08 junho 2005

Estudando o pagode

"Estudando o pagode" é mais uma "pérola rara" do músico brasileiro Tom Zé
O cantor denuncia a segregação da mulher em uma opereta irônica


Véronique Mortaigne
Em Paris


Felicidade! Tom Zé lança o seu novo álbum, intitulado "Estudando o Pagode na Opereta 'Segrega Mulher e Amor'", ou seja: este cantor-compositor que é um verdadeiro vibrião do rock tradicional brasileiro, destrincha aqui o "pagode", um estilo de samba popular, nervoso e irônico, sob a forma de uma opereta imaginária, na qual são abordados os temas da segregação da mulher e do amor. O menos que se possa dizer é que é um programa que promete.

Aliás, programa é o que não falta entre as ferramentas utilizadas por Tom Zé: há truques geniais produzidos por meio de computadores, que permitem armar a distorção de um ave-maria adocicado, ou a amplificação cavernosa de um macho imbecil. Será uma opereta sintetizada, eletrônica, esta sobre a qual o autor precisa que ela é "inacabada"? De jeito nenhum.

Tom Zé trabalha os seus sons, mas os violões, os cavaquinhos, as percussões e o bandolim que não poderiam faltar, estão presentes.

Tom Zé canta, e toca folha de fícus. Ele que nasceu num lugar improvável do sertão baiano, antes de se tornar um dos fundadores do movimento tropicalista junto com Caetano Veloso e Gilberto Gil, nos explica no encarte do disco de que maneira a folha de fícus, quando enrolada em forma de canudo, permite emitir um som nasal e estridente, o qual "produz uma música crua, que se alimenta da sua própria insipiência. Essa insipiência é a veia do meu interesse".

Portanto, "Estudando o pagode" não se parece com nada que nós já conhecemos. Este era também o caso do álbum precedente, "Jogos de Armar", o qual trazia um segundo CD que incluía os "esqueletos" das músicas do primeiro, para ser utilizado por todos os criadores de remixes.

Mas esta nova coleção extraordinária de 16 músicas que contam uma história aparentemente desvinculada da realidade (o negro Maneco Tatit que maltrata Tereza é, por sua vez, maltratado pelo seu professor da universidade) é uma pérola de inteligência política.

Neste álbum, composto para duas vozes (masculina, Tom Zé, feminina, Suzana Salles) e mais erudito do que pode parecer à primeira vista, Tom Zé convida os pseudo-desconstruidores de sons (Seu Jorge) a plantar batatas e a ver se ele está na esquina.

A ironia como forma de se opor ao machismo, a denúncia crua da exploração da mulher, a complacência desta última frente à sua dor e, no final, a sua força, são sentimentos que ele expressa com uma total liberdade.

Enquanto a substância musical permanece impregnada das ricas sonoridades nordestinas (em que predominam violões de sete cordas), da filosofia do deserto interior, entre messianismo e submissão, a alquimia produziu-se por contágio com as pesquisas muito urbanas do underground de São Paulo, onde Tom Zé se instalou duas décadas atrás.

Um excêntrico e um grande apreciador de trocadilhos, Tom Zé utiliza as formas antigas dos coros de mulheres para desmontar os velhos lugares-comuns ("a mulher é o mal") e detoná-los em forma de música para dançar.

"Estudando o Pagode" faz referência a "Estudando o Samba", um disco que ele mesmo havia lançado durante os anos negros da ditadura militar (1976). Neste, na ilustração da capa, branca, havia uma fileira de arame-farpado preto. No novo álbum, o arama-farpado continua ali, mas ele cerca uma Vênus que parece surgir do século 19.



Tradução: Jean-Yves de Neufville

CopyPaste do Vitão! Tnx Mr Zamora!

0 comentários: