26 julho 2005

Cliente Morto não Paga

A onda já dura mais de ano mas segue firme. Tô falando da tal "Remix Culture". Na edição de julho da Wired é matéria de capa e tem artigos interessantes do grande Neil Gaiman entrevistando os Gorillaz, do William Gibson e um sobre o Tarantino (que seria o "Rei dos Ladrões"). Todos tratando do mesmo tema: somos, mais que nunca, uma geração "cut&paste".

A força do movimento está em braços despidos de qq modismo: as licenças Creative Commons e organizações como a Free Culture. Serve de 'vacina' caso a Wired troque de onda. Mas por enquanto a revista vem forte, apoiando os movimentos e incentivando a "pirataria do século XXI". Tanto que em novembro do ano passado lançou um CD só de músicas "pirateáveis". Bem legal.

Mas é sempre bom lembrar que não estamos falando de nada novo. Como Lawrence "CercaLorenço" Lessig gosta de lembrar, SEMPRE fizemos uso de outras criações como matéria prima para nossas próprias criações. O Mickey Mouse deu as caras pela primeira vez em 18/nov de 1928, numa animação chamada "Steamboat Willie". Walt Disney fez uma paródia de um grande sucesso da época, "Steamboat Bill Jr.", de Buster Keaton. O mundo da música pop então, é um universo de referências circulares, hehe...

E não há nada de errado nisso! "Plágio" e "desrespeito a direitos autorais" só viraram a loucura que são hoje pq tem muita faculdade de direito nos Estados Unidos... eles precisavam arrumar serviço pra tanto advogado... hehe. Vc sabia, por exemplo, que "Os 12 Macacos" foi retirado do circuito pq um maluco alegou que um móvel que aparecia no filme fora baseado em um rascunho seu? Ele tava pedindo centenas de milhares de doletas de indenização... ridículo assim. Na maioria das vezes. Daí que samplers, máquinas fotográficas digitais, iPods e micros viraram um pesadelo para grandes corporações que vivem de 'distribuir' criações. Elas criaram o pesadelo, diga-se de passagem.

Mas nem sempre foi assim. Em 1982 Carl Reiner conseguiu gerar uma obra prima bastante singular na história do cinema: "Cliente Morto não Paga". O protagonista, Steve Martin, simplesmente contracena com Humphrey Bogart, Burt Lancaster, Kirk Douglas, Ingrid Bergman, Lana Turner, Ava Gardner, Veronica Lake e vários outros. Reiner montou o filme utilizando cenas de várias outras produções, criando diálogos impagáveis. Bogart (Marlowe), por exemplo, é auxiliar do detetive interpretado por Martin.


Pena que o DVD não traga um mísero 'making-of' sequer...
Mas é item obrigatório na formação básica de cinéfilos...


Voltando: hoje, para viabilizar algo do tipo, um estúdio teria que lançar mão de centenas de advogados, negociando 'direitos autorais', 'direitos de imagem', e uma série de outros 'direitos' que andam matando nosso 'direito' de ter acesso a criações realmente inteligentes.

Que a 'moda Remix' deixe, no mínimo, um pouco de bom senso.

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