28 junho 2007

O Armando

Notícia ruim não tem hora pra chegar, né? Acabei de receber o email do Eurico:

Gente,

Venho dar a triste notícia do falecimento do querido Seu Armando, como era conhecido o boêmio Armando Colacioppo. Provavelmente a maioria de vocês o conheceu, vendendo seus bichinhos pelos bares da noite paulistana (batia ponto no Asterix toda noite). Era a doçura em pessoa. Hoje pela manhã ele chegava de sua tradicional ronda com a bicicleta e passou mal. Faleceu antes de chegar no hospital.

É triste. Morre com ele um pouquinho do romantismo, da vontade incansável de não se render e fazer da vida algo diferente. Mesmo que seja na singeleza de roubar alguns sorrisos com bichinhos de pelúcia feitos à mão e piadinhas acerca do nome de cada um. O pequeno fica tão grande nessas horas, não?

Olho para minha coleção de bichinhos e lembro de histórias marcantes sobre vários deles. Não sei se choro ou se rio; acabo fazendo os dois.

O velório será hoje, a partir das 18h, no Cemitério Vila Nova Cachoeirinha. O enterro será amanhã, a partir das 9h.

Descanse em paz, querido amigo!

.:.

Conheci o Armando logo que cheguei em Sampa. Frequentando botecos na região da Paulista, não tinha como não encontrá-lo. Logo virou amigão. Logo virei seu freguês. Cheguei a ter quase uma dezena de seus bichinhos aqui. Perdi alguns por culpa de cupins... Mas a Pantera Cor-de-Rosa segue intacta.

Mas o Armando se foi sem entregar as encomendas para o Brunão e o Mateus: A Vaca e o Frango, ou Batman e Robin, ou qualquer um.



Figura folclórica. Agradabilíssima. Comuna dos bons. Numa vez, comemorando o bi ou o tri do Guga em Roland Garros, perguntamos para ele: "e aí, gostou?". Armando foi curto e grosso: "É jogo de burguês!"

Diz a lenda que ele foi da Marinha. Perseguido por suas convicções políticas, montou com a sogra e a esposa sua fábrica de bonecos. Elas desenhavam. Ele os enchia com alpiste, arroz... e histórias. Tinha uma história para cada um. Um dos mais legais era o "Zé Celso". Lógico, além do ET pintudo.

Armando passava a noite e boa parte da madrugada rodando os bares. Mas eu sempre fazia questão que ele ficasse um pouquinho na nossa mesa. Costumava repetir uma piada: emendava dois ou três canudos, quando lhe oferecíamos um chopps. Colocava o canudão no copo e sugava tranquilo. Explicação: "Meu médico mandou eu manter distância da bebida".

Peça raríssima. Os botecos de Sampa não serão os mesmos sem as suas visitas.

26 junho 2007

Diga Não

Seqüência d'um meme (1/2 fajuto)* que brotou no Graffiti. Vamos lá:

  • Diga não: para coletâneas 'caça-níqueis', discos 'ao vivo' e todas as outras apelações da moribunda indústria fonográfica;
  • Diga não: para CDs e DVDs protegidos contra cópia - você tem o direito de fazer backups (cópias de segurança) e de gravar coletâneas para seus amigos e namoradas(os).
  • Diga não: para as emissoras de TV que se transformaram em geradoras de receitas para operadoras de telefonia.
  • Queremos CONTEÚDO DE VERDADE, INTERATIVIDADE DE VERDADE;
  • Diga não: para as emissoras de TV que escondem nas madrugadas suas atrações mais "cultas" (Observação importante: eu falei CULTA, não CULTO (religioso), ok?);
  • Diga não: para todas as publicações "jabá-driven" (matérias pagas - direta ou indiretamente - você sabe do que estou falando);
  • Ou, no mínimo, exija que elas sejam honestas. Tipo assim: "Tá vendo o mané que apareceu na capa? Então... ele pagou para aparecer, ok?"
  • Diga não: para os críticos musicais pós-punk, aqueles descerebrados que acham que música é atitude - promotores de modas mais efêmeras e vazias que uma bola de chiclé vagabundo;
  • Diga não: para as emissoras de rádio que tocam a mesma coisa todo dia;
  • Diga não: para tudo que não seja ABERTO e SINCERO contigo.


* Explicando (para quem não seguiu o link lá de cima): Hoje é o "Dia Internacional de Combate às Drogas". Aproveitei a motivação para combater OUTRAS DROGAS que afetam o nosso dia-a-dia. Vai lá, mermão: DIGA NÃO!

13 junho 2007

Scratch #087

Obedeço às leis de produção de um produto como outro qualquer, e não vejo mal nenhum nisso. A grande diferença, que talvez seja a mais notada, e que ilude aos mais desatentos, venha do fato de que valorizo determinadas etapas de produção que outros diretores, por suas razões, não valorizam tanto: o ensaio, o trabalho com os atores, o estabelecimento de oficinas de criação e um processo colaborativo. Para mim, isto é fundamental, mas, repito, a matemática final é a mesma para todos, portanto, troco sempre minha listinha acima por gruas mirabolantes etc... Os caríssimos efeitos especiais, pela ilusão. Não há nada que uma lente não possa fazer. Sou simples...

- Luiz Fernando Carvalho (Diretor de "A Pedra do Reino").

A Pedra do Reino

E coloca risco nisso! O primeiro capítulo da micro-série, que passou ontem, foi uma vertigem pura. Que experiência!

Só não foi 100% inédita porque já vi "Lavoura Arcaica" umas 5 vezes. Então pintaram vários "déjà-vu":

  • As cenas do Quaderna na cadeia lembram demais o início de "Lavoura", com o André (personagem do Selton Mello) "preso" em um quarto de pensão. O jogo de sombras, o monólogo "epilético", apressado e desesperado;
  • Quaderna menino "rouba" Rosa de uma quadrilha (dança), e se esconde com ela em um casebre que parece abandonado. Quando se deitam sobre palhas copiam, no quadro e na beleza, uma cena de André e Ana (personagem de Simone Spoladore);
  • A câmera é dinâmica, realça os discursos distorcendo as imagens. Acho que são fotógrafos diferentes, mas o Luiz Fernando Carvalho conseguiu os mesmos efeitos. A única diferença marcante está na cor. "Lavoura" é cinza. A "Pedra" é amarela.
É o tipo de obra que me dá um certo desespero ao assistir. Fico louco por um "pause", uma repetição... Vou ter que esperar o DVD.

[Break para o almoço. Comentário da mama: "Você gostou da série? Nossa, não gostei não. Aquela gritaria. Muito teatral. Eu não gosto de teatro".]

Não falei, mas também não gosto de teatro. Aliás, não tenho experiência suficiente pra saber se gosto. Mas entendi bem o que minha mãe quis dizer: chama a atenção a interpretação "over" de todos os personagens. "Over acting"... é intencional. O Luiz Fernando está experimentando. E usando a vênus platinada como balão de ensaio.

.:.

No Globo do último domingo pintou uma entrevista com o diretor de "A Pedra do Reino". Vou surrupiar alguns trechinhos:

"Procuro trabalhar de uma forma mais inquieta com o universo da literatura, ficando mais aberto para as visões que a leitura evoca. Minhas tentativas com os textos do Projeto Quadrante serão sempre uma resposta criativa à leitura. Eu recuso a idéia de adaptação. Acho isso uma coisa redutora, como se este modelo esquematizasse, enquadrasse, engavetasse as entrelinhas dos textos.

"Não tenho a pretensão de ser autor, mas tenho a necessidade de criar, sou um criador respeitando a síntese dos autores. Aprendi a lidar com essa contradição, que hoje significaria dizer o mesmo que ser um diretor autoral na TV.

... "Não vejo "A Pedra do Reino" como cinema. Gostaria de insistir que é um projeto de TV e para a TV.

"'A Pedra do Reino', no cinema, seria um filme visto pelas classes média e alta. Infelizmente, em função dos preços dos ingressos, do número reduzido de salas, o cinema se elitizou brutalmente. Por isso, é uma alegria muito grande poder oferecer a todo o país uma literatura como a de Ariano."

.:.

O Projeto Quadrante é isso: levar cultura de verdade para nossa pobre TV. Mas o Luiz Fernando arriscou muito - a proposta de "A Pedra do Reino" é radical demais. Talvez seja um "choque" necessário. Mas acho que ele não vai atingir todo mundo que ele queria. Né mãe?