"Triste Bahia" é o nome da pior música do Caetano. Falei dela dias atrás, querendo esquecer. Mas não consegui pensar em outra coisa depois que vi duas notícias sobre a terra de Amado e Caymmi.
A primeira pintou ontem: uma pesquisa do MEC mostrou que a Bahia tem o pior ensino público do Brasil. A nota média ficou em 2 vírgula qualquer coisa. A média ideal é 6. Só 9 escolas do Brasil (8 no estado de São Paulo e uma no Paraná) conseguiram notas dignas. Mas a lanterninha da terra de ACM e Pires mereceu destaque.
A outra notícia eu vi hoje de manhã: Salvador tem o maior índice de desemprego de todo o Brasil. Não ligaram as duas pesquisas. Só falaram que na capital de Gal e Bethânia, 22% das pessoas estão desocupadas. Não por falta de ofertas de emprego. É por falta de qualificação mesmo. Ou, colocando de outra forma, falta de EDUCAÇÃO.
Índices vergonhosos para a terra de pseudo-intelectuais como Gil e Caetano. O primeiro é nosso Ministro da Cultura. Adora levar carnaval e capoeira para todos os povos do mundo. Passou da hora de levar um pouco de mundo para a Terrinha. Mundo básico. A moça (de uma agência de emprego) falou que os candidatos têm "2º grau completo. Mas são fraquíssimos em português e matemática."
Detalhe: eram candidatos a operadores de telemarketing!?!
Triste Bahia. Que adora fingir alegrias.
27 abril 2007
Triste Bahia
Marcadores: crônica
23 abril 2007
18 abril 2007
Tio Moacir e o Lobão Tenebroso
Desde o início do ano, sempre depois da pelada de quinta, tio Moacir sempre tem um motivo para repetir seu último mantra: "Não tenho compromisso nenhum com a coerência". Remédio com bula: não é indicado para menores de 50 anos. Efeito colateral na cabecinha dos inexperientes: cantarolam "metamorfose ambulante" e se esquecem de ter opinião própria sobre qualquer assunto. Tio Moacir dribla descalço e não abre mão de ser coerente com sua frase.
Eis que ressurge o Lobo Mau da música brasileira, circa 50, rompendo vários dos compromissos que havia assumido na última década. Seu renascimento na grande mídia é batizado com um "Acústico MTV", tipo de obra que Lobão um dia falou que era coisa de gente decadente. Lobão, assim como Clapton, Paralamas, Lenine e Alice in Chains, fez um unplugged muito digno: Decadence avec Elegance.
Abre o disco com "El Desdichado", repetindo o tio Moacir: "Na contramão da contradição". Armadilha das boas. Lobão foi esperto o suficiente para aproveitar a oportunidade e mostrar para o povão todas as pérolas de sua fase independente. Sons incríveis como "A Gente vai se amar". E, claro, não deixou de remoçar todas as suas grandes obras, de "Corações Psicodélicos" (a melhor bobeirinha new wave do rock nacional) a "Por tudo que for" (balada em estilo Byrds/Band). Passa por "Me Chama" (clássica), "Noite e Dia" e "Essa noite não".
De repente, sem ninguém esperar, Lenine e Lobão provaram que "Acústico MTV" não é cemitério de 'greatest hits'. Que bom!
Torci muito para que a fase independente do Lobão desse certo. Não deu. Ele fez muito bem em voltar. Fará muito bem para a música brasileira. Por contraditório que seja.
Marcadores: mpb, musica, rock_and_roll, rock_nacional
16 abril 2007
Onde moram as idéias - Parte II
Surrupiado do Guz, do Atchim.
Sou levado a crer que existem 3 tipos de gente: as que pensam que viver é “uma coisa que vai”, as que pensam que viver é “uma coisa que chega”e as que não perdem tempo com esse tipo de bobagem. Invariavelmente, essas últimas são as mais vocacionadas à felicidade. Mas, infelizmente, esse terceiro tipo não é uma questão de escolha porque, a partir do momento em que se pensar no assunto, só sobrarão as duas primeiras opções. A vida é mesmo carregada de encruzilhadas.
As pessoas do primeiro tipo – as que vão – normalmente não fazem grandes planejamentos, são costumeiramente péssimas em matemática e compram em 24 prestações. As do segundo tipo – as que chegam – sabem até os centavos do dinheiro que têm no banco, sabem exatamente quanto falta para atingir seus planejamentos e, pasmem, não passam no caixa-eletrônico na sexta-feira à noite. As do terceiro tipo – felizes – não têm conta no banco.
O pessoal do primeiro tipo acha que a vida sempre vai, como um trilho de trem com duas únicas estações: o nascimento e a morte. O do segundo tipo vive a aguardar as paradas no meio do caminho: formatura, carro próprio, casa própria, netos. Não que as pessoas do primeiro tipo não possam passar por essas etapas, mas as do segundo tipo sabem exatamente a hora em que isso irá acontecer e, principalmente, quanto vai custar. Já as pessoas do terceiro tipo não acham nada. Só vivem mesmo.
As pessoas do primeiro tipo são boas no improviso, as do segundo preferem seguir o roteiro bem especificado de suas agendas e as do terceiro tipo não perdem um capítulo da novela das seis. As do primeiro tipo gostam de futebol, as do segundo também e as do terceiro são boas de bola. Quem acha que a vida é “uma coisa que sempre vai” gosta do passado, quem acha que a vida é “uma coisa que chega” ama o futuro e as outras vivem o presente e adoram dar e receber presentes.
As pessoas do primeiro tipo talvez se arrependam do que fizeram, as do segundo, do que não fizeram e as outras sabem pedir perdão e esquecer.
ps do pv: eu deveria estar alimentando o Atchim, não surrupiando espirros. Mas o mano caçula filosofando é impagável (no melhor sentido possível).
Marcadores: crônica
02 abril 2007
Nostalgia
Manhã de domingo, dia da mentira. Ressaquinha leve e uma vontade de escutar música brasileira. Comecei pelo meu default - Lenine - e pulei no samba do Seu Jorge. Duas músicas só. Não bastava ser brasileira. Tinha que ser diferente. Tem dia que tenho que escutar música 'diferente'. Fucei na coleção e saquei um disco que só ouvi uma vez: "Transa". Caetano Veloso, 1972. Fase barra pesada.
Conclusão antecipada: não gosto do Caetano. Os 40 anos de carreira dele renderam, para meu gosto, umas 20 músicas razoáveis e umas 3 excepcionais. Só. Quem falar que agüenta escutar "Triste Bahia" inteirinha, em volume razoável, ou é louco ou é sado-masoquista. São nove minutos e meio da mais pura tortura. Aliás, escutei cada segundo. É que bateu um espírito baiano e não consegui sair da rede (aquela de balançar) para apertar o 'next'. "Triste Bahia". Caetano filosofa em cima d'uma batucada de fazer Carlinhos Brown parecer gênio.
"Filosofia". "Mora na Filosofia", de Mansueto Menezes, salva o lado 'B' do disco. Caetano é bom intérprete. Perde feio pra mana Bethânia, mas tem personalidade. A letra do Mansueto ajuda muito. "Te coloquei na balança - você não pesou / Te coloquei na peneira - você não passou". Dá pra entender porque Caetano resolveu gravá-la. Filosofando. Aí caiu na "Nostalgia".
"Nostalgia". Num desses dicionários da Internet tem a origem da palavra. Do grego: nostros (retorno) + algós (dor). O retorno da dor. Acontece que a faixa que fecha a "Transa", com um minuto e vinte segundos, tem subtítulo: "That's what Rock and Roll is all about". A levada é blues. Violão chique. Mensagem truncada ou errada ou mal guiada. Era 1972. O sonho tinha acabado mas o rock'n'roll estava vivinho. E olhando para a frente. Antecipou tanta coisa. Tanta coisa que o próprio Caetano continua reutilizando, inclusive em sua nova fase... rock'n'roll!
Caetano é o rei da varada n'água. O rei do "ou não". Deve vir daí sua empatia. Um rei que se mostra plebeu perdidinho toda vez que abre a boca ou escreve algo. "Eta eta..." Caetano Malagueta.
O assunto não ia roubar espaço e 10 minutos do meu tempo. É que hoje recebi uma mensagem bem 'auto-ajuda': "A nostalgia pode ser uma força poderosa. Hoje ela pode ter um efeito narcótico em você!"... hehe..
Ok Caetano, você venceu. Hoje vou escutar todos os discos do Led Zeppelin!