por Luciano Pires
Outro dia ouvi no rádio uma baita discussão sobre a política econômica. Havia sido anunciada mais uma vez a prévia da inflação da quadrissemana comparada com a quadrissemana anterior e o índice apresentava crescimento. O crescimento era de 0,02 por cento. Zero vírgula zero dois por cento. Mais ou menos nada. Ninguém pergunta qual a margem de erro desses levantamentos, vai logo colocando o zero vírgula nada como indicador de crescimento ou queda. E se for pra pior, mais destaque ainda.
A cada momento que somos expostos à mídia, recebemos uma enxurrada de estatísticas: sobe o desemprego; cai a capacidade de compra; aumenta a produção da indústria; sobe o dólar; cai o dólar...
São toneladas de estatísticas que interpretam e controlam o mundo, criando verdades e simplificando as coisas. E são elas que guiam nossas vidas. O que chama a atenção é a forma como a mídia funciona como um amplificador desses índices, transformando números que pouco ou nada querem dizer em tendências definitivas. Nada é mais forte, respeitável e verdadeiro que um economista na televisão. Mesmo com argumentos apoiados sobre zero vírgula nada por cento.
Você já reparou a distância que existe entre os índices de inflação e os preços que você paga no supermercado? Não é assustador? E no que devemos acreditar? No índice divulgado, que mostra o crescimento de zero nada da cesta básica ou no aumento de 25% da carne? Temos que ter cuidado. Jornalistas e economistas, juntos, raramente dá coisa boa. E lá vamos nós tomando decisões sobre probabilidades. Aliás, como somos ruins para lidar com probabilidades! Nos preocupamos com a soja transgênica ou com a doença exótica na África enquanto continuamos fumando, o que representa um risco muito maior!
Deveria existir uma matéria no ensino básico, tratando das probabilidades, ensinando as crianças a calcular que impacto essas estatísticas podem ter em suas vidas, tornado-as imunes ao desbunde estatístico da mídia.
Mas não. Parece que gostamos de não aprender com o passado. Quer ver? Volte vinte anos atrás e me diga qual a probabilidade de uma sexóloga da TV tornar-se prefeita de São Paulo? Ou um ex-retirante nordestino, operário, com um discurso raivoso, sem experiência administrativa, assumir a presidência da república? Pois é...
Na próxima vez que você ouvir esse papo de estatística e probabilidades, use os números: conte até dez. E só então tome suas decisões. E lembre-se: discursos pessimistas sempre parecem mais inteligentes que os otimistas. E talvez sejam.
Mais ou menos zero vírgula nada por cento...
28 março 2005
É Provável
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