17 setembro 2004

A Máquina

Acho que o Luciano Pires não vai ficar bravo pelo fato d'eu reproduzir sem permissão seu último texto, "A Máquina". Vale a leitura:

"Entrei outro dia numa discussão sobre a responsabilidade da televisão pelo emburrecimento do país. Meu interlocutor era radical. Por ele, as televisões passariam 23 horas por dia desligadas...
Olha, a televisão é importante demais, valiosa demais, para ser ignorada. Num país que não tem o hábito de ler, por não saber ou não entender o que lê, a televisão deveria ser questão de segurança nacional.
Nelson Hoineff jornalista, produtor e diretor de Televisão, escreveu no site do Observatório de Imprensa, o seguinte: “Ver o Big Brother durante uma hora, por exemplo, equivale ao mesmo que ficar tempo idêntico diante do Late Show do David Letterman? Meia hora do Programa Vera Loyola tem o mesmo efeito que do Jornal da Record, com Boris Casoy?
No sábado, o programa Manhattan Connection mostrou uma hora de Paulo Francis, cujo 5º aniversário de morte se deu na segunda-feira. No mesmo momento, o canal AXN exibia, em ignóbil dublagem visivelmente concebida para débeis-mentais, uma luta combinada de ultimate fighting. Dez horas de Francis seriam enriquecedoras a cada segundo. Um minuto do programa da AXN seria suficiente para transformar uma criança normal num idiota completo. Qualquer estudo sério sobre os efeitos da TV tem que levar isso em consideração. A televisão está deixando seu público dependente não dos estímulos eletrônicos, mas da ausência de idéias e acostumado a um meio que está se omitindo até mesmo do dever de informar a sociedade. E é muito mais aí que nos cortes, edições e ruídos repentinos que mora o perigo.”

Nelson é homem da televisão. Sabe o que diz. A TV é tão importante quanto a economia, a política, a educação ou a saúde, ao funcionar como elemento de integração e mobilização da sociedade.

As duas maiores mobilizações de nossa história aconteceram em 2002: 90 milhões de pessoas foram às urnas, a maioria obrigada, para eleger o presidente da república. E 22 milhões pagaram para eleger o vencedor do
Big Brother Brasil. Vinte e dois milhões! Pagando!
Que outra ferramenta é capaz de uma mobilização dessas? Ignorar uma máquina com esse potencial, é ingenuidade. Pra não dizer burrice...

A TV não é ruim.
Ruim, dispensável e nocivo é o uso que estão dando a ela."

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