19 maio 2005

Bahia Exilada

1971. Caetano e Gil se refugiam em Londres, fugindo da linha dura que imperava em Pindorama. Viviam um momento que conjugava duas tristezas, a distância da Bahia e a primeira reviravolta em suas carreiras, e uma estranheza: aquela terra fria nos frios tempos de "o sonho acabou". Resolveram, não sei se de forma combinada ou não, registrar aquele momento. Lançaram duas obras únicas em suas discografias.



Gilberto Gil [1971] tem 8 pérolas cantadas em inglês. Abre com a irresistível "Nega (Photograph Blues)", que é um estilo que poderia ser (ridiculamente) batizado de blues baiano. O "Nega" do refrão em uma música cantada em inglês é qq coisa. Na sequência vem um cover de "Can't Find my Way Home" de Steve Winwood. Sinceramente: é bem melhor que a original (não güento a voz do Winwood). Outras duas composições originais, "Volks Volkswagen Blues" e "Crazy Pop Rock" dão a certeza de que se trata de um 'must have' em qq coleção.



Caetano Veloso [1971] é um disco triste pra xuxu. É o disco mais 'Beatles' do Caetano (apesar das 3 covers de "Qualquer Coisa", de 1975). O clima 'down' marca de cara as 2 primeiras faixas, "A Little More Blue" e "London, London" (é, aquela que um tal RPM estragou nos anos 80). Caetano brinca com o inglês e insere uns "marinheiro só" aqui e ali. A única faixa em português dos dois discos é uma versão de "Asa Branca" do Caetano, fechando o disco.

Em resumo: Gil aproveitou o tranco pra experimentar e aprender. Pegou leve mas se manteve fiel ao seu estilo mais 'alegre'. Caetano sentiu o baque da distância e aproveitou pra fazer um disco inimaginável nos tempos de Bahia. Engraçado que sejam discos ignorados, até pelos dois. Poucos artistas saberiam aproveitar tão bem um exílio.

1971... Legal lembrar que na mesmíssima Londres estavam sendo gravados "Led Zeppelin IV", "Aqualung", "Paranoid", "Fireball", "Imagine"...

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