29 maio 2006

Scratch #060



Mashup bem criativo: Clássicos da Arte ++ Super-heróis.
Vale uma visita.


24 maio 2006

Junkyage* :: Pré-produção

Há pouco mais de 3 meses comecei meu maior projeto pessoal de todos os tempos, o Junkyage*. Imaginei um blog diferente, acompanhado de podcasts, contando, de uma maneira que eu creio que seja inédita, uma pequena parte da história do século XX. Colocando assim parece tão grandioso, não? Com certeza é grande em extensão, na profundidade e complexidade da pesquisa. Mas se trata de temas constantemente considerados 'pequenos' pela mídia e pelas academias: Rock and Roll, Cinema e Literatura 'marginal', (contra) Cultura, (anti) Poesia, Arte de ruas e estradas.



O logo aí de cima foi o primeiro ensaio. A versão definitiva está um pouco diferente. Mas mantém a 'polêmica' florzinha. Já já falo mais sobre o nome, o logo e a flor.

De novo uma das minhas maiores inspirações foi o livro "Criatividade e Grupos Criativos", do Domenico de Masi. Neste livro o Domenico conta toda a história do mundo, do ponto de vista da 'Criatividade'. Ele analisa épocas, regiões e grupos que ficaram marcados como 'picos' de Criação. Como momentos que mudaram de forma significativa nossas vidas. Ele chega a citar, de forma breve, o Jazz. Mas, como era de se esperar, ignora por completo aquilo que chamo Junkyage*.

Junky era uma palavra utilizada para identificar viciados em heroína. Foi título de um livro do William Burroughs. Hoje ela é utilizada para identificar qq tipo de vício. Algumas derivações são usadas de forma pejorativa (ex: junk food, junkyard - ferro velho/sucata).

É sabido que uma grande parcela de nossas criações no último século foi vitaminada por substâncias que alteram, de alguma forma, a consciência. Do álcool que encharcava os blueseiros dos anos 20 até o ecstasy que embala raves até hoje. Está longe deste cara mezzo careta fazer apologia das drogas. Mas o nome Junkyage* é legal (he!) demais para identificar esse período. Um período que, na minha leitura muito particular, gira entre 1936 (ano das primeiras gravações de Robert Johnson) e os dias de hoje. Ou seja, são 70 anos de história para contar.

O ápice da era acontece entre 1957 (ano do lançamento da primeira edição de "On the Road" (Pé na Estrada), de Jack Kerouac) e 1975. Foram 18 anos de explosão criativa, de experiências e transgressões, de esperanças e desilusões, de heróis morrendo de overdose e de desconhecidos morrendo queimados por napalm. O início do fim do pico foi marcado pela flor, pelo "Flower Power", pelo "Paz e Amor". Daí a florzinha do logo. Que é multicor para mostrar a diversidade, a imensidão de tendências e possibilidades. Caracteriza também a amplitude dos gostos e a inocência, a ingenuidade de várias propostas que o mundo conheceu naquela época.

Junkyage* - Um mundo MultiFashion

Eu me achava um razoável conhecedor da cultura desta época. Descobri que sou mais uma vítima da maior estupidez que construímos no século XX: a tal "Cultura de Massa". É tanta coisa boa que acabou ficando esquecida, jogada num canto empoeirado de alguma gravadora, editora ou estúdio, que eu acabei descobrindo a maior motivação para tocar este projeto: trazer de volta à luz, nem que seja para a apreciação por meia dúzia de curiosos, toda a riqueza da cultura pop(ular) que a própria cultura pop(ular) tratou de desbotar, até quase o sumiço (esquecimento) total. Parece que até na área de Economia já descobriram a mancada, e batizaram essa parte esquecida (neste caso, pela cultura popular) de "Long Tail" (algo como "rabo comprido").

Garotos e garotas de todo o mundo, em determinado momento, só "amavam os Beatles e/ou os Rolling Stones". Alguns mais 'antenados' ou 'experientes' jogam um The Who na parada, Yardbirds, The Band, Byrds, Dylan, Pink Floyd (com Syd Barret, please!), Hendrix, Janis e os Morrison. Cadê Youngbloods, Lovin' Spoonful, Rascals, Vagrants, Zombies, Paul Butterfild, Mike Bloomfield, Al Kooper, Joe Walsh e sua James Gang, que depois teve Tommy Bolin que um dia foi do Zephyr? Quem ouviu ou ouviu falar de Quicksilver Messenger Service, Moby Grape, Charlatans, Pearls Before Swine, Tower of Power, Flying Burrito Brothers, International Submarine Band, The Nice, Tomorrow, Atomic Rooster? Onde foram parar Soft Machine e Caravan, que em determinado momento foram mais relevantes que Genesis e Yes? E o que dizer do alemão Can, que praticamente inventou a estética trance-dance-qq-coisa das raves de hoje? Quando alguém fala em flash-back, cai sempre nos mesmos "Can you ever seen the Rain", "Cocaine", "Let it be"... let it be?

Bom, já deixei claro com a pequena e desestruturada lista acima que meu foco será a música pop, o Rock and Roll e todas as suas (quase) infinitas variações. Espero temperar os programas com informações sobre livros, filmes, quadrinhos e outras artes 'marginais'. Mas o Programa será musical. Partirei de três raízes plantadas no início do século XX, Blues, Jazz e o Country. E, seguindo uma ordem cronológica, geográfica e temática (não necessariamente nesta ordem - sic), navegarei por centenas de bandas, milhares de músicas. Cada programa (podcast) deve ter a duração máxima de 80 minutos. Para caber em um CD normal. E deve ser semanal. Ainda não sei onde ele será armazenado. Talvez exista uma versão alternativa na Last FM, que estou testando há algumas semanas. Mas aí não será podcast. Penso também (seriamente) em oferecê-lo para rádios tradicionais. Penso em tanta coisa.. hehe. Porisso resolvi abrir este post para falar da 'pré-produção'. Para estruturar melhor os próximos passos. E, indiretamente, forçar algumas colaborações, sugestões, críticas e afin$.

Penso, por exemplo, em formalizar de alguma forma a marca (que já está protegida sob licença Creative Commons). Quem sabe para lançar uma grife de jeans e camisetas? Ou então o boteco mais junky de todos os tempos?

Hehe.. melhor parar de pensar e começar a trabalhar um pouco. Espero ter mais novidades sobre o Junkyage* em breve. Inté.


23 maio 2006

Julgue a Capa

Diz um velho blues: "Não julgue o livro pela capa". Ok. Mas, por outro lado, existem livros muito bons que acabam inspirando a criação de capas maravilhosas. "On the Road", de Jack Kerouac, é um deles. Alguns exemplos:










































Até o Kerouac tentou desenhar uma:





Tem uma coleção quase completa aqui.


19 maio 2006

São Paulo - Santa Paciência

Passei o último final de semana assustado e triste com todas as notícias que chegavam de São Paulo. Preocupado com os diversos amigos que tenho lá. O 'pânico' que vazava da tela da TV causava um sentimento muito ruim. Sentimento de fim. Angústia. Só senti algo igual no 11 de setembro. As duas vezes que minha mãe falou "ainda bem que você está aqui" (morei lá nos últimos 8 anos), só fizeram aumentar meus temores.

Três cenas, infelizmente, ficarão gravadas por um bom tempo em minha mente. A primeira, em ordem cronológica, é daquele carro civil cravado de balas e encaixado num poste. Estavam ali um policial (fora de serviço) e sua namorada de pijamas. Iam ajudar um vizinho. A segunda cena é do enterro de outro policial. Seu filho, de 5 anos de idade, chorando. A terceira veio na falsa calmaria da noite de segunda. A avenida Paulista, minha avenida preferida, vazia. Nunca imaginei ver a Paulista vazia. Hora nenhuma, dia algum.

De lá pra cá, do Fantástico ao Casseta&Planeta, da Folha ao Datena, da mãe ao colega distante, da Soninha ao FHC, tudo que vi, li e ouvi é desencontrado, desengonçado. Desgraçado.

Por uma coincidência (indesejada) estive em Sampa na última quarta. Parecia normal, parecia tranquilo. Uma observação que se provava falsa toda vez que vc parava para prestar atenção por 30" em uma pessoa qq, na Paulista, no Metrô ou no terminal Tietê. Qq estampido de um 'trac' causaria uma certa bagunça. A tensão e o temor, de certa forma 'naturais' em Sampa, agora têm um tom mais dramático. E muito triste. Muito triste.

Já usei aqui, ou em outro blog, o termo "mansidão bovina". Surrupiei do Clóvis Rossi, da Folha. Ele a criou para criticar a passividade do brasileiro. Provavelmente ele a utilizou na época do panelaço na Argentina, ou quando alguns peruanos lincharam e mataram em praça pública um prefeito corrupto.

Quem é de fora e testemunha nossos carnavais, nossas festas, nossa alegria enfim, não tem idéia do tanto de sacanagem que fazem conosco. É difícil ter noção do tanto que já roubaram desse povo que parece não ligar. Não tô falando só da parte tangível do roubo não. Não é a grana não. Tô falando do tanto de vida que já levaram. Do tanto de vida que condenaram. Direta e indiretamente.

Talvez tal alienação (mansidão) prossiga. Basta que a parte condenada (fdp) dos excluídos sejam controlados em seus cantos (teoricamente) controlados. Pq a única coisa que eles roubaram (que não tinha sido roubada antes pelos FDP não condenados) foi a falsa alegria e o tal direito de ir e vir. Eles fizeram os bois mansos ficarem confinados. Escondidos mesmo. "Tão matando até pulícia. O que será di nóis?".

Até a manhã de hoje eu tava com medo de falar sobre o assunto. No meio de tanta "pena de morte já!" e outros blablablás, eu só arrumaria confusão. Surgiu de onde eu menos esperava uma pontinha de esperança. Surgiu numa cabeça de 71 anos de idade, ex-Arena, ex-PP, fundadora do PFL (o partido mais ridículo do Brasil). Pois é, veio do Cláudio Lembo, governador (meio sem querer) de São Paulo. Ou é a prova definitiva de que tá todo mundo louco, ou se trata sim de algo que deveria ser lido em cadeia nacional:


Lembo - É ridículo falar isso mas o Brasil só acredita na camisa da seleção, que é símbolo de vitória. É um país que só conheceu derrotas. Derrotas sociais...Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa.

Folha - Que ficou assustada nos últimos dia.

Lembo - E que deu entrevistas geniais para o seu jornal. Não há nada mais dramático do que as entrevistas da Folha [com socialites, artistas, empresários e celebridades] desta quarta-feira. Na sua linda casa, dizem que vão sair às ruas fazendo protesto. Vai fazer protesto nada! Vai é para o melhor restaurante cinco estrelas junto com outras figuras da política brasileira fazer o bom jantar.

Folha - Tomar conhaque de R$ 900 [preço de uma única dose do conhaque Henessy no restaurante Fasano].

Lembo - Nossa burguesia devia é ficar quietinha e pensar muito no que ela fez para este país.

Folha - O senhor acha que essas pessoas são responsáveis e não percebem?

Lembo - O Brasil é o país do duplo pensar. Conhecemos a inquisição de 1500 até 1821. Então você tinha um comportamento na rua e um comportamento interior, na sua casa. Isso é o que está na sociedade hoje. Essas pessoas estão falando apenas para o público externo. É um país que é dúbio.

Folha - Onde o senhor responsabiliza essas pessoas?

Lembo - Onde? Na formação histórica do Brasil. A casa grande e a senzala. A casa grande tinha tudo e a senzala não tinha nada. Então é um drama. É um país que quando os escravos foram libertados, quem recebeu indenização foi o senhor, e não os libertos, como aconteceu nos EUA. Então é um país cínico. É disso que nós temos que ter consciência. O cinismo nacional mata o Brasil. Este país tem que deixar de ser cínico. Vou falar a verdade, doa a quem doer, destrua a quem destruir, porque eu acho que só a verdade vai construir este país.

Folha - Mas qual é, objetivamente, a responsabilidade delas nos fatos que ocorreram na cidade?

Lembo - O que eu vi [nas entrevistas para a Folha] foram dondocas de São Paulo dizendo coisinhas lindas. Não podiam dizer tanta tolice. Todos são bonzinhos publicamente. E depois exploram a sociedade, seus serviçais, exploram todos os serviços públicos. Querem estar sempre nos palácios dos governos porque querem ter benesses do governo. Isso não vai ter aqui nesses oito meses [prazo que resta para Lembo deixar o governo]. A bolsa da burguesia vai ter que ser aberta para poder sustentar a miséria social brasileira no sentido de haver mais empregos, mais educação, mais solidariedade, mais diálogo e reciprocidade de situações.

...

Folha - O senhor diz que muita gente falou besteira sobre os episódios. Dos EUA, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou a possibilidade de o governo ter feito acordo com os criminosos para cessar a violência.

Lembo - Eu acho que o presidente Fernando Henrique poderia ter ficado silencioso. Ele deveria me conhecer e conhecer o governo de SP. Eu não posso admitir nem a hipótese de se pensar isso. Para opinar sobre um tema tão amargo, tão grave, ele teria que refletir, pensar. E se informar. Quanto ao presidente [FHC], pode ser que eventualmente ele tenha precedente sobre acordos. Eu não tenho.

Folha - Vimos o senhor dando muitas entrevistas na TV. Mas SP teve um outro governador [Alckmin], tem um candidato ao governo e ex-prefeito [Serra]. O senhor ficou sozinho?

Lembo - No poder, um homem é absolutamente solitário. Houve momentos em que praticamente fiquei sozinho. Mas devo agradecer a Polícia Militar e a Polícia Civil também, que estiveram firmes ao meu lado.

Folha - O ex-governador Alckmin telefonou para o senhor em solidariedade?

Lembo - Dois telefonemas.

Folha - O senhor achou pouco?

Lembo - Eu acho normal. Os pulsos [telefônicos] são tão caros...

Folha - E o candidato José Serra?

Lembo - Não telefonou. Eu recebi telefonema da governadora Rosinha [do Rio de Janeiro] e de Aécio Neves [governador de MG], que estava em Washington, ele foi muito elegante. Um ofício do governador Mendonça, de Pernambuco. Recebi muitos apoios, do Poder Judiciário, e a Assembléia Legislativa, deputados de todas as bancadas, nenhum partido faltou.

...

[Agora, no Terra:]

E em que momento o senhor pensou: "Vou esvaziar o pote"?
Foi uma necessidade. Em um momento de tanta dor, tanto desespero social e desespero das pessoas em si, das que morreram, eu tinha, tenho que dizer isso. É um momento em que a sociedade tinha, tem que sentir esse choque duro da realidade que ela não quer conhecer.

Uma sociedade, pequeníssima parcela, que vive atrás de muros altos, grades, com os carros blindados...
...viajando ao exterior, trazendo os melhores vestidos do exterior.

"Vestidos" talvez não seja uma palavra, uma expressão muito adequada para ser usada neste Palácio...
Eu nunca me equivoco no que eu falo. Eu sempre penso antes de falar.

Em alguns momentos a sua conhecidíssima ironia passeia pela conversa. O senhor disse que nestes dias o ex-governador Alckmin deu apenas dois telefonemas porque "o impulso telefônico está caro".
Muito caro, realmente.

O senhor sabe quanto está o impulso telefônico?
Eu não sei, mas eu posso perguntar para o portal Terra, que é da Telefônica, eles vão me contar.

E se o ex-governador ligasse a cobrar, não poderia ser uma boa solução?
Eu pagaria.

E o ex-prefeito, Serra, candidato a sucedê-lo, já telefonou para cá?
Aí pode ser um problema de amnésia, eu compreendo.

Mas de lá (sexta-feira, início dos ataques) para cá ele não telefonou?
Não, ainda não telefonou.

Ele está no Brasil?
Não, ele está nos Estados Unidos, salvo erro.

Onde acho que também está o ex-presidente Fernando Henrique...
Também está nos Estados Unidos.

Ele telefonou?
Não, não telefonou. Apenas fez críticas.

Mas não disse nada?
Não, não.

Quando o senhor nos diz isso, o senhor entende que talvez o ex-prefeito da cidade e candidato a governador do estado devesse, ao menos, ter feito o gesto de telefonar?
Eu não sei o que está acontecendo. Talvez ele não tenha acesso a meios de comunicação brasileiros, e não viu, não assistiu. Ou não quis eventualmente se envolver em episódio tão amargo e triste. Quis se preservar.






As entrevistas (históricas e imperdíveis) podem ser lidas na Folha e no Terra.

Cordeiro em pele de cordeiro. Lobo em pele de lobo. E lobo em pele de cordeiro.
Em ano eleitoral, é uma boa saber distinguir vestimentas. E as origens delas!


16 maio 2006

Scratch #069



Peraí, eu explico: o Guz me apresentou um site muito bacana sobre publicidade e afins, o desencannes. Vc encontrará um monte de pérolas por lá. Boa parte impublicável em qq lugar um pouquinho mais responsável que o BlueNoir...



ps: Este deveria ser o Scratch 59... mas por uma questão de sacanagem a contagem foi para o espaço... foda-se!


11 maio 2006

A Favor do Debate

Pela primeira vez vou surrupiar um texto da grande Soninha:

Ontem, no Fala Brasil (sempre assisto quando estou em casa de manhã, embora esteja cansada do peso que o noticiário policial tem tido no programa), rolou um diálogo que me levou de novo ao assombro com o relativismo maluco do mundo ocidental:


- Você sabia que a cachaça brasileira já é a terceira bebida alcoólica mais vendida no mundo? Só perde para a vodka russa e para um destilado produzido na Coréia.

- É, mas esses números ainda podem melhorar. Para incentivar ainda mais as exportações, começa hoje a feira Cachaça Brasil.


Talvez um muçulmano ficasse escandalizado com a naturalidade com que se fala de álcool (goró, birita, mé, drink, etc.) como um excelente negócio, motivo de orgulho para o país. Ou um evangélico. (Confesso minha ignorância: não sei se todos os muçulmanos e evangélicos são abstêmios. Agradeço antecipadamente as informações que, certamente, virão). Enfim, eu não sou abstêmia, só não gosto muito de cerveja e bebo muito pouco de modo geral, mas fico escandalizada com a incoerência. O mesmo Fala Brasil que volta e meia anuncia, em tom apocalíptico, “Mais uma tonelada de maconha apreendida – a droga estava escondida na carroceria deste caminhão”, comemora o fato de o Brasil ser um super exportador de cachaça e querer ampliar o mercado – “de 9 para 100 milhões de dólares” ou coisa parecida.


Recentemente, Chico Buarque deu uma entrevista bastante comentada para a Revista do Globo, em que disse: “Vai haver um momento em que vamos ter que discutir isso [as leis sobre drogas]. Se as drogas são um flagelo, o tráfico é muito pior. (...) Talvez na interesse às grande potências a discussão sobre a flexibilização da lei antidrogas, mas nós, brasileiros, temos que discutir este assunto”. E mais: “No começo do governo Lula, (...) tive esperança que esse assunto fosse levado ao debate. (...) E depois não se falou mais nisto...”.


Dias depois (no sábado, 29/04), o colunista Arnaldo Bloch escreveu no Segundo Caderno, também do Globo: “Num país em que se discute tudo, por que a descriminação do uso de drogas – e mesmo da produção e da venda – como alternativa para acabar com o flagelo do tráfico continua a ser um assunto tabu, uma imoralidade, uma inconveniência?”.





Lógico que o tema continuou em outros dois posts. Estranhamente parece que o blog do UOL não tem um 'permalink' que me permitiria guiá-los diretamente para lá. Não tem problema. Visite o blog da Soninha e veja outros textos legais além da continuação deste.

Btw, Legalize Já! (meus 2cents ao debate). 2cents compra alguma coisa?


05 maio 2006

Oh Dúvida!

por Luciano Pires

Meu texto anterior, “Não é ‘pobrema’ meu”, rendeu muitos comentários. Nele relatei o absurdo dos problemas de depredação que estariam acontecendo no recém inaugurado Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. O texto nasceu de uma nota publicada com destaque na página 6 da “Veja São Paulo”, a Vejinha, de 26 de Abril, que teve mais de 388 mil exemplares distribuídos na grande São Paulo. A nota dizia o seguinte:

“Lição de desrespeito. Foram necessários 3 anos e 36 milhões de reais para transformar o degradado prédio da estação da Luz no mais novo centro cultural da cidade (...) No último fim de semana em pleno feriado de Páscoa, ele precisou fechar as portas. As cerca de 12 mil pessoas que passaram por lá deram de cara com um papel sulfite colado nas grades informando que o local estava em manutenção. Já? Pois é. A culpa é de parte dos freqüentadores . Com pouco mais de um mês de funcionamento, o museu tem sofrido nas mãos (e nos pés) de jovens que pisoteiam algumas obras, riscam as paredes e colam chicletes nos computadores. Um dos principais alvos é a instalação da encenadora Bia Lessa, na qual as pessoas puxam (muitas vezes com força desproporcional) fac-símiles de originais do livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, pendurados no teto”.

Publicado o texto, começaram a surgir informações conflitantes. Recebi mails de leitores dizendo que não era assim, que o fechamento do Museu se deu para treinamento dos monitores. Outros diziam que era para manutenção corriqueira, nada de depredação. E ficou o mistério. A Vejinha
errou, foi enganada ou “errou” de propósito? Alguém do Museu mentiu? Afinal, fechou no feriado por qual razão? Fui atrás apurar. E recebi por e-mail a explicação oficial, do próprio diretor do museu, Antonio Carlos Sartini:

“Até a presente data, o Museu já recebeu 74.500 visitantes e não ocorreu algum acidente. Recebemos um público muito diversificado: jovens, crianças, alunos e professores de escolas públicas e particulares; menores assistidos pela Febem; adultos; universitários; terceira idade;
estrangeiros; portadores de deficiências físicas e outros tantos. Realmente, só temos elogios ao comportamento de nossos visitantes. (...) Nos feriados da Páscoa houve a necessidade de treinamento e capacitação de novas equipes de trabalho, além da instalação de novos equipamentos, daí a necessidade de fechamento do Museu. O Museu está operando normalmente, de terça-feira a domingo, sempre das 10:00 ás 17:00 horas, sendo que aos
sábados a entrada é gratuita.”

A edição da Veja em que a Vejinha foi encartada é aquela que tem o ex-pré-candidato-atual-grevista-de-fome Garotinho na capa, com chifres e rabo de capeta... Nada demais. Também acho que Garotinho é lobo em pele de cordeiro.
Mas agora fiquei confuso. Se depredação de Museu é um fato facílimo de ser verificado e mesmo assim a Vejinha errou, imaginem fatos que não são facilmente verificáveis, que são intangíveis e não contabilizáveis? E então, apavorado, ouço um capetinha sussurrar na minha orelha:
- Se a Veja errou com o Museu, será que acertou com o Garotinho? Ah, mas as redações devem ser diferentes. Os repórteres devem ser diferentes. A apuração deve ser diferente. Deve...

Oh, dúvida...

Vou consultar a Caras.




pv: As organizações Globo, um dos principais investidores no Museu (através da Fundação Roberto Marinho), caiu no mesmo 'conto'. A Dona Ana Maria Braga gastou um tempo precioso da vênus platinada para condenar um vandalismo que, pelo jeito, nunca existiu.

Não tem nada a ver mas vou colocar outra dúvida: a quem interessa provar a todo e qualquer custo a tese do "Cronicamente Inviável"?


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02 maio 2006

A Hora e a Vez dos Quadrinhos Nacionais

Nós, que fazemos histórias em quadrinhos, vivemos um momento importante na história brasileira. Enquanto você lê o texto, nesse exato momento, em algum lugar de Brasília, circula o Projeto de Lei 6581/06, que estabelece mecanismos de incentivo para a produção, publicação e distribuição de revistas em quadrinhos nacionais. Ainda que existam pessoas contrárias a presença do estado dentro da indústria de entretenimento – como as HQs – a idéia pode dar o empurrão que faltava a muitos artistas independentes. Vejamos por que e qual sua opinião a respeito.

1o LUGAR: VOCÊ CONHECE O PROJETO?

Eu não conhecia, nem tampouco seu autor, o deputado Simplício Mário, do PT do Piauí. Até que, por curiosidade, encontrei sua página no www.camara.gov.br e fiz download do projeto. Se o senhor em questão ama quadrinhos ou não, o importante está no documento que já passou por algumas etapas e agora, now, in this moment, aguarda parecer das comissões de Educação e Cultura, Finanças e Tributação e Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Ou seja, se não avançar por alguma fase da burocracia, game over.

Então se você faz quadrinhos e gostaria de viver da sua arte, veja alguns pontos do projeto:

O artigo 2o prevê que “as editoras deverão publicar um percentual mínimo de 20% de HQs de origem nacional”. Uma parte da classe acredita que, da mesma forma como acontece com outras artes, o investimento das empresas será feito nos grandes nomes, já estabelecidos e com retorno financeiro garantido, ao invés de apostar no novo talento. Pode ser, pode não ser. Mas cabe a nós, sugerir esta mudança no Projeto antes que vire Lei.

Por um lado mais otimista, já que os lançamentos serão graduais – apenas 5% no primeiro ano de vigência da lei, 10% no segundo e assim sucessivamente – levará quatro anos para atingir a cota de 20%. Uma analogia com a chamada “cota de tela” (art. 55 da Medida Provisória 2.228-1 de 06/09/2001) que abre mais espaço para os filmes nacionais nas salas de cinema. Entretanto, a partir da promulgação da “lei dos quadrinhos”, os autores terão álibis para apresentarem seus trabalhos aos grandes editores que, se forem espertos, poderão perceber a grandeza e o potencial comercial de uma revista em quadrinhos perante um livro.

Sigamos em frente. O artigo 4o é bacana: “Em se tratando de veículos impressos de circulação diária, semanal ou mensal, deverá ser observada a relação de uma tira nacional para cada tira estrangeira publicada”. Alguns veículos já o fazem isso, outros não. Mas além da proporcionalidade, é preciso mais incentivos para que os jornais chegassem a ter uma página (ou mais) de quadrinhos, como um dia foi O Globo, por exemplo. Antes de reformular seu projeto gráfico, o JB tinha mais da metade de sua página com artistas nacionais. Porém, perdeu a oportunidade de fazer uma seleção pública, como a Folha de SP, para novos ilustradores, quadrinistas e cartunistas. Porém o Caderno B pode dar uma bola dentro de começar a debater o assunto em suas matérias de capa, como faz com o cinema e a indústria fonográfica.

Outro artigo legal é o 5o. Através dele, o poder público implementará medidas de apoio para estimular a leitura em sala de aula, promover eventos e encontros de difusão do mercado editorial (imagine ter de novo a Bienal de Quadrinhos como existe a do Livro), e a inserção de disciplinas práticas – como roteiro e desenho – no currículo das escolas e universidades públicas.

Como alguém ainda não se tocou de usar mais quadrinhos no material didático que o MEC compra aos montes todos os anos? Quanto mais cedo a criança conhecer uma HQ, recortar, folhear, rabiscar, mais ela gostará de quadrinhos. E além de educar, que é uma das mais nobres tarefas do mundo, estará formando-se um novo público leitor. Isso é importantíssimo se levarmos em conta que, nos últimos anos, a HQ perdeu espaço pra TV, pro cinema, pra internet e pro videogame.

O artigo 6o é, do ponto de vista prático, um dos melhores. Diz assim: “os bancos e as agências de fomento federais estabelecerão programas específicos para apoio e financiamento à produção de publicações em quadrinhos de origem nacional, por empresa brasileira, na forma de regulamentação”. Ou seja, você poderá chegar, por exemplo, no Banco do Brasil, BNDES ou Caixa Econômica e se inscrever num Programa Pró-HQ para conseguir empréstimos e, por que não, apoio jurídico e institucional, para realizar seu sonho e lançar suas revistas.

Viaja nisso. O mais difícil no lançamento de uma HQ é imprimir, distribuir e, principalmente, manter uma boa tiragem e uma periodicidade. A partir do momento em que você tiver um plano de viabilidade do negócio (para não pôr dinheiro em algo fadado a dar errado) e algumas “bonecas” do gibi comprovando que já existe roteiro, personagens e páginas já rascunhadas, poderá mandar pra gráfica, distribuir em variados pontos de venda e tentar viver do que você gosta. Existe algum mal nisso? Se o músico também adoraria se sustentar da sua própria criação, por que o quadrinista tem que viver de trabalho free lancer desenhando apenas as idéias dos outros?

Ainda dentro desse artigo, o 2o parágrafo está OK (“os projetos financiados com recursos públicos deverão destinar percentual de, no mínimo, 10% da tiragem para bibliotecas públicas”) por que é um prazer ter as HQs ao lado dos livros, porém o 1o parágrafo propõe que “será dada preferência àqueles de temática relacionada com a cultura brasileira”. O grande problema disso é cair no nacionalismo que rege os editais do Ministério da Cultura. Ou seja, a prioridade será para HQs de folclore, samba, etc e tal. Nada contra. Mas precisamos discorrer com o Dr Simplício Mário sobre o que chamaremos de cultura brasileira.

Basicamente é isso. Eu parei e li o projeto do deputado piauiense. Para quem gosta e/ou faz quadrinhos, é melhor uma lei que os proteja do que nada. É possível ser íntegro e independente, mas sem dinheiro não se publica revistas. Em papel, claro, antes que apareça um entusiasta da web dizendo que a rede é a salvação. Para que ela seja aprovada é necessário que a própria classe esteja unida em prol dela, e não contra. Sem pressão externa, é bem possível que o projeto tenha sua votação adiada por muito tempo. Ou quem sabe até esquecido numa gaveta de arquivo da capital federal? A hora é agora, vamos discutir o que pretendemos para fazer do hobby profissão, e conquistar um futuro com final feliz.

>> PEDRO DE LUNA, 31 anos.

Escreve, desenha e organiza eventos.

Escreve no Jornal do Rock, sk8.com.br e Punknet.com.br

Desenha tiras, quadrinhos, charges e cartuns. Dá aula para criança e adolescente.

Organiza o movimento Araribóia Rock, em Niterói (Rio de Janeiro).

Disposto a trocar idéias.

pedro@sk8.com.br / pedrodeluna@laboratoriopop.com.br / www.bandasdesenhadas.hpg.ig.com.br