13 junho 2007

A Pedra do Reino

E coloca risco nisso! O primeiro capítulo da micro-série, que passou ontem, foi uma vertigem pura. Que experiência!

Só não foi 100% inédita porque já vi "Lavoura Arcaica" umas 5 vezes. Então pintaram vários "déjà-vu":

  • As cenas do Quaderna na cadeia lembram demais o início de "Lavoura", com o André (personagem do Selton Mello) "preso" em um quarto de pensão. O jogo de sombras, o monólogo "epilético", apressado e desesperado;
  • Quaderna menino "rouba" Rosa de uma quadrilha (dança), e se esconde com ela em um casebre que parece abandonado. Quando se deitam sobre palhas copiam, no quadro e na beleza, uma cena de André e Ana (personagem de Simone Spoladore);
  • A câmera é dinâmica, realça os discursos distorcendo as imagens. Acho que são fotógrafos diferentes, mas o Luiz Fernando Carvalho conseguiu os mesmos efeitos. A única diferença marcante está na cor. "Lavoura" é cinza. A "Pedra" é amarela.
É o tipo de obra que me dá um certo desespero ao assistir. Fico louco por um "pause", uma repetição... Vou ter que esperar o DVD.

[Break para o almoço. Comentário da mama: "Você gostou da série? Nossa, não gostei não. Aquela gritaria. Muito teatral. Eu não gosto de teatro".]

Não falei, mas também não gosto de teatro. Aliás, não tenho experiência suficiente pra saber se gosto. Mas entendi bem o que minha mãe quis dizer: chama a atenção a interpretação "over" de todos os personagens. "Over acting"... é intencional. O Luiz Fernando está experimentando. E usando a vênus platinada como balão de ensaio.

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No Globo do último domingo pintou uma entrevista com o diretor de "A Pedra do Reino". Vou surrupiar alguns trechinhos:

"Procuro trabalhar de uma forma mais inquieta com o universo da literatura, ficando mais aberto para as visões que a leitura evoca. Minhas tentativas com os textos do Projeto Quadrante serão sempre uma resposta criativa à leitura. Eu recuso a idéia de adaptação. Acho isso uma coisa redutora, como se este modelo esquematizasse, enquadrasse, engavetasse as entrelinhas dos textos.

"Não tenho a pretensão de ser autor, mas tenho a necessidade de criar, sou um criador respeitando a síntese dos autores. Aprendi a lidar com essa contradição, que hoje significaria dizer o mesmo que ser um diretor autoral na TV.

... "Não vejo "A Pedra do Reino" como cinema. Gostaria de insistir que é um projeto de TV e para a TV.

"'A Pedra do Reino', no cinema, seria um filme visto pelas classes média e alta. Infelizmente, em função dos preços dos ingressos, do número reduzido de salas, o cinema se elitizou brutalmente. Por isso, é uma alegria muito grande poder oferecer a todo o país uma literatura como a de Ariano."

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O Projeto Quadrante é isso: levar cultura de verdade para nossa pobre TV. Mas o Luiz Fernando arriscou muito - a proposta de "A Pedra do Reino" é radical demais. Talvez seja um "choque" necessário. Mas acho que ele não vai atingir todo mundo que ele queria. Né mãe?

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