

Êh..iahiah...

O que dizer quando 2 das bandas que vc mais idolatra passam na mesmíssima encruzilhada? O Cowboy Junkies já tinha feito cover de quase todo mundo, de Stones a Cure passando por Lou Reed (VU), Springsteen e Robert Johnson. Faltava um som do U2 na voz da Margo. Eu disse: Faltava!!



Eles acabaram de lançar "Early 21st Century Blues". O disco fecha simplesmente com "One"... Não sei mais o que dizer. Tb acho q nada mais precisa ser dito. Dá pra curti-la aqui, enquanto o disco não chega.

Cliente Morto não Paga

A onda já dura mais de ano mas segue firme. Tô falando da tal "Remix Culture". Na edição de julho da Wired é matéria de capa e tem artigos interessantes do grande Neil Gaiman entrevistando os Gorillaz, do William Gibson e um sobre o Tarantino (que seria o "Rei dos Ladrões"). Todos tratando do mesmo tema: somos, mais que nunca, uma geração "cut&paste".

A força do movimento está em braços despidos de qq modismo: as licenças Creative Commons e organizações como a Free Culture. Serve de 'vacina' caso a Wired troque de onda. Mas por enquanto a revista vem forte, apoiando os movimentos e incentivando a "pirataria do século XXI". Tanto que em novembro do ano passado lançou um CD só de músicas "pirateáveis". Bem legal.

Mas é sempre bom lembrar que não estamos falando de nada novo. Como Lawrence "CercaLorenço" Lessig gosta de lembrar, SEMPRE fizemos uso de outras criações como matéria prima para nossas próprias criações. O Mickey Mouse deu as caras pela primeira vez em 18/nov de 1928, numa animação chamada "Steamboat Willie". Walt Disney fez uma paródia de um grande sucesso da época, "Steamboat Bill Jr.", de Buster Keaton. O mundo da música pop então, é um universo de referências circulares, hehe...

E não há nada de errado nisso! "Plágio" e "desrespeito a direitos autorais" só viraram a loucura que são hoje pq tem muita faculdade de direito nos Estados Unidos... eles precisavam arrumar serviço pra tanto advogado... hehe. Vc sabia, por exemplo, que "Os 12 Macacos" foi retirado do circuito pq um maluco alegou que um móvel que aparecia no filme fora baseado em um rascunho seu? Ele tava pedindo centenas de milhares de doletas de indenização... ridículo assim. Na maioria das vezes. Daí que samplers, máquinas fotográficas digitais, iPods e micros viraram um pesadelo para grandes corporações que vivem de 'distribuir' criações. Elas criaram o pesadelo, diga-se de passagem.

Mas nem sempre foi assim. Em 1982 Carl Reiner conseguiu gerar uma obra prima bastante singular na história do cinema: "Cliente Morto não Paga". O protagonista, Steve Martin, simplesmente contracena com Humphrey Bogart, Burt Lancaster, Kirk Douglas, Ingrid Bergman, Lana Turner, Ava Gardner, Veronica Lake e vários outros. Reiner montou o filme utilizando cenas de várias outras produções, criando diálogos impagáveis. Bogart (Marlowe), por exemplo, é auxiliar do detetive interpretado por Martin.


Pena que o DVD não traga um mísero 'making-of' sequer...
Mas é item obrigatório na formação básica de cinéfilos...


Voltando: hoje, para viabilizar algo do tipo, um estúdio teria que lançar mão de centenas de advogados, negociando 'direitos autorais', 'direitos de imagem', e uma série de outros 'direitos' que andam matando nosso 'direito' de ter acesso a criações realmente inteligentes.

Que a 'moda Remix' deixe, no mínimo, um pouco de bom senso.

20 julho 2005

CinemaBrasileiro.net

Tá na rede mais um site de referências e homenagens ao cinema tupiniquim, o CinemaBrasileiro.net. Tropecei de passagem, tempo suficiente pra achar coisas maravilhosas como:



Caceta! Não sabia que existia... Fantástico!
Só a coleção de cartazes de filmes já vale a pena.

19 julho 2005

Tenho um Pardal

Misturei tantas referências, vi tanto filme nas madrugadas destas férias mentirosas que nem me lembro onde vi que em Cuba, quando alguém quer dizer que está com saudades, fala que "tem um pardal". Sentimentos estranhos merecem denominações meio ecléticas, né? Quando o Sting se encontrou com algumas modelos brasileiras num evento lá fora a primeira coisa que disse foi "saudades" - num português mascado pelo sotaque inglês. Mas pareceu tão sincero que soou triste. Ou pareceu triste pq soou sincero?

Mas toda saudade é triste? Quando o Renato Russo canta que tem "saudades de tudo que ainda não vi" parece ser. Quando Chico escreveu que "saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu" é tristeza em seu grau máximo. Mas será que toda saudade é triste? Tem que ser triste?

Quero crer que não. E elaborar algumas lembranças que resultem num sorriso espontâneo. São saudades também, mas preferimos chamá-las de "boas lembranças". Quanto tempo reservamos para elas? E quantas vezes as poluímos com lembranças que não são tão boas assim? Levando pra Cuba, parece que gostamos de "jogar pedras em nossos próprios pardais". Covardia...

E, só pra variar, uma puta vertigem... hehe

Quando cliquei em [create a new post] minha idéia era falar de uma saudade totalmente diferente. Por exemplo, tenho um pardal recorrente que sempre aparece num fim de tarde chuvoso e todo o ambiente parece estar esverdeado. É um verde forte, escuro. Acho que o chamam de "verde-musgo". Quando vejo paisagens como da foto (de Kenneth Parker) aí embaixo, o pardal aparece.



Não sei pq. Não é uma "saudade triste". Mas é uma saudade.

Tão estranha quanto a saudade que tenho da 2a metade dos anos 60... Pois é, minha certidão de nascimento indica que nasci no finalzinho de 69 mas, sabe-se lá pq, tenho um pardalzão que insiste em voar entre 66 e 68. Meu pai tinha 19 em 66. Morria de inveja disso. Mas nunca soube exatamente pq. Meus detratores vão falar que era pra ter presenciado - ao vivo e em cores psicodélicas - o nascimento de Led, Jimi, Sgt Peppers & Cia Ilimitada. Mas não é (só) tudo isso.

Comecei há pouco minha coleção de filmes em DVD. É pititinha. Tem uns 8 Hitch, obviamente. Mas tem 3 que fazem aquele pardal estranho alçar vôo: "Blow Up", "A Insustentável Leveza do Ser" e "Os Sonhadores". De 66, 88 e 2003, respectivamente. Mas retratam Londres'66, Praga'68 e Paris'68. Acho que é a única coisa que os liga, o período retratado.


"Blow Up" é uma das várias obras-primas (sic) do Michelangelo Antonioni. Retrata com maestria o ápice da Swinging London. É particularmente estranha a busca do protagonista fotógrafo por 'substância' numa sociedade que parecia idolatrar o escapismo, a alienação. O próprio fotógrafo vive disso. Mas a pseudo-leveza daqueles seres londrinos cai por terra aos pés do filme de Antonioni. Pesando toneladas...


Mas nessa louca "trilogia do pardal velho", o mais terrível embate entre 'sustância' e 'vou deixar a vida me levar' se dá em "A Insustentável Leveza do Ser". Traduzido num triângulo amoroso, primeiro por Kundera e depois por Kaufman. Ao contrário da Londres'66, Praga'68 pega fogo. É a tal primavera, onde flores são substituídas por tanques soviéticos. Kaufman chega a usar imagens reais, em preto e branco. É lindíssimo, pra dizer o mínimo. Apesar das toneladas que pesa...


De "Os Sonhadores" eu já falei bastante. Bertolucci justificou o filme dizendo se tratar de um rendiconti (prestação de contas) com aquele período. E para não nos deixar esquecer de como ele foi especial. Paris'68 não corria o risco d'uma invasão vermelha. Mas era lotada de commies, cinéfilos antenados e estudantes revoltados. Novamente um triângulo amoroso (bizarro p/ os moralistas) encarna o duelo que não tem vencedores. Mas é pesado para os perdedores...

Êta pardal gordo...

Mas aí vão aparecer alguns sugerindo aquele tipo de terapia que investiga "vidas passadas"... Respeito, mas acho que não é meu caso.

Até pq vão aparecer algumas, sugerindo que meu blá-blá-blá é só desculpa esfarrapada para rever e rever Vanessa Redgrave, Juliette Binoche e Eva Green... hehe. Todo peso tem sua compensação nessa balança de sentimentos, não?