25 fevereiro 2005

Stationary Traveller

Putz!! Sei lá como lembrei o nome d'um disco do Camel (!?) pra batizar este post. Mas, por enquanto (tomara!), o nome tem tudo a ver. Seguinte: dia 03/Fev comecei uma viagem um tanto insana. Antes, pra confirmar o 'clima' de série, deix'eu usar outra imagem belíssima do McKean (Four Seconds):



Hehe. Então... 'Reconhecimento de Padrões' (William Gibson) fez nascer de novo um tesão danado de visitar o Reino Unido. A forma como Londres e arredores são apresentados provocou. Há uns 4 anos eu comecei a montar um roteiro bem 'off-CVC' (ou seja, totalmente fora dos padrões 'vovô' de nossas agências de turismo). Três temas devem nortear o plano de viagem: Rock'n'Roll, Futebol e Álcool!!! (No meu ponto de vista, que me perdoe Joyce, trata-se do tripé de toda cultura inglesa - santa heresia...)

Portanto Londres, Liverpool, Birmingham, Manchester, Dublin, Glasgow e as terras altas escocesas são tiro certo! Tudo de trem e s-pé 2. Programa 'mochilão' mesmo (faz lembrar algumas edições do 'Lonely Planet'... fantástico).

O lado 'boleiro' da viagem deve se limitar a Londres mesmo. Única certeza: Highbury, estádio do Arsenal (culpa do Nick Hornby, autor do 'Febre de Bola' que acabei de ler). Talvez Old Trafford (do Manchester United), mas só se rolar um clássico. Eu sei, eu sei... futebol inglês é uma bosta! Mas a coisa toda começou lá. Há um fanatismo parecido com o nosso. Talvez até mais violento. Mas é uma cultura totalmente diferente. Imagina, sair do estádio depois de um jogaço (para os padrões ingleses) e visitar um pub e escutar Van Morrison... putz! É algo muito diferente do que acontece por aqui.

O trecho 'etílico' da viagem deve se concentrar quase que exclusivamente na Escócia (já pensou? Chegar lá e fazer como o Josimar da copa de 86: "quero whisky importado, oras!"). Lógico que não se visita Dublin sem cair numa cervejinha. Mas falo do lance 'cultural' da viagem. Conhecer 'alambique' e coisa e tal. Só na Escócia mesmo.

Mas 80% do roteiro deve perseguir os principais pólos 'roqueiros' daquela ilhona. Daí a inclusão de Birmingham (que, ao que tudo indica, é uma cidade feia pra xuxu), mas que gerou coisas como o Black Sabbath. Daí uma chegada na Irlanda do U2. Se o roteiro não incluir pelo menos uns 5 shows de grande porte não serve. Showzinho de pub espero ver quase todo dia!! (calma - não será um 'Despedida em Liverpool').

Não gosto de tanto 'planejamento', mas nesse caso (raríssimo e caríssimo), carece. Hehe... viajante estacionado! Minha intenção é embarcar só em 2007!! Mas para 2 meses, no mínimo. Aí, quem sabe, uma esticadinha pra conhecer Barcelona... xi...
Legal é que passarei 18 meses (entre livros, guias, sites, CDs e filmes) montando um roteiro muito detalhado. Do 'Reconhecimento de Padrões' tirei até nome de rua!

Mas, como eu conversava com o Gus na semana passada, tô com certo peso na consciência. Conhecer o Reino Unido antes d'um passeio por Argentina, Peru, Bolívia e Chile é sacanagem, né? Mas falo sobre o 'outro roteiro' quando terminar "De Moto pela América do Sul", livro do Che que deu origem ao "Diários de Motocicleta".



Viaja...

24 fevereiro 2005

Pandeiros

Por Joaquim Ferreira dos Santos

Esse é o país — já que de vez em quando aparece alguém nos jornais perguntando que país é esse — esse é o país em que se bate o portão na cara da Velha Guarda da Portela porque, se ela desfilar, vai prejudicar a festa.

Esse é o país que acabou de passar na sua televisão e nas primeiras páginas dos jornais. O país da bunda jovem, da redondilha maior em que queremos todos meter a nossa poesia e dar dez, nota dez sem tirar de dentro. O país do chulo. Do rabo como item cultural. O resto é velharia. Descartável. Um bando de tradições miseráveis que só atrapalha a evolução da escola, desconta ponto no quesito harmonia, atravanca o progresso geral da nação e provoca cacófatos danados como esse.

Dois anos atrás um ministro de assuntos ordinários chamou toda essa gente velha pra fila, pôs embaixo do sol e ligou o gás. Os pretos velhos sobreviveram. Vaso ruim, a Fernanda Young tinha razão, não quebra. Agora bate-se-lhes com o portão na cara. Falta bunda redondinha na Velha Guarda da Portela, falta silicone nos seus peitos muxibinhas, falta botox em sua beiçolinhas africanas. E, onde já se viu?, ainda querem passar sob as luzes da mesma avenida em que a câmera voadora da Globo dá uma geral de frente e verso, por cima e baixo, da Juliana Paes.

Aqueles crioulos velhos da Portela fugiram da polícia no século passado, cresceram no sapatinho, improvisaram à luz das gambiarras, batucaram na cozinha, botaram toneladas de paio no feijão, mas infelizmente não sabem mais se comportar diante do camarote da Nestlé. Inventaram a festa, os pobres coitados. O que adianta se não têm mais pique para desfilar no tempo previsto?!

Fecha o portão no reco-reco neles!

Aos rigores do novo regulamento e da falta de respeito com qualquer cheiro de tradição!

Isso aqui, ô, ô, é o terreiro que está reescrevendo a frase clássica de que um país se faz com homens e livros. O acúmulo de conhecimento já era. Bullshit. O Brasil é feito de homens e bundas novinhas. Bundas de preferência calipígias, esse best-seller de carne crua suculenta, steak tartar para se cair de boca e devorar, procurando em sua pimenta escondida um sentido que explique nossa falta de cabeça e imaginação.

O carnaval de 2005 vai entrar para a história como aquele em que os velhos da Velha Guarda choraram, marginalizados pelo estigma de estarem na festa desde o seu início.
Foi o carnaval em que as bundas invejosas sorriram por estarem agora usufruindo da delícia de comandarem o cordão moderno.

Esse é o país — já que a toda hora aparece um beletrista perguntando para onde vamos — esse é o país que vai sempre atrás de um rabo qualquer balançando. Não à toa, as grandes exemplares da nova raça são chamadas “cachorras”.

Nada contra a bunda, Deus que me livre de tamanha heresia, e seu poder de animação pândega. Há até quem sugira, na roda de chope do Bracarense, que ela roube do cinema o slogan de “a melhor diversão”. Pode ser. Mas o pandeiro em que se bate aqui é outro.

Fernando Pamplona inventou os enredos sobre a história dos negros, Joãosinho Trinta dimensionou os carros para os novos tempos, Fernando Pinto popicalizou a festa — e, à cultura da Mangueira, dos malandros do Estácio, das tias baianas da Praça Onze, esses artistas revolucionários iam acrescentando sua imaginação respeitosa para com o passado. Em 2005, a grande novidade do desfile foi um laquê que mantém as bundas mais durinhas, bundas agora tão vitreamente plastificadas que já deixaram para trás sua vocação original. Viraram autênticos carros alegóricos. Breve, estarão entre os quesitos a serem pontuados por especialistas formados nos cursos da Liga das Escolas.

(Este ano, a propósito, já surgiu nos jornais um analista de rainhas de bateria, essas senhoras que nada mais são do que as melhores bundas de cada agremiação. O crítico pontuou cada uma delas, digo, as rainhas, com análise muito séria de performances, de suas relações com os ritmistas e empatia com o público.)

Uma bunda é uma bunda é uma bunda — acho que Gertrude Stein andou dizendo alguma coisa parecida — e todas juntas podem até fazer uma festa animada sábado à noite num apê de Copa. Carnaval, se eu entendi o que estava escrito nos sambas de Silas de Oliveira, é a história de outra orgia. Nela, Tia Surica, em quem bateram com o portão na cara, vale mais que a Carol Castro, em quem só bateram com as carícias dos flashes. A história dos povos ainda não registra nenhuma cultura formada a partir do par de glúteos,talvez porque eles sejam comuns a todos os povos. Falta-lhes originalidade artística. Não é verdade sequer, como julgam os especialistas, que as bundas nacionais são melhores que as de todos os países do Mercosul e da União Européia juntas. Mentira, orgulho bobo. As bundas brasileiras apenas são mais exibidas.

Esse é um país que gosta de esquecer sua História, seja por falta de fosfosol no cérebro, seja porque preferiria que ela fosse diferente. Bater com o portão na cara do passado e liberar o acesso das neobundas galácticas de laboratórios é uma dessas tentativas equivocadas de reescrever o Brasil como um puro-sangue que não cabe em si, muito menos na calça da Gang, de tão arrogante.

São 500 anos de poucas glórias. Inventamos uma mistura de limão com cachaça, o chute com três dedos — e o que mais mesmo?

A Portela fez com o carro da Velha Guarda o que os jornalistas fazem com seus textos. Deixam a parte menos interessante para o final porque, se não couber no espaço, corta-se por aqui mesmo. Ninguém sentirá falta das idéias desbundadas.

Chama-se a técnica de “pirâmide invertida”. Os pretos velhos dos subúrbios são aqueles que abriram a roda e aprenderam a bater tambor de um jeito diferente, o tal do samba, uma das outras colunatas dessa civilização pobre, pero divertida, que eles ajudaram a erguer. No desfile da Portela, a Velha Guarda estava no final, um penduricalho sem importância, pronto para o abate — e não deu outra. Esgotou o tempo? Corta fora a velharada que só atravanca o progressio

Eu acho o contrário, mas sei que nesse bundalelê geral minha opinião também pouco interessa. Pode cortar. Fecha o portão na cara dessa velha-guarda jornalística.



Extraído do Jornal O Globo Online, de 14.02.2005 (2ª feira), "Segundo Caderno".

ps do pv: Diogo Mainardi tem que aprender muito até chegar no chinelo do Joaquim, não?

22 fevereiro 2005

Constantine

Conheci o personagem numa das primeiras edições da Vertigo em português. A 1a série publicada não contou suas origens. John Constantine estava prestes a morrer de câncer. Até que entra num duelo com o Demo. Entre bebedeiras na Irlanda, traições e cenas pra lá de bizarras, John consegue uma sobrevida. Ele parece nunca decidir se prefere a morte (que já conhece bem) ou sua pelegrinação condenada por um dom não solicitado: sua capacidade de ver e lidar com entidades que não são desse mundo.



Eis que, para minha surpresa, a Warner está lançando 'Constantine'. Vc já viu o inferno?



Não gosto de criticar por antecedência, mas Keanu Reeves?!? O agente do cara realmente é muito bom. Neo (Matrix), Advogado do Diabo, e outros tantos bons papéis. Edward Norton (Clube da Luta) tem muito mais a cara do John Constantine que o Keanu. Ou então o Ralph Fiennes (Dragão Vermelho). Saca só:



Bom. Ainda bem que não escalaram o Sting para o papel. Alan Moore se inspirou no cantor quando desenhou John pela primeira vez.

O filme (+trilha*fotografia^Rachel Weisz) promete. Mas acho que quanto mais vc conhecer o personagem, menos gostará do filme.

20 fevereiro 2005

Webmaster of Puppets in the Sky with Diamonds

Tô brincando não... ou tô, sei lá: http://www.beatallica.org/beatallica.html



"A Garage Dayz Night" é do caralho... só pra se divertir, obviamente.

15 fevereiro 2005

Lista :: Experimentais

A revista Mojo fez uma lista com os 50 discos mais "experimentais" de todos os tempos. o 1o dos Mutantes apareceu em 12o lugar!!

Saca só os 10 mais:

1. Captain Beefheart - Trout Mask Replica (1969)
2. Sun Ra - Space Is The Place (1973)
3. Miles Davis - Agharta (1975)
4. Funkadelic - Maggot Brain (1971)
5. Butthole Surfers - Locust Abortion Technician (1987)
6. Faust - The Faust Tapes (1973)
7. The Jimi Hendrix Experience - Axis: Bold as Love (1967)
8. John Coltrane - Ascension (1966)
9. The United States of America - The United States of America (1968)
10. White Noise - An Electric Storm (1969)
12. Os Mutantes - Os Mutantes (1968)
13. The Velvet Underground - The Velvet Underground (1968)
14. Beatles - Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band (1967)
23. Frank Zappa - Lumpy Gravy (1967)
40. Pink Floyd - The Piper at the Gates Dawn (1967)

Breves comentários:

1. Mutantes mais experimental que Sgt Pepper's???
2. 'Agharta' é só a 'compilação' (pop-palatável) de 'Bitches Brew' e 'In a Silent Way'
3. 'Ascension' não é metade de 'A Love Supreme'
4. Yardbirds, Herbie Hancock, Stones, Santana... onde estão?

Pequena Empresa, Excelente Negócio

Ontem apresentei a 80H, pequena gravadora que acredita na força da web para divulgar seus artistas. Pois bem, a MagnaTune vai além. Todo o conteúdo gerado por seus 280 contratatados é liberado sob licença CC.



Saca só o moderníssimo modelo de negócios.

Texto de abertura do site:

We're a record label. But we're not evil.
We call it "try before you buy." It's the shareware model applied to music. Listen to 349 complete MP3 albums we've picked (not 30 second snippets). We let the music sell itself, because we think that's the best way to get you excited by it.

Our selection is intentionally small: we never waste your time with mediocre music.
If you like what you hear, download an album for as little as $5 (you pick the price), or buy a real CD, or license our music for commercial use.

Artists keep half of every purchase. And unlike most record labels, our artists keep all the rights to their music. No major label connections and no venture capital.

We are not evil.

14 fevereiro 2005

Pequena Empresa, Bonito Negócio

Já ouviu falar no 'Tunnel Motor'? E no 'Saw'? Não? Nem eu.



Mas se o som for zomeno, a chance delas ficarem conhecidas é grande. As bandas são da gravadora 80H, que se apresenta assim:


We are primarily a web only record label. This means that all of our releases are available as FREE downloads. We also offer select releases in limited edition CDRs. All of our releases are listed below.

You can send an email to records at 80h.com with any questions, comments, etc. If you would like for us to listen to your demo, include a link to your music online. Please realize we are a very, very small label. If you like what we do, and think that we'll like your music, then please write us. We'll make room if we can.




Legal né? No site vc consegue baixar todos os sons, na íntegra. Só falta eles conhecerem o CC e ficarem mais moderninhos ainda.

11 fevereiro 2005

Fados Futebolísticos

A culpa é do "Febre de Bola" do grande Nick Hornby. Comecei a lê-lo semana passada, pouco antes do carnaval. É fantástico. Já tá na minha lista de 10 melhores de todos os tempos. Mas faz mais sentido pra loucos por futebol. Coisa que eu pensei que não era mais. Sou! Quem passa boa parte do sábado de carnaval reconfigurando o Winning Eleven com a nova formação do Corinthians não é normal. Segundo Nick, é retardado mesmo!



Ontem (qui, 10/fev/05) ouvi o jogo todo do Timão contra o Rio Branco de Americana. Há uns 5 anos eu não fazia isso! E como é gostoso. Aí, saia um gol eu corria pra sala pra vê-lo no SporTV (que transmitia um chatíssimo Santos X Guarani). Rodrigo Simões (?), da rádio CBN, assistia ao jogo como dublê de comentarista e corinthiano roxo. Sua descrição do Pacaembu foi coisa de apaixonado. (E, realmente, como é belo o Pacaembu. Na minha opinião, o mais bonito campo de futebol das Américas).

Aí, terminou o jogo, vi os melhores momentos e voltei pro "Febre de Bola". 50 páginas depois comecei a pensar. Caramba! Acho que eu tenho tantas memórias futebolísticas quanto o Hornby! Quando ele citou "Fados Futebolísticos" bateu a ficha definitiva: tenho que ter um Blog só pra falar de futebol. Taí! Nasceu mais um irmãozinho do Graffiti e do Blue Noir: Fados Futebolísticos !

O Gus exclamou: Fado!?!? Pois é: vai saber pq o tradutor colocou "Fado" lá. Mas fado é um estilo musical (e música e futebol são gêmeos de alguma forma) muito bonito e sempre triste. Uai... pq o tradutor colocou "Fados Futebolísticos"? Qual seria a expressão original do Hornby em inglês? Ainda descubro. (Desconfio seriamente que deve ser "Soccer Blues" ou algo do tipo). O nome é perfeito para o que quero escrever.

Meu irmão (de novo o Gus) falou que será um livro. Pretendo apenas que seja uma coletânea de Fados, gols, causos, dribles, boas e más lembranças, craques e perebas. As memórias serão drenadas em ordem cronológica decrescente. Um ou outro grito de gol pode pintar no meio do caminho. Roubei a idéia (e o título) do Hornby sim... pq não?

A Zona

por Luciano Pires

Sou de Bauru, terra onde surgiu Pelé, onde nasceu o inventor do sanduíche mais famoso do Brasil, do primeiro astronauta brasileiro e...da Eny. A Casa da Eny foi, talvez, o mais famoso prostíbulo brasileiro nos anos 60 e início dos 70. Até hoje passo pela estrada e vejo o luminoso, caindo aos pedaços, onde se lê “Eny´s drinks”. Mas “prostíbulo”, para definir a Eny, era pouco. Administrado com competência pela “tia Eny”, recebeu até presidentes da república. As garotas eram maravilhosas, algumas se tornaram celebridades na TV anos depois. Um paraíso, num tempo em que o pior que podia acontecer era uma gonorréia...Nada que o Julinho da farmácia não resolvesse...
Hoje me pego pensando no papel que as “zonas” tiveram no desenvolvimento das cidades do interior. Toda cidade tem a sua. O banco, a delegacia, a padaria, a farmácia e a zona eram referências comuns. Tia Eny era figura respeitada, benemerente. Zonas eram aceitas pela sociedade. Quantos garotos não tiveram sua primeira aventura sexual na zona? A prostituta experiente pegando pela frente o garoto nervoso e introduzindo-o, sem trocadilho, nos prazeres proibidos...
Parece que naquele tempo, tudo o que se queria era “vadiar” como dizia o Vadinho de Jorge Amado. Vadiar, divertir-se, dar umas risadas, fazer molecagens. Zonas, hoje, até existem, mas têm um novo componente, que naquela época era raro: o medo. Penso que o fim da Tia Eny, e das zonas como a dela, foi o fim do sexo moleque, sem compromisso, sem vergonha, sem medo. Penso até que foram elas, as prostitutas, as responsáveis por uma espécie de paz que existia naquela época. Quem tinha a cabeça cheia, o saco cheio, a paciência esgotada, ia desafogar na zona. Hoje desafoga espancando o vizinho na torcida do jogo de domingo.
Foram elas também que ensinaram para garotos brutos, como agradar uma mulher. Hoje a garotada aprende entre si, pagando o preço por isso. Quer saber? Antes de ser do meretrício, as zonas eram do equilíbrio. Zonas do equilíbrio...
Pois tenho um conhecido, o Cacá, que aparecia na zona as duas da tarde com três ou quatro convidados, tirava a mulherada do cochilo ou da piscina, pedia umas cervejas, fechava negócios e ia embora sem fazer programa.
- “O tipo de negócio que eu tenho tem tudo a ver”, justificava-se.
Ele tinha uma financeira...
Que ironia...A tia Eny acabou, a zona do meretrício fechou, mas o negócio do Cacá nunca esteve tão bem.



É verdade. Lá em Vga sobrevive até hoje a "Tia Kátia". Lá tem um Cacá também, mas sem financeira...

09 fevereiro 2005

Pra Conhecer PKD

Se tem uma coisa boa no lançamento de 'blockbusters' baseados em contos do PKD é que só assim as editoras se animam a lançar seus contos por aqui. Ambos os filmes comentados no post anterior, 'Minority Report' e 'Paycheck', motivaram o lançamento de 2 coletâneas de contos homônimas. Disponíveis nas melhores livrarias.



Pra saber mais sobre o cara a Wikipedia é o local ideal. E a Wired publicou há mais de 1 ano matéria especial sobre ele: "The Second Coming of Philip K. Dick". Taí!

Blade Runner 10 x 2 Outros

Philip K.Dick escreveu centenas de contos. A maioria é excepcional, não só para fãs de ficção científica. A manipulação de memórias e do futuro são alguns temas recorrentes. E dois contos com tais temas, 'Minority Report' e 'Paycheck' receberam as últimas adaptações para a telona. Orçamentos milionários, diretores de 1a linha (Spielberg e John Woo) e atores idem (Tom Cruise e Ben Affleck). Então pq não funcionam? Pq ficam sempre devendo pra versão de 'Blade Runner' do Ridley Scott?



O principal problema com 'Minority Report' é a falta de respeito com a história original. Roteirista que tenta 'inventar' em cima de história do PKD só dança. E mostra uma baita falta de respeito. Mas cenários e efeitos do filme são muito bons. Spielberg contratou um bando de cientistas pra tentar 'antecipar' alguns inventos. Se deu bem. Mas, no final das contas, perderam uma excelente oportunidade (algo como colocar Joel Schumaker pra dirigir Batman. Desperdício de história, personagem, tudo!).



O que estraga 'Paycheck' é exatamente o diretor, John Woo. Ele é viciado em coreografias de luta, slow-motion, e outros xiliques. Em MI2 pode até caber, mas em 'Paycheck' não tinha nada a ver. Todo protagonista do John Woo é uma versão ocidental do Bruce Lee. PQP!! A história é muito boa. Aqui não tem nada 'futurista'. Ou melhor, quase nada. Ben até que inventa uns brinquedinhos legais. Mas, de novo, desperdiçaram uma excelente idéia.

Hollywood tem mania de simplificar as coisas. Parece que todo filme deve ser uma versão 'for dummies' (taí! Eles podiam lançar versões editadas em DVD. Uma série "para estúpidos". Troca os comentários do diretor por um 'assistente' que ajuda a platéia a entender o filme!!! Vou patentear (hehe) e vender a idéia). PKD nunca foi de fácil degustação. Quem gosta adora, e quem não gosta nunca vai gostar. É sacanagem ficar colocando diretor e ator queridinho pra tentar vender mais. PKD morreu pobre, não por acaso. Acho que 'Blade Runner' nunca mais será batido... (e olha que Hollywood tentou detoná-lo tb, sem sucesso. Falo mais sobre ele outro dia).

07 fevereiro 2005

O Metallica ainda precisa de dinheiro???

Larry 'Lorenço' Lessig, que esteve no Fórum Social Mundial em PoA, mata a pau em sua coluna mensal publicada na Wired. Destaca que no próximo dia 13 rolla o Grammy de 2005. E destaca o trabalho duma banda chamada Wilco. O título da coluna é "Why Wilco is the Future of the Music".

Seguinte: quando sua gravadora, a Reprise (Warner), disse que 'Yankee Hotel Foxtrot' era uma bosta, a banda não vacilou. Colocou o play inteiro na Net. Bom, foi um sucesso! Aí outra subsidiária da Warner, a Nonesuch Records, recomprou os direitos. Pagou 3x o valor original... É só mais um exemplo da estupidez das gravadoras.

Mas legal mesmo é o trechinho da entrevista que Lorenço fez com Jeff Tweedy, líder da banda que concorre a 2 Grammys. Dois tapas-na-cara:

"The audience is our collaborator. We should be encouraging their collaboration, not treating them like thieves".

"If Metallica still needs money, then there's something really, really wrong".

03 fevereiro 2005

Travels

Se William Gibson tivesse o senso de ritmo do Dan Brown, "Reconhecimento de Padrões" teria vendido tanto quanto "O Código Da Vinci". A história é boa demais. Tracei o pacote de 409 páginas em tempo recorde (para meus padrões). Estranho o mergulho numa história bem início de século XXI logo após "O Velho e o Mar" e "Coração das Trevas". O choque é total. Linguagem, estrutura narrativa. É tudo muito diferente. Mas daí que caiu uma ficha daquelas. Há tempos sonho com um período 'sabático' na Europa, particularmente no 'mundo espelho' da Cayce Pollard, o Reino Unido. Vou novamente planejar o EXílio EXploratório pelas terras de Joyce, Hitchcock, Page, Bono, Gaiman, McKean e Connery. Para tanto já enfileirei dois títulos do Nick Hornby (de 'Alta Fidelidade'): "Febre de Bola" e "Grande Garoto". Depois devo cair em "Dublinenses", do Joyce. Vamos ver. (Whatafuckin' travel plan!)



Pra decorar o post escolhi uma foto/pintura digital do Dave McKean que tem o mesmo nome deste post: Travels. Lindona, não?

Voltando ao "Pattern Recognition": 'Levei um pato na cara a 300km/hora' (leia e entenderá). William faz viagens por Londres, Tóquio e Moscou. A riqueza de detalhes e a abundância de referências "cultura inútil" (moda, arte, pop, street, rock, cyber et caralho a quatro) é estonteante. Gibson é a maior enciclopédia viva de nossos tempos (depois da Wikipedia, obviamente). Ele não é só memória não. Pensa também! Tem tiradas fantásticas. Saca só a frase d'uma garota russa:

"Descobrimos que tudo que Lenin nos ensinou sobre comunismo era mentira. E tudo que ele falou sobre o capitalismo era verdade".

Não vou revelar muito da trama pra não estragar o prazer da leitura. Só reforço: leia o livro antes do filme. BTW, sobre o filme, três coisas:

1. O diretor deveria ser o Ridley Scott. Pra descontar tudo que ele deve desde 'Blade Runner'. Aliás, Ridley é citado no livro.

2. O filme tem chance de 'corrigir' o problema de ritmo do livro. Mesmo assim, se tiver menos que 150min será estranho.

3. Assim como Antonioni fez em 'Blow Up', 'Pattern Recognition' tem a chance de ser uma PUTA homenagem ao próprio cinema. Se todo o potencial 'multimídia' for corretamente explorado, testemunharemos a 1a grande arte do século XXI nascer. (Exagero? Sou otimista pracas!)