31 outubro 2005

B(t)H



Stephen Wirtz Gallery

Foto de Todd Hido. Excepcional.


ps: B(t)H = Belo (e Triste) Horizonte

25 outubro 2005

Lavoura Arcaica

E era Ana do meu lado.
Tão certo e tão necessário que assim fosse
Que eu fiquei pensando que muitas vezes, feito meninos,
haveríamos os dois de rir ruidosamente.
Espargindo a urina de um contra o corpo do outro.
E nos molhando como há pouco,
E trocando sempre, através das nossas línguas laboriosas,
A saliva de um com a saliva do outro;
Calando nossos rostos molhados pelos nossos olhos.
O rosto de um contra o rosto do outro.
E só pensando que nós éramos de terra e tudo que havia em nós só germinaria em um com a água que viesse do outro.
O suor de um pelo suor do outro.
(Raduan Nassar - "Lavoura Arcaica")





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pv: Em breve falo mais sobre o filme.

24 outubro 2005

Scratch #048

ou, "A Camisa do Timão é mais perigosa que um treizoitão"



O papo rolou na tarde de ontem, domingão, logo após um saboroso "frango ao molho pardo" que só minha mãe sabe fazer. Pra evitar qq tipo de constrangimento, evitamos o assunto do dia: o "Não X Sim". Amenidades e futebol. Aí deixou de ser ameno. Mama e tio Kinka começaram a lamentar a violência no futebol. Sugeriram o término imediato do brasileirão. Tentaram descobrir uma forma de evitar que os 'fanáticos' fossem aos campos. Gastaram 5min tentando descobrir a razão de tanta irracionalidade.

O papo morreria ali, sem muitas conclusões, não fosse uma infeliz intervenção do bobinho aqui: "Segunda-feira da semana passada saí da nossa peladinha semanal vestindo, orgulhoso, a camiseta do Timão. Só quando estava perto de casa me lembrei do risco que corri".

Pronto! Minha mãe ficou assustada. Tio Kinka me repreendeu no ato: "Vc tá louco! Deixa a camiseta aqui (em Varginha). Não dá pra usar isso lá não..."

Ambos votaram no "Não"! Me deram a liberdade de possuir uma arma. Mas não tenho a liberdade de usar uma camiseta...

23 outubro 2005

Interferência

por L.F.Veríssimo

Agora é tarde, Inez é morta, provavelmente a tiros, mas o debate vai continuar depois do referendo. E como muita gente se queixou que o referendo foi confuso, sugiro que da próxima vez que consultarem a população sobre o assunto simplifiquem a pergunta, colocando-a em termos corriqueiros, de experiências pessoais como as que estão todos os dias nos jornais, e que qualquer um entenderá. Por exemplo: se você fosse a mãe de um rapaz morto com um tiro numa briga de torcidas, preferiria que fosse mais difícil alguém ter acesso a armas como a que matou seu filho ou que seu filho também tivesse acesso a uma arma para poder se defender? Não é uma pergunta sentimental ou injustamente armada para favorecer um lado, eu até tenho dúvidas sobre como as “mães” hipotéticas responderiam. Mas a questão é, ou era, simplificada, exatamente esta.


Os que pregaram o “Não” invocaram muito a interferência indevida do estado na vida e no direito de escolha dos cidadãos. Vale a pena recordar outras ocasiões em que foram ouvidas queixas parecidas, na história do Brasil. Na abolição da escravatura havia tantos argumentos fortes a favor como contra a medida e — como no caso do referendo das armas — muitos dos antiabolicionistas nem tinham escravos, defendiam a escravatura em nome do direito de quem tinha de não ser coagido pelo estado. Não foi uma resistência emocional, foi racional e bem articulada como muitos dos artigos que lemos recentemente na defesa do “Não”, e o resultado é que atrasou a nossa história. O Brasil foi o último país do mundo a acabar com a imoralidade do escravismo. Mas algumas defesas da liberdade de ter escravos foram brilhantes.

Outro exemplo: a revolta contra a vacinação antivaríola no Rio de Janeiro, que chegou, violentamente, às ruas, mas começou na imprensa, onde Oswaldo Cruz era denunciado como uma ameaça pública pior do que qualquer epidemia. Foi preciso recorrer às armas para enfrentar a revolta, e alguns setores do exército aderiram aos revoltosos. A população do Rio foi vacinada literalmente à força. Livrou-se da varíola sob repetidos protestos contra aquela suprema interferência — subcutânea! — do estado na vida dos cidadãos. Oswaldo Cruz perderia um hipotético referendo popular sobre a vacina, na época, de zero.

O Brasil perdeu a oportunidade de dar um bom exemplo ao mundo na questão das armas. Mas estou escrevendo sem saber qual foi o resultado do referendo. Pode ter dado o “Sim”. Neste caso, se você leu até aqui, desleia.


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pv: Infelizmente uma turma do 'não' utilizou indevidamente o nome do Veríssimo. Assim como 'inventaram' um texto do Dallari. Mas a manobra mais ridícula foi uma elaboradíssima teoria da conspiração: a Globo estaria montando, com a fábrica de armas Glock, uma mega-empresa de segurança privada...

Blz. Seguimos sem entender coisas como Estado e Liberdade*.

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* Eu tinha 8 anos. A professora, magra e muito alta, chamava-se Ângela. Nos encontrava só uma vez por semana: era aula de educação artística. Acho que não guardei nada sobre combinação de cores ou qq outra coisa 'artística'. Mas não vou me esquecer nunca d'uma frase dela (usada para nos dar um 'puxão de orelha'):

"Sua liberdade termina onde começa a do outro".

20 outubro 2005

Dicas Aleatórias de Leitura



Há outros igualmente úteis, como:

How to Make your Grandmother a Porn Star
How to Get Your Brother Kicked Out of the House
Do-It-Yourself Liposuction
Laser Eye Surgery at Home
How to Murder a Complete Stranger and Get Away With It
How to Overcome Nymphomania

Pena q, por enquanto, só existem as capas... no FlapArt.

13 outubro 2005

Scratch #047



"One minute of reconciliation is worth more than a whole life of friendship."
- Ursula (Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Marquéz)

06 outubro 2005

Scratch #046



Eve: I'm a big girl.
Roger: Yeah, and in all the right places too. [They share a lingering kiss.]
Eve: You know, this is ridiculous, you know that don't you?
Roger: Yesss.
Eve: I mean, we've hardly met.
Roger: That's right.
Eve: How do I know you aren't a murderer?
Roger: You don't.
Eve: Maybe you're planning to murder me right here tonight?
Roger: Shall I?
Eve: Please do. [Another long kiss.]
Roger: Beats flying, doesn't it?
Eve: We should stop.
Roger: Immediately.
Eve: I want to know more about you.
Roger: What more could you know?
Eve: You're an advertising man, that's all I know.
Roger: That's right. [They shift positions.] The train's a little unsteady.
Eve: Who isn't?
Roger: What else do you know?
Eve: You've got taste in clothes, taste in food...
Roger: ...and taste in women. I like your flavor.
Eve: You're very clever with words. You can probably make them do anything for you. Sell people things they don't need. Make women who don't know you fall in love with you.
Roger: I'm beginning to think I'm underpaid.

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Só 1 dos diversos fantásticos diálogos de "North by Northwest" (Intriga Internacional), com Cary Grant e Eva Marie Saint. Precisa dizer que é do Hitch?

03 outubro 2005

Bang-Bang

Pois é, o BlueNoir anda ficando muito "político" (no péssimo sentido) ultimamente. Empurrado pro tema por desilusões e/ou questões absurdas. A última tá estampada na capa da Veja desta semana: "7 razões para votar Não". Tá falando do desarmamento. Com a isenção que lhe é peculiar.

Por exemplo: uma das razões é que o desarmamento foi imposto também por Hitler. Pode? Quando for conveniente eles vão lembrar que o Hitler também tentou acabar com os cigarros.. e acabou com quase todos os livros que existiam na Alemanha. So? A revista mostra a outra ponta (da régua política) falando que o Stédile (MST) também vai adorar o desarmamento. Pra assustar o leitor médio da revista só faltou dizer que haverá uma explosão de violência tão logo o desarmamento entre em vigor.. hã? ops.. ah, eles falaram isso tbém..

Eu detesto PROIBIÇÕES. De qq natureza e origem. Passo mal, mal mesmo. Seja em família, na escola (as piores proibições são inventadas nas escolas), nas empresas (as proibições mais estúpidas são implantadas nas empresas). Mas..

Leis e proibições foram inventadas para garantir que uma sociedade se tolere. Se respeite. Quanto maior o número de leis e proibições, podes crer, maior a nossa burrice. Maior nossa incapacidade de convívio. Nossas desigualdades..

Conheço gente que poderia muito bem andar a mais de 120km/h nas estradas (de SP, pq em MG a proibição é a péssima qualidade das estradas). Gente bem treinada e responsável. Só por isso devemos liberar que TODO MUNDO ande a mais de 120km/h? Tenho dois amigos (AMIGOS de verdade) que adoram armas. Há tempos. Um é piloto de Boeings (desnecessário dizer que é louco mesmo) e o outro trabalha no aeroporto controlando vôos (ou seja, um louco que tenta administrar o trampo dos loucos que voam). Ninguém duvida de sua responsabilidade. De sua CAPACIDADE em ter e manter uma arma. Em casa ou na roça, não importa. Isso significa que devemos liberar para TODO MUNDO?

[Eu sei, eu sei. Não é TODO MUNDO. Mas é quase isso, certo?]

A revistinha citada ali em cima reclama da pergunta que nos será apresentada no próximo dia 23/out: "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?". Ela acha que deveria ser assim: "O Estado brasileiro tem direito de proibí-lo de se defender?". Blz né? Vou sugerir uma também:

"Todo brasileiro tem maturidade, preparo e inteligência suficiente para portar uma arma?"

Se vc duvidar de UM. Se este UM significar o risco de morte de outro UM brasileiro, como vc votaria?

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Dicas culturais: Não, nada a ver com a novela que estréia hoje. São dois filmes que mostram um pouquinho do que é o tal "comércio legal de armas" e sua desastrosa associação com pessoas "mal preparadas":

Tiros em Columbine, de Michal Moore; e
Elefante, de Gus Van Sant.

No mínimo servem de contra-ponto para a revistinha que paga o salarinho do Diogo Mainardi. E que deve estar planejando uma nova edição da NOVA ou da Cláudia. Coisa mais ou menos assim: