25 maio 2007

Só o Fogo da Poesia Pode Descrever

O título acima foi surrupiado da propaganda de "A Pedra do Reino", micro-série que a Globo estréia no próximo dia 12/jun. Parece que, uma vez a cada dois anos, o público da TV aberta será presenteado com uma obra de arte.



"A Pedra" é dirigida por Luiz Fernando Carvalho, o mesmo de "Hoje é Dia de Maria". Luiz Fernando é um diretor único - uma exceção na televisão tupiniquim. Um cara que não se deixa prender nas normas e padrões da telinha. Arquiteto e desenhista, ele não tem medo de arriscar. Os primeiros capítulos da novela global "Renascer", filmados com técnicas só utilizadas no cinema, mostraram bem as ambições do Luiz Fernando.

Mas não é só uma questão de imagem, de estética. Luiz Fernando persegue histórias boas. É um excepcional contador de boas histórias. E parece ter uma queda por textos difíceis. Brigou muito para fazer "Lavoura Arcaica", de Raduan Nassar. Talvez seja o único "filme de AUTOR" tupiniquim desde os tempos do Glauber. Luiz Fernando brigou tanto, que só liberou a versão em DVD quando conseguiu lançá-lo como planejado: um DVD duplo que documenta todo o projeto. Cinema em Pindorama parece exercício para heróicos sadomasoquistas. Para os padrões do Luiz Fernando, vira um verdadeiro calvário. Por um lado isso é ruim, quem sabe quando ele vai se aventurar de novo na telona? Mas, por outro lado, isso é muito bom: Luiz Fernando tem a chance de falar com um público maior, mais heterogêneo e muito carente, os telespectadores.

Por isso ganhamos "Hoje é Dia de Maria" e agora em junho ganharemos "A Pedra do Reino". Quem viu as propagandas já deve ter levado um belo susto. Poesias e repentes declamados por personagens que brilham e exageram em seus gestos e vestes. Cultura do sertão nordestino. Mais uma adaptação de uma obra de Ariano Suassuna. Só não esperem nada parecido ou engraçado quanto "O Auto da Compadecida". A mini-série e o filme de Guel Arraes foram legais e bem populares. A proposta do Luiz Fernando é um tanto mais arriscada.

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Aliás, um risco (muito bom) que parece que a Globo quer correr. "A Pedra do Reino" faz parte do Projeto Quadrante. Outras três adaptações estão previstas: "Capitu" (baseada na obra de Machado de Assis - RJ), "Dançar Tango em Porto Alegre" (Sérgio Faraco - RS) e "Dois Irmãos" (Milton Hatoum - AM). Que dê certo. E que os futuros quadrantes contemplem Guimarães Rosa - MG, de preferência sob os cuidados de Luiz Fernando Carvalho.

10 maio 2007

Scratch #086


"E eu aqui, sem uma camisinha!!"

Que barato! O poster aí é australiano. Da época da 2ª guerra mundial. "Pro" é de "prophilactic". Hoje eles costumam chamar de "condom". Abaixo da frase do Donald um aviso do ministério da saúde deles: "Seja esperto - doenças venéreas (VD) estão em alta".

Hoje em dia, os dogmas e a ignorância são mais perigosos que qualquer doença. Matam mais que bala perdida.

09 maio 2007

O Papa é SuperPop

Detesta a prosa-ruim de engenheiros? Eu também. Mas em duas eles acertaram: o Papa é pop! E a noite cai de alturas impossíveis.

Não importa que a Ilze lembre todos os dias que o Benedito não tem o carisma do Karol. O show tá montado. E nossa TV oficial fará cobertura completíssima.

Boa hora para tirar férias dos telejornais oficiais.

Não tem nada a ver com religião e opções. Os problemas são outros:

Questionam se temos capacidade para organizar um evento esportivo qualquer. Mas concordam em destacar 20 mil policiais para cuidar da segurança do Papa.

Em horário nobre nos enchem de detalhes nobres da nobre visita. E escondem no telejornal da madrugada uma bela matéria sobre padres espanhóis esquecidos no Centro-oeste. Padres de nobres propósitos.

Propósitos censurados há tempos. Afinal, deve prevalescer apenas aquela inocente alienação embalada por uma trilha sonora alegrinha. Axé? Por que não? Primeira vez na história da humanidade que a palavra "RENOVAÇÃO" é utilizada para a perpetuação de costumes.

Costumes que representam uma moral. Arcabouço de uma vida ideal. Não importa que certas "leis" custem a vida de milhares ou milhões. Importa é a vida ideal. Apreciada através d'uma janelinha de meio metro quadrado. Ou de 21, 29 ou 42 polegadas...

02 maio 2007

Brasyl

"Imagine um Blade Runner nos trópicos". Assim começa a apresentação de "Brasyl", novo livro de Ian McDonald. Cory Doctorow (BoingBoing) sabe muito de sci-fi. Ele diz que a sensação ao ler "Brasyl" é do mesmo tipo daquelas geradas por "Neuromancer" (Gibson) e "Blade Runner". No título de seu comentário, Cory tascou "mind-altering cyberpunk carioca". Depois deste aval, tudo que eu quero é ler logo o livro (que acabou de ser lançado lá fora).

As três histórias do livro se passam no Brasil. Uma nos tempos atuais, outra no século XIX e a última em um futuro próximo. Resta torcer para que o McDonald conheça um pouco mais de Brasil do que o seu colega William Gibson. Explico: em "Reconhecimento de Padrões", num breve trecho (ufa), Gibson trata os brasileiros como um bando de fanáticos religiosos.

Não é a primeira vez que "Brasil" vira título de uma obra de ficção científica. Tem aquele filme do Terry Gilliam, "Brazil". Sorte nossa, ficamos só no título. Escapamos d'outra enrrascada há pouco: "AeonFlux", com a bela Charlize Theron, quase foi filmado em Brasília. A diretora queria uma arquitetura radical, "cercada de selva por todos os lados" (tá nos extras do DVD). Selva? Como enfrentaram muitas dificuldades (com os deputados?), acabaram optando por Berlin. Tudo a ver.

Dá pra usar o Brasil como tema ou cenário para obras de ficção científica? Nossas contradições e tradições darão espaço? Só lendo "Brasyl" pra saber.