O mano Guz mandou um texto novo, pra variar bem legal, mas proibiu sua publicação se ele fosse o seu 3o post consecutivo. Ou seja, eu tinha que dedicar um pouquinho da minha atenção ao BlueNoir. Não falo nada novo desde 27/7 e bem que eu poderia justificar minha 'ausência' falando que o trampo novo tá pesado. Ele tá pesado, mas minhas razões são outras. Temo que a principal delas seja uma certa desilusão que me pegou pela 1ª vez em quase 36 anos de vida. Logo eu, que numa auto-piedade mal policiada vivo pensando que já vivi de tudo. Logo eu, que numa arrogância bastante criticada vivo apropriando, indevidamente, uma coisa chamada "Verdade".
Juro que não queria 'poluir' o BlueNoir com assuntos assim. Por outro lado estaria quebrando a principal regra (totalmente tácita) deste espaço: a liberdade de falar, desenhar, cantar ou gritar qq coisa. A qq momento. Então vamos lá:
Quando minha mãe, Dona Tutti, e o Tio Kinka começaram a falar que nunca mais votariam em ninguém eu fiquei 'p' da vida. Escolheram mal (Collor), se decepcionaram e agora iriam se abster de emitir uma opinião? Eu achava que aquilo era uma covardia estúpida, burra mesmo.
Discutir política comigo é, desde então, um 'programa de índio'. Com exceção da barba que, apesar da vontade, nunca ostentei, tudo em minha postura remete ao PT. Àquele PT raivoso, de 89 e 94. Tudo vira 'cavalo de batalha', sacrilégio, ofensa. Nunca fui filiado ou 'militante'. Nunca vi motivo para tal. Mas em mesas de trabalho ou de botecos sempre mereci o rótulo "petista". Com algumas variações do tipo "comunista" ou "revolucionário". Algumas vezes com algumas críticas (verdadeiras) bastante constrangedoras. Do Chico Beto Souza, por exemplo: "Para um comunista até que vc tem uns gostos bem elitistas, não?" ... hehe
Difícil explicar. Não sou um "comunista". Aqueles com estofo suficiente para definir rótulos falariam que sou um "socialista". Pra simplificar gosto de falar que sou um "canhoto de esquerda".
Que, desde 89, sempre votou no PT. A primeira 'traição' aconteceu no ano passado. Escolhi o cara do PSTU pra prefeitura de Vga. Não me senti bem. Mas tenho certeza que ficaria pior escolhendo o cara do PT. (Que, no final das contas ganhou e está executando (?) seu 2º mandato.) Era uma coisa localizada? A insatisfação com os rumos (rumos?) de minha cidade natal? Acho que sim.
Mas pensando na incrível montanha de lixo que os caras tentaram esconder com uma toalhinha de rosto percebi que aquilo lá, pequenininho em Vga, já era sinal de que minha escora/escola política já não era mais a mesma.
Um 'liberal-empresário' como vice?
Um 'tucano' no BC?
Política macro-econômica neo-liberal?
A expulsão da Heloísa e da Luciana?
Esmolas na política social?
Aliado do R.Jefferson e do Severino?
Já tinha sintoma sufiente para um diagnóstico sem erros: aquele governo não tem nada a ver com o que a gente pensava. Nadica de nada. Mas, movidos por uma esperança cega que nem Freud explica, seguimos torcendo. Teve que aparecer a tal montanha de lixo (pra não usar uma palavra mais pesada) pra gente perceber o erro. O tal "estelionato eleitoral". A traição. Difícil nomear o sentimento.
Escolhi um bem próximo, conhecido: tô me sentindo órfão.
Minha ideologia não mudou. Meu jeito de ver o mundo não mudou.
Minhas utopias e sonhos estão mantidos.
Mas agora meus heróis são só aqueles que já morreram (alguns de overdose).
Ontem eu tava numa mesa com outros 2 caras que também sempre votaram no PT. Gastamos umas 2 horas do nosso tempo tentando entender a tal 'montanha de lixo': Pequenas variações do mesmo tema; Soluções implausíveis; Uma ou outra piadinha sem graça; 2 golos de cerveja e um 'taco baiano'; Centenas de dúvidas e só uma coisa certa: o olhar triste e perdido de 3 órfãos.
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Naquele estilão de Barão Vermelho das Verdades vivia dizendo que a Esquerda Americana (digo, do Alaska a Terra do Fogo) era BURRA. Antes da eleição do Lula eu já falava, imaginando uma possível derrota.
E pensar que eu vi inteligência na vitória...
Que Burro!
[imagine o encerramento aí pronunciado por aquela menininha da propaganda (excepcional) da Sadia].