17 março 2005

D'Bate Papo Possível

Cazuza: Acho que o poeta é um insatisfeito. Então a noite, a vida noturna, a vida boemia, da farra, são geralmente frequentadas por pessoas insatisfeitas... Acho que é a própria insatisfação do artista que o leva a ter uma vida desregrada... Você diz que eu sou poeta, mas eu me considero um letrista, gosto de falar que sou letrista, porque eu acho que tem uma distância entre poesia e música popular...

Renato: Sempre gostei de música como forma de expressão. Os românticos de antigamente como Casimiro de Abreu, escreviam poesias quando tinham 20 anos. Depois, no início do século XX, vieram os pintores e escultores na Semana de Arte Moderna. Teve o pessoal que fazia teatro coletivo na década de 60 aqui no Brasil. Pra gente, o rock foi o caminho ideal. É mais fácil compor uma canção e cantar do que escrever um livro. Qual a outra alternativa? Fazer um vídeo? Isso é outra área, outra geração. Como sou muito verbal, nenhuma outra forma iria traduzir o que eu queria dizer.

Cazuza: O rock já não é uma coisa da qual se possa debochar... A gente está com uma força de palavras, as pessoas estão ouvindo o que você fala, o que o Lobão fala... Por mais que cada um tenha caminhos loucos, eles estão falando. Somos uma geração muito mal informada - não tivemos participação política alguma; estamos chegando aos tropeções. A gente nunca teve ideologia...

Renato: É, eu não percebo como sendo político, para mim é a minha vida. Se a gente falava dessas coisas é porque estavam acontecendo com a gente. Eu só consigo falar do que sinto e do que vejo, não tenho muita capacidade para inventar. E sempre a partir do Renato Russo. Detesto ficar falando Renato Russo... é tão chato...

Cazuza: Eu tenho um lado que leva as coisas muito a sério. Eu pareço ser uma pessoa que não leva nada a sério! E o que me salva na minha vida é que eu não consigo levar esse meu lado sério tão a sério.

Renato: Eu não sei. Renato Russo é um personagem, né? Ele que pense alguma coisa sobre o assunto... Estou brincando. Minha vida continua normal e eu não me considero ainda um grande letrista. Tenho muito que escrever ainda, mas eu gosto que as pessoas pensem assim. Agora, no próximo disco vão pintar coisas bem simples, tipo... "baby, baby eu te amo", e aí muita gente vai pensar que Renato Russo acabou e coisas afins. Eu não me preocupo com essas coisas de ego, e sim em fazer com que a pessoas entendam coisas que sejam reflexos do que eu e a banda pensamos e sentimos. Até o LP Dois eu sentia o mundo muito confuso, por isso saíam letras complexas. Agora eu estou sentindo emoções bem simples básicas, tipo "eu gosto de você e pronto", sem nada de " ... linho nobre pura seda" ou de " ... rabisquei meu horizonte". Mas isso é o que estou pensando nesse momento. Daqui a 15 minutos eu posso mudar de opinião.

Cazuza: O que passo para as pessoas é muito mais do meu trabalho do que das coisas que faço fora dele. É claro que existe todo um folclore em torno do meu nome. Tudo quanto é matéria relacionada a bar, por exemplo, tem que ter o meu nome, por que sou realmente um frequentador da noite. Mas o que fica mesmo pras pessoas que consomem meu trabalho é a mensagem romântica que está no que escrevo. O meu trabalho tem muito essa coisa de cutucar a dor de amor. É o lado meio dark do amor que as pessoas curtem em mim.

Renato: Eu gostaria que a coisa mais importante fosse aquilo que as pessoas escrevem nas cartas para a gente: "Vocês são legais porque são que nem a gente." Bom, eu acho que isso é uma romantização... essa é a imagem do Legião, mas as pessoas percebem que nós somos quatro amigos que fazem música. Não mudou nada. Até hoje eu não sei tocar direito... A gente é super não profissional, é amador no bom sentido, de quem ama o que faz. O importante é isso, mas as pessoas ficam em cima - Rolling Stones/Mick Jagger, RPM/Paulo Ricardo... e não é Legião/Renato Russo. É Legião. Só que eu falo mais - eu sou muito ambicioso -, dou sempre um jeito de falar a coisa certa na hora exata. As letras só tentam provar que alguma coisa é possível... mas as letras são feitas em cima do que os quatro vivem. Quando a gente começou era assim: vamos fazer uma banda? Vamos. Então decidia o nome, as turnês, mas nem sabia tocar.. Mas é isso, quem mais sonha é quem mais faz, eu acredito muito nisso, e também que quem espera sempre alcança. Eu vivo dizendo isso, são as máximas de Renato Russo... Era divertido, é divertido, se não forfun, não tem graça nenhuma. Ultimamente, estava ficando meio pesado, daí eu dei uma parada para ficar divertido de novo. Eu diria que é o seguinte: embora as letras sejam importantes, elas são um meio e não um fim.

------------------------

O papo aí é fictício. Uma colagem de entrevistas que surrupiei daqui e daqui. Mas ontem eu vi os caras... num boteco dos Jardins:



Não vale perguntar o q foi q eu bebi...

1 comentários:

Anônimo disse...

Os dois? Juntos? E com uma prosa autobiográfica dessas?

Se fosse um só eu não perguntava, não, mas vai me dizê que vc tomou caipi-tequila em plena quarta-feria???

Hehehe... Tá danado...