31 março 2005

A Primeira Queda Nunca se Esquece

por Luiz Gustavo Vasconcellos*

Eles se conheceram mesmo quando a empresa promoveu um tal "Programa de Cultura da Cooperação". Logo na primeira etapa, quando a instrutora pediu que segurassem as mãos do colega do lado e olhassem bem no fundo dos olhos, se apaixonaram entusiasticamente e, só não se pode dizer que foi amor à primeira vista porque já se esbarravam pelo menos duas vezes por dia no ônibus e sequer percebia um a presença do outro. Coisas do destino. Ou da Cultura da Cooperação. Não sei.

Só sei que a partir daí passaram a se sentar juntos no refeitório e até a criticar também juntos a prepotência do chefe de produção. Brigaram pra poder trabalhar sempre no mesmo turno até assumirem de vez o namoro, coisa que o pessoal do RH, baseado nas estatísticas de produtividade, não aprovava muito, não. Mas quem se importa?

Ela vinha de um namoro frustrado, andava meio carente, ele teve que acabar com um rolo que vinha tendo com a Lucinete há alguns anos e, enfim, puderam levar, mais adiante do que se andava comentando pelos corredores, aquele relacionamento. O que a instrutora passou a citar em todas as apresentações posteriores como benefício do "Programa de Cooperação".

Fosse esta só uma história, poderia ter terminado por aqui, no felizes para sempre, mas a vida não tem dessas coisas e era inevitável que eles chegassem ‘naquele’ sábado. Depois de muita insistência, ele finalmente conseguiu que ela aceitasse o ‘convite’. E ainda prometeu que seria inesquecível!

Mas estavam ainda nas preliminares, ao som de Whitney Houston, quando ele viu a tatuagem do Che Guevara na coxa esquerda da moça, bem perto da virilha, acompanhado da célebre frase "Hay que endurecer-se pero sin perder la ternura jamás !" em letras manuscritas, bem miúdas. E não puderam continuar. Qualquer outro não conseguiria. Ela ainda tentou explicar que foi só uma fase da vida dela. Um período meio underground que tinha vivido. Coisa da Juventude. Uma criancice talvez! Mas já não tinha mais jeito.

Ela virou pro canto e ele teve que assistir a um amargo final de Supercine.


* Luiz Gustavo está cada dia mais convencido de que não escreve seus textos, psicografa. Não pensaria sozinho tanta bobagem.

4 comentários:

Anônimo disse...

Qualé, tá psicografando mensagens do Costinha agora é?
Apesar de já ter visto por aí esse "Estilo Literário"... Nenão mano?

Show de bola... Continue assim.

Anônimo disse...

Uai, Zacha, isso foi uma crítica ou um elogio?

Paulo Vasconcellos disse...

Acho q foi um elogio. Acho q só 3 caras pensariam naquela tatuagem... LFV, Costinha e vc mesmo... hehe...

Anônimo disse...

hmm...

Acho que a resposta ideal para essa tattoo seria segurar o bráulio já em posição de sentido, gritar "Viva la Revolution!" e partir para a guerra com entusiasmo!

hehehe