05 novembro 2006

When the Soul Wants...

...the Soul Waits.

"Quando a alma quer, a alma espera". É do U2 ("Man and Woman"). Espera?

Espero? Passei o dia ensaiando contar uma história de fantasmas. Já contei uma aqui no BlueNoir. Ia contar outra. Mas tropecei em litros de cerveja e me peguei cantando "Man and Woman". Espero? Não.

A história de fantasmas ia ser mais ou menos assim:

A primeira aparição aconteceu 20 anos atrás. Num daqueles corredores assombrados e apertados do colégio Batista. Ele acha que são 20 anos exatos. Não importa. Assombrou. Se assustou com a forma como aqueles dois olhos azuis iluminavam o dia que teimava em acabar (início de horário de verão). Assustou.

- Quem era aquela?
- A morena linda?
- Não, AQUELA!
- Minha irmã!

Quem tem irmãs bonitas morre de medo de irmãs bonitas. Das irmãs bonitas dos outros.

Quem era aquela? Irmã de alguém que não devia ter irmãs. Mas ele não temia aqueles que insistem em ter irmãs bonitas.

No carnaval seguinte rolou uma história. Ele não se lembra. Tava chapado de Ballantine's. [Podia ser Passport. Pelo porre, não importa]. Mas...

... isso não o impediu de pichar num muro que dava de frente pra casa dela:

"Os melhores momentos da minha vida foram aqueles que passe contigo - PF".

Dia seguinte:

"Quem é Paulo Francisco?"
"Ele escreveu errado!!"

No mesmo dia seguinte:

"Os melhores momentos da minha vida foram aqueles que PASSEI contigo. PF".

No outro dia seguinte:

"Que cara de pau. O Paulo Francisco corrigiu!!!"

A transcrição que aqui surge só carrega um erro. Não era PF. Era com um F virado para o outro lado, emendado no P. Antes do Pink Floyd fazer isso!, diga-se de passagem. Não importa. O PF era estiloso. Era mentiroso porque ele não se lembrava de quase nada. Só que tinha beijado seu sonho. Melhor dizendo: tinha passado um dos melhores momentos da sua vida. Só que a amnésia-whisky tinha apagado 90% dele. Importa?

Três meses depois ela virou namorada. Justificativa?

"Por causa da pichação: lembro de você todo dia!"

Pensou em escrever um livro sobre estratégias de guerra. Virou namorado dela. Mal sabia o terror que se iniciava naquele 31 de maio.

Resumo?

Terminou no dia 18 de julho.

48 dias d'uma coisa que deveria ser um sonho pr'ele. Não foi. Momento é momento e vida é vida. Mas...

O primeiro amor é uma bosta. Principalmente quando o personagem principal tem certeza absoluta de que se trata do PRIMEIRO AMOR. Aquele papo, aquele clichê: "é para sempre!".

[Break: saiu o U2 e entrou Morphine: "you look like rain...." Tente cantar rapidinho!]

"Você parece uma chuva"... e "O pra sempre sempre acaba". hehe... Tudo é volátil, descartável, passageiro, etéreo, efêmero, estéril, mortal, banal, sacal, boçal, lulusantiano, aquoso, arenoso, jocoso, teimoso, meloso, ruidoso, ... travou no "oso"..., lacrimoso...

Pois é. Ela se foi e ele encheu a cara de vodka. Nunca mais.

Nunca mais vodka, porque ela sempre permaneceria em seus pensamentos. Tatuada no cérebro. Colada com superbonder.

Ele nunca quis isso. [quisisso tb é legal].

Ele tentou escapar. Outras namoradas. 10 etnias. Meia dúzia de culturas e famílias. O eterno mesmíssimo pesadelo: ELA. A mesma causa pro término de todos os outros namoros: ELA!

Nos cruza e descruza e cruzcredo, a primeira coincidência desconcertante: por que o primeiro filho dela tem o mesmo nome daquele sobrinho que ele sempre levava pra rodoviária onde a encontrava aguardando pelo mesmo ônibus que ia pr'aquela mesma cidade onde as ruas não têm nome?

Nenhum xizinho em nenhuma das alternativas oferecidas. Na realidade, ele nunca perguntou a pergunta acima. Gosta da coincidência.

Começou a colecionar coincidências. Ela trabalhava na mesma cidade de ruas sem nome. [Sacou o U2?]

O noivo dela era [É] gordo. (Metade das namoradas dele também).

Ela não gosta de alface.

Não gosta de quem cospe no chão.

Se irrita quando a água do banho entope seus ouvidos.

Gosta de "Every Breath you Take".

Mas não gosta de ser perseguida, vigiada.

Não confia nele.

Nunca entendeu o riso dele.

Detestou o presente de dia dos namorados.

...


O tempo e as coincidências passaram.

O pesadelo não. ["Te conheço. Você é que nem eu!" - Morphine de novo]

E de pesadelo em pesadelo ele retorna para as coincidências. Sem querer. É verdade. Saca só: Tava voltando do cabeleleiro. A mãe dela é cabeleleira. Trajeto comum, desde os tempos de criança. De repente, pára numa esquina. Um bueiro tratou de ficar entupidíssimo. Um carro-forte meio mentiroso complicou ainda mais o caminho. Peraí... a história tá incompleta.

Na noite anterior os pesadelos foram mais fortes. Daqueles que detonam. Ele saiu de casa sem querer cortar o cabelo. Mas saiu. Com ELA na cabeça o tempo todo. Vai cortar o cabelo. Corta ELA? O barbeiro barbeirou. Não cortou. E ELE não tirou ELA da cabeça.

Então ele tava voltando. [Se tu tá perdido, volte 2 parágrafos]

Tava voltando. Encarou aquela poça d'água (bondade, não era água) e aquele carro-forte (sacanagem, era fraquíssimo). Saída estratégica pela esquerda. Primeira à direita. Na esquina bateu um aperto apertado no peito, um pensamento MUITO FORTE na cabeça. ELA tá aqui.

ELE não tinha conciência da coincidência. Psicólogos ou psiquiatras devem ter explicação melhor. Não importa.

ELA tava ali. ELE seguiu andando. Sem saber mas carregando aquela impressão ruim. Aquele "corpo ruim". Nos fundos daquele supermercado que fica ali saiu uma menina. Pelo corpo e andar parecia ser "di menor". Ereta, apressada, cabelos soltos, passos duros pero macios. Não, não peça pra essa última parte ser explicada. Duro e macio. A leveza do andar tá na forma como um pé troca responsabilidades com o outro. Sacou? Não importa. Ela é dançarina.

12 segundos de observação (moroso!) foram suficientes pra ELE sacar: era ELA!

Pausa. Palpitação. Arritimia. Irritação. Bicuda no poste. A velha passada da mão (direita) no chapisco da parede. Outra pausa. Meia volta ameaçada e não cumprida. Meio minuto comprido de vantagem para ELA. Tempo suficiente pra ELA dobrar a esquina que ele nunca mais vai dobrar. Muito menos no sentido contrário.

E L A

ELE perdeu o sábado, o domingo, a semana. Domingo seguinte saiu pra pegar um jornal. Aquela mesma sensação o fez pegar a contra-mão. Um quarteirão e bum!: ELA.

Agora foi um trilhão de vezes pior. Foi de frente! Olho azul naquele olho de peixe morto. Risinho. Peraí: foi olho de peixo morto fitando aqueles zolhões azuis. Verdes? Isso é outra história, mal contada tempos atrás... Mas...

Peraí: ELA deu um risinho? FDP!@#$@$

Aquele risinho derruba muralhas. Detona qualquer muro. Destrói qualquer reputação. Não, não foi simpático; muito pelo contrário. ELA sabe. ELA saca. ELA percebe. ELA conhece seu poder de destruição.

Castigo. Pára de comprar jornal. Não vai cortar cabelo. Castigo.

Fica quieto no teu canto de louco. 30 e poucos dias.
Fica quieto no teu canto de louco.
Canta nada quieto tua loucura.
Enlouquece a vizinhança quieta.
Fica louco no canto quieto.
Fica quieto no teu canto louco.

Assiste "Lavoura Arcaica". Vê as 3 partes d"O Poderoso Chefão". Chora de novo com "Crash" e "21 Gramas". Vê sua paixão com "Grandes Esperanças" e ri das esperanças da "Alta Fidelidade". Busca lembranças no "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças". Perde-se em "Sem Destino", "The Trip" e na "biblioteca" de vinte mil canções. Sarou?

Sarado enfrenta a cidade de novo. Novo sábado de manhã. De novo uma esquina. Nova esquina erroneamente dobrada. Nova velha ELA de novo!

Com uma criança nos braços pequeno. Criança pequena. Irmã ladeando. Ambas sorrindo. ELA sorri de novo! Agora com simpatia: "Oi!". Ela disse oi?!?

Destroçado, desgraçado, desengonçado.

Respondeu? Nem sabe direito. Outro grande momento esquecido.

E lá se foi ELA de novo.

Até quando uma alma espera?


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