Pois é. Daqui pouco mais de 12 horas o simpático Marcos Pontes entrará para nossa história como o primeiro brasileiro a ir - literalmente - para o espaço. Nossa mídia, sempre que trata do tema, gosta de mostrar imagens de Santos Dumont. Perde de novo a oportunidade de sanar uma injustiça histórica: o paraense Julio Cezar Ribeiro de Souza é de fato o primeiro brasileiro 'aéreo', 'lunático'. Conheci-o há poucos dias, em um documentário exibido pela Cultura. Mas essa é outra história.
Hoje a história é do Marcos Pontes, de Bauru. Ladeado por um russo e um estadunidense, ele colocará o Brasil em algumas linhas do longo livro que narra nossas odisséias espaciais. De novo, e depois de um século, como um coadjuvante um pouco mais importante. Entendam: não estou desmerecendo o sucesso do Marcos. Muito pelo contrário. Vi hoje o desenho de um foguete que ele fez aos 5 anos de idade. É fascinante ver um cara brigando pelo seu destino. Mas temo que, de novo, alguns ufanistas e principalmente os céticos-críticos nos roubem a dimensão prática do feito. Nos falta equilíbrio. O meio termo. Sorte nossa que o Marcos parece demonstrar maturidade suficiente para lidar com mais uma polarização estúpida de nossos 'formadores de opinião'.
Odisséias
Outubro de 1945. O mundo ainda está tomado pelas sombras da 2ª guerra. A Inglaterra ainda exibe marcas dos bombardeios nazistas. Um moleque chamado Arthur Clarke publica um artigo chamado "Extra Terrestrial Relays". Prevê que satélites geoestacionários revolucionariam as telecomunicações. Seu artigo parecia mostrar que os 'ocidentais' estavam anos-luz à frente dos 'soviéticos'. Mesmo sem a real necessidade de uma estrutura de comunicações global, afinal a URSS era um bloco geográfico único, começou ali uma corrida. A tartaruga, no caso os EUA, não ouviu o tiro da largada.
Outubro de 1957. No dia 4, pra ser mais preciso, a URSS joga no espaço o Sputnik. Só então os EUA perceberiam que estavam em uma corrida. Alvoroço e vergonha. E medo, obviamente. Que disparou uma revisão de seu sistema de ensino! "Por que o Joãozinho não sabe ler?" Enquanto isso, numa esquina do terceiro mundo, todo mundo morria de rir com uma nova comédia do Oscarito, "O Homem do Sputnik". Ensaiávamos então uma valsa industrial. Com um pé atolado na lama agrícola. Lama manchada de sangue. Mas essa também é outra história.
Abril de 1961. No dia 12 o também sorridente Yuri Gagarin crava seus pés na história da humanidade. É o primeiro homem a ver a terra bem de longe. Dizem que ele disse que não viu Deus. Polarização de verdade ocorria naqueles dias. E os 'comunistas' pareciam ganhar de goleada a partida espacial. Do outro lado do mundo um tal JFK prometeu: "no final da década pisaremos na Lua". Pisaram. O resto é história.
Março de 2006. Um simpático cara de Bauru, uma das várias esquinas do terceiro mundo, será jogado no espaço por um foguete russo. Partirá do mesmo lugar que catapultou Gagarin. Com o mesmo sorriso. Sua pátria, orgulhosa, não tem mais Oscarito. Tem Mainardi. Ainda tem um pé atolado na lama agrícola. Lama manchada de sangue e estupidez. Ainda tem joãozinhos que não sabem ler.
Mas eu estou orgulhoso do feito do Marcos. É o primeiro brasileiro lá. Provavelmente, o primeiro astronauta a compor sua própria trilha sonora (literalmente - o cara é músico). É o cara certo. Pena que a hora, para nós brasileiros (vide a história do Julio Cezar e do Santos Dumont), parece estar sempre errada.
29 março 2006
2006 :: E Um Brasileiro tem Vez
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1 comentários:
Obrigado por ajudar a divulgar um fato tão importante para a ciência e para a tecnologia de nosso país.
Um abraço
Marco Aurélio
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