por Luciano Pires
Disseram que sou tucano, pois coloquei em meu fórum alguns temas que atacam posições do governo do PT que julgo impróprias ou equivocadas. Anteriormente fui acusado de esquerdista por uma outra turminha indignada com umas colocações que permearam alguma simpatia pelo PT. Também já fui rotulado de burguês engomadinho; pernóstico; ignorante e burro. Para compensar, já fui classificado de gênio, inteligente e engraçado. E também de pessoa comum, medíocre e sem sal, ou seja: rótulo é o que não me falta. E eu acho graça. Primeiro por ter a consciência de que, se estou escrevendo e me expondo, vou receber todo tipo de retorno: contra e a favor. Segundo, por entender que se eu acreditar no que me dizem, ficarei insuportável ou entrarei em depressão. E nada disso vale a pena. O que vale mesmo é refletir sobre a forma como rotulamos e somos rotulados pelos outros. É impressionante a facilidade com que nos movemos de pensar e sentir sobre algo que a pessoa faz ou diz, para generalizar sobre o que a pessoa é. Fulano diz algo engraçado e a gente pensa “fulano é engraçado!”.
Beltrano diz algo político e a gente pensa “beltrano é de esquerda!”. Cicrano toma uma atitude imbecil e a gente pensa “cicrano é um imbecil”.
Confundimos a pessoa com as idéias da pessoa. É por isso que muitas vezes é praticamente impossível encarar algumas discussões. Os opositores saem da argumentação das idéias e entram no campo da ofensa pessoal. Acho que você já está cansado de ver e ouvir isso, não é? Recentemente me diverti com o João Gordo dizendo que levou uns pagodeiros e sertanejos no seu programa e gostou dos caras. - “Eles são gente fina, mas o trabalho deles é uma merda”. Perfeito. João Gordo separou o ser humano das suas idéias. Entendeu que é possível conviver em harmonia com pessoas que não comungam de seus gostos. Ele acertou no âmago daquilo que chamamos de democracia.
Mas quanta gente você conhece que é capaz de agir assim? Pois o resultado dessa incapacidade de estabelecer a diferenciação entre as idéias e as pessoas é uma confusão, uma perda de tempo absurda, que impede que avancemos como nação. Principalmente nestes tempos de discussões políticas e da mídia que sobrevive de alimentar polêmicas rasas. Pois faça uma experiência: nas próximas oportunidades, observe como as pessoas fazem o jogo de confundir o que a pessoa diz com o que a pessoa é.
Quando você perceber essas armadilhas, terá dado um passo fundamental para obter um atributo cada vez mais raro: o equilíbrio. Equilibrado. Isso é que é rótulo!
28 janeiro 2005
Pessoas e Idéias
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2 comentários:
Bom texto, mas quem é Luciano Pires?
Publicitário, marketeiro (no bom sentido), cartunista e articulista. Mais sobre ele em http://www.lucianopires.com.br/
E vc, quem é?
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