24 fevereiro 2006

E o Brasil Descobriu o Rock

Quem diria que o grito do carnaval 2006 seria "hello, hello" e "i can't get no..."? Quem diria que minha mãe e a tia Marisa, num breve encontro na terça-feira, falariam só sobre Bono e o U2? Quem diria que a dona Globo ficaria besta com os eventos que transmitiu? Quem diria que um dia uma banda de rock pararia um trio elétrico em salvador, com seu vocalista entoando "No woman no cry"? Quem diria que até os babacas que não enxergam um palmo além do narigão ficariam de quatro para a banda "mais demagoga da face da terra"? Quem diria...



O show dos Stones, no último sábado, foi grandioso em todos os sentidos. Mas, até a metade, um show meio frio. Não sei se a obrigação de gravar um DVD trava os caras. Aliás, nunca achei que os caras fossem assim grande coisa no palco. Os Stones se seguram em três dezenas de hits construídos em mais de quatro décadas de carreira. Dependendo da sequência de músicas eles "quebram" o ritmo e o entusiasmo da galera. Mas foi memorável. Tipo de coisinha legal pra se ver na TV na noite d'um sabadão. Mas não pela dona Globo né? Conseguiu cortar "Midnight Rambler" no meio.. justo a única música que os caras se soltaram e ensaiaram uma jam... É a mesma dona globo que cortou "Ramble On" com o Robert Plant há alguns anos. Pecados imperdoáveis. Aliás, como foi imperdoável o único erro do Mick Jagger: esquecer a letra de "Start me up" vovô? Q q é isso? hehe..



Já o show do U2 na última segunda-feira foi qq coisa. Catarse coletiva (êita clichê besta!). Celebração. Missa. Hipnose coletiva. Vertigem total. (mais uma porrada de clichês bestas). Uma história! O Bono já havia adiantado no Fantástico (êita eu e meu ócio nada criativo) que cada show é uma história. Que depende de muita sorte. Se o público "pegasse" a história que eles queriam contar, o show seria inesquecível. Foi. Com certeza um de seus melhores shows de todos os tempos.
(olha que quem escreve estas quase escondidas linhas tem bootlegs de todas as fases do grupo. Sei um pouco do que estou falando).

Em vinte e tantos anos de carreira é apenas a 2ª vez que os caras pintam em Pindorama. Apesar do disco de ouro do "Joshua Tree" ainda em 87! A legião de fãs (que neste momento pós-hipnose deve beirar 60 milhões de tupiniquins) represa por muito tempo o desejo louco de vê-los, ao vivo, e gritar com eles "all because of you". Essa carência faz metade de um show. Vide a recente visita do Pearl Jam. Mas tem a outra metade...

Nela, o U2 é a banda amadora mais profissional dos últimos 20 anos. Amadora pq adora o que faz. Sente o que canta. Acredita no que conta (inclusive o $$). E é profissional demais, na qualidade do show e no respeito ao público. Combinação explosiva, só podia dar no que deu.

Mesmo pela telinha a emoção foi forte demais. Em doses cavalares em músicas como "Stuck in a moment" (em sua mais bela versão), "Miss Sarajevo" (idem, com Bono fazendo as vezes de Pavarotti), "Sometimes you can't make it on your own" (que toda vez que vai pro Bob atinge tbém o Paulo, meu velho) e "With or without you". A oração "One", quase no finalzinho, parece um brinde.

Há tempos defendo a tese de que a carreira do U2 é feita de "ciclos de trilogias". Nada pré-programado não. "Boy" (80), "October" (81) e "War" (83) são muito parecidos em sua crueza e uma certa ingenuidade (musical). "The Unforggetable Fire", "Joshua Tree" e "Rattle & Hum" fazem um ciclo americanizado no gosto e sofisticado no som, graças principalmente ao toque mágico do Brian Eno. "Achtung Baby", "Zooropa" e "Pop" marcaram um retorno para a Europa - com muita paquera com a "estética dance" - "Zooropa - better by design". "All that you can't leave behing" iniciou um ciclo de revisão, que deve se encerrar com o próximo disco (que nem Bono tem idéia de quando sairá). Nesse novo ciclo há um pouco de tudo. Acho que além do LedZep, o U2 é a única banda que chuta para todos os lados, arrisca diversos estilos, mas preserva intacta sua marca. Que é exclusiva.

céus...

Seguinte: foi um puta show que pode trazer agradáveis consequências (nada a ver com eleições, ok?): i)com o dólar baixinho, voltamos a fazer parte do circuito internacional de shows; ii)a dona Globo aprendeu (aprendeu?) que existe vida além dos pagodinhos, axés e (vish..), funk carioca; iii) os punks mortos-vivos ficaram mais perdidos que fdp em dias dos pais - "mas o U2 é punk?"; iv) meus vizinhos não farão mais campeonato de volume comigo toda vez que eu "arregaçar" U2 por aqui; e v) da próxima vez que o U2 vier, os organizadores farão no mínimo 5 shows!!! Ou dois em Copacabana, para 5 milhões de fiéis.

14 fevereiro 2006

A Súmula dos Simuladores

Agorinha mesmo o Guz me mandou este link para um post do Torero: hoje é dia do Botonista! Não sabia que a gente tinha um dia. "A gente", tsc tsc...



[Flashback - 1980: Rua Dr Francisco de Oliveira]

Segunda era dia de descer para a casa da Vó. Sexta era dia do pai tomar cerveja. Nos outros três dias ele nos pegava na escola. Mal chegávamos em casa e a mesa da copa se transfigurava. O cachepot (?) e o pano eram jogados de lado. Nascia assim o nosso Maracanã. A mesa era daquelas que escondiam uma extensão. Bastava puxar e levantar dois pedaços de madeira para ganharmos um belo meio de campo com uma cor diferente do resto da mesa. Tá certo que tinha um certo desnível entre as partes, mas nada que atrapalhasse nossos craques.

O Velho escalava o time em questão de segundos. Sempre no esquema 4-3-3. Eu, meio visionário (hehe), tentava colocar dois cabeças de área na esperança de segurar um ataque que tinha Tita (7), Nunes (9 - ou ainda seria o Adão?) e Júlio César (11 - o Uri Geller - entortava todo mundo). E ainda tinha o Zico de ponta de lança!

Apesar da real competição o velho Paulo sempre era muito didático: "Chutando assim vc nunca vai fazer gol". "Daí não é força - é jeito!". Se eu segurasse a palheta fazendo uma paralela com o botão, vish.. "Não aprendeu nada!".

O Velho narrava as partidas, gastando todos os bordões da turma da Rádio Globo da época: "Choveu na horta do Mengão tricampeão!!". Com direito a comentários sobre a arbitragem: "Goooool Le-gal!". Me restava reunir o time e dar uma nova saída. Acontecia umas 20 vezes por tarde. Quando eu apertava um pouquinho a queda era de dez.

Foi assim que aprendi tudo que sei sobre futebol. As regras, táticas e truques. Jogava a bola de verdade na rua e no clube. Mas o futebol de verdade parecia acontecer só na mesa.

[1985 - Rua João U. de Figueiredo]

Com o velho as partidas ficaram mais raras. Uma vez, numa festa de aniversário de um dos 6 filhos rolou um campeonato. Tio Dinho, Tio Renato, Maurício & Mariano. Tio Luiz e tio Hernani? Não lembro. Só lembro que foi um puta torneio. Fui eliminado na 1a fase. Sorte minha: pude acompanhar todos os clássicos. E acrescentar várias outras 'manhas' ao meu repertório.

Virei colecionador. Tinha uns 100 times. Daqueles vagabundos, Gulliver e afins. Me gabava de ter o campeonato paulista completinho. (Explico: já tinha virado corintiano). Tinha até o XV de Jaú, verde e amarelo. O Santo André e o São José! Mas girava o Brasil. Central de Caruaru, Fluminense de Feira de Santana. Adorava os times 'exóticos'. Daqueles que entravam no Brasileirão numa época em que até 40 equipes disputavam a primeira divisão.

Acho que entre 84 e 85 fizemos (a turma do bairro e eu, uns 6 moleques) quase uma centena de campeonatos. Tinha final de semana com dois! Um no sábado outro no domingo. Dois "estrelões" garantiam a realização de rodadas duplas. Meu velho detestava o Estrelão. A gente customizava: placar de papelão, placas de patrocínio e até redinha de filó nas traves. Um luxo!

Que eu aproveitava muito sozinho também. Conseguia fazer partidas históricas defendendo duas equipes. Tentando ser imparcial (faz-me rir...) e narrando todas as partidas. Vez em quando o velho me interrompia para um "amistoso". Agora ele não ganhava tão fácil. Mas criticava muito nossas "novas" regras.

[Hoje]

Minhas últimas partidas foram contra o Guz. Além de umas raras tentativas de fazer o Mateus aprender o jogo. Faz tempo já. Substituímos a mesa e os botões pelo Winning Eleven. Agora dá até pra fazer trancinhas no Carlos Alberto. Tem torcida e locutor "de verdade". E muitas partidas emocionantes. Não vou esquecer nunca um sonoro 6x1 no menguinho do Guz. Show da dupla Tevez e Nilmar.

Mas, da mesma forma que o botão nunca substituiu o prazer da pelada de verdade, no campinho de terra, o computador não deveria substituir o simulador analógico, o jogo de botão. Só ele dá 100% de controle sobre o jogo, não depende do computador decidir se o lateral direito pode subir para apoiar ou não. Na mesa você interpreta melhor seu adversário. Na mesa vc fica cara a cara com o 'inimigo', e não sentado ao lado dele. É mais jogo. E periga ser o mais nobre mesmo, como diz o texto do Torero.

Só é foda pr'eu pq desde que comecei a escrever este post uma musiquinha me martela a memória: "Naquela mesa tá faltando ele..."

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13 fevereiro 2006

Scratch #052



Conheça um "mashup" sonoro: Beatles + Beastie Boys = Beastles

Obra do dj BC. Disponível para downloads legais! Cool...

08 fevereiro 2006

Outra China








Ultimamente o nome "China" nos remete a capitalismo selvagem, construções megalomaníacas, hipocrisia do mundo ocidental e alguns produtos bem vagabundos. As belas fotos surrupiadas daqui nos mostram uma outra China. Mais humana?