27 março 2006

Pro Véio

O Paulo Fernando Nogueira estaria completando 59 hoje. Idade "bonita e triste", ele diria. Me lembro de vê-lo triste completando 30 e depois 40. Disfaçava perguntando "tô bonito ou sou bonito?". Brigo comigo mesmo tentando ser original e tentando achar algo original pra dizer. Pra exprimir a saudade. É difícil. As palavras não aparecem.

Eu poderia, como em outro post, surrupiar a letra do Bittencourt e dizer: "naquela mesa tá faltando ele, e a saudade dele tá doendo em mim". Ou apelar pro Bono e concluir que a relação pai X primogênito é cheia de clichês:

"Não preciso ouvir você dizer
Que se não fôssemos tão iguais
Você gostaria mais de mim"

"É você que vejo quando me olho no espelho"

"Você não tem que fazer tudo sozinho"

Acho que vou contar uma historinha. Só dele e minha:


Eu morava na Mutuca, 15km de Vga. Toda sexta voltava pra casa. Parada obrigatória no bar do Ferreti, um quarteirão distante de casa. Ele já tava lá, no balcão, tirando espuma de cerveja do bigodão. Eu estava muito feliz e empolgado. Logo após o primeiro gole estiquei o braço e lhe dei um tapinha no ombro: "Vai virar vovô, hem?"

Ele fez cara de susto e, em seguida, de seriedade. Me olhou d'um jeito que só ele olhava e falou: "Que que você aprontou?"

Dei uma gargalhada. Ele ainda não sabia que a Ju, a única filha casada, estava grávida.

Fui o primeiro a vê-lo com cara de avô. Parecia não combinar com seu estilo largado e charmoso. Não combinava, principalmente, com seus cabelos totalmente pretos. Vô Paulinho nasceu ali. Sem jeito mas feliz.

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