30 agosto 2005

Scratch #042


"Velha roupa colorida"
Belchior

Você não sente e não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer.

Nunca mais seu pai falou: "- she's living home
E meteu o pé na estrada like a rolling stone..."
Nunca mais você convidou sua menina
Para correr no seu carro... (loucura, chiclete e som)
Nunca mais você saiu à rua em grupo reunido
O dedo em "v", cabelo ao vento
Amor e flor, que é de cartaz
No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais.

Você não sente e não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer

Como Poe, poeta louco americano
Eu pergunto ao passarinho: "blackbird o que se faz?"
E raven never raven never raven
Blackbird me responde: " tudo já ficou pra trás"
E raven never raven never raven
Assum preto me responde: "o passado nunca mais"

26 agosto 2005

História

O Towerson é foda! Aparece ali no canto esquerdo como 'colaborador' mas não publica nada aqui no BlueNoir. Aí, com medo da cobrança, desaparece das happy-hours... Aí, como quem não quer nada, manda um e-mail pra puxar papo. Saca só:


Fala, mano !!!

Desculpa o furo (na verdade, a total falta de comunicação) de ontem.

Um amigo, dono de uma agência de publicidade, me passou o seguinte link:

www.agencynet.com

É ou não é uma versão "horizontal" da primeira idéia de interface para o BlueNoir que tivemos lá no München, em 2000 ? Olha só como nós somos visionários. hehehehe...

===========

2000... eu tenho que achar o 1º rascunho do BlueNoir... um jornalzinho nunca lançado em Varginha. circa 1990!!

Mas, falando da interface ali. Bem legal, mas a nossa era mais Inteligente!
E seria um Boteco e não um escritório, né? Agora acho mais fácil eu abrir um boteco 'BlueNoir' do que a gente implementar a metáfora aqui no blog, hehe...

25 agosto 2005

Companhia

por Guz Vasconcellos



Era segunda-feira outra vez. Isso já havia acontecido
diversas vezes naquele ano. O mundo dá muitas voltas.
Ele sabia. E já estava cansado de ser retardatário na
corrida da vida. Onze e meia da manhã. A cidade
inteira já estava funcionando a todo vapor. Parecia
que só ele não fazia parte daquela engrenagem.

O vazio e o silêncio do quarto em contraste com os
ônibus e carros e vozes lá fora aumentava ainda mais o
sentimento de solidão. Por um momento ele sentiu medo.
Depois veio a raiva, a angústia... e a fome. Não havia
comido nada na noite anterior. No frigobar, desligado,
só um vidro de azeitona. Pelo menos ajudava a pressão
não baixar. Foi quando ele escutou a campainha tocar.
O aluguel do quartinho estava há seis meses atrasado,
mas desta vez não era cobrança. Pelo olho mágico ele
pôde ver as costas e o cabelo dela. Ela sempre
aparecia nos dias de mais solidão.

– Você está fedendo! – ela disse já abrindo a
geladeirinha. – Não tem nada pra comer aqui?! E essa
bagunça? Não faz nada o dia inteiro, devia pelo menos
deixar essa espelunca arrumada...

E ele só ouvia, acompanhando os movimentos dela com os
olhos. Era linda.

– O quinto dos inferno deve cheirar melhor que este
teu banheiro! Desde quando você não dá uma descarga?
Já sei. Mais ou menos desde quando não acerta o mijo
dentro da privada...

E ele só olhando. Quando ela estava lá o quarto
parecia menor. Ela não parava de falar. Eles se
conheceram quando ele foi despedido do jornal. Naquela
noite, voltou para casa e encheu a cara de vodka.
Quando acordou, ela estava lá. Falando. Depois disso,
passou a ser uma visita cada vez mais freqüente.

Ele não tinha muitos amigos. Sequer conversava
informalmente com alguém. Na redação, nunca entregava
os textos em tempo. Estava sempre um passo atrás dos
outros. Com o passar dos dias, três, quatro passos
atrás. Não teve como não ser mandado embora. Era um
escritor, não um jornalista.

Depois disso ainda fez alguns bicos por aí. Seu texto
tinha estilo. Só lhe faltava cabeça. Então começou a
faltar dinheiro, feijão e sobriedade, até ficar do
jeito que estava.

– Que rabiscos são estes aqui? – a moça mexia nos
papéis sobre a escrivaninha – “Era segunda-feira outra
vez. Isso já havia acontecido diversas vezes naquele
ano...” Que porcaria é essa? Tentando escrever de
novo? Já te disse para largar mão disso. Tem é que
arrumar um serviço ou ainda vai morrer de fome...

– Não fuça nas minhas coisas! – finalmente ele disse
alguma coisa. E ela continuou:

– Você precisa crescer, rapaz. Sair desse teu
mundinho. Ninguém ganha a vida brincando com
palavras... – ela falava sem parar. Nem parava de
andar. E ele já cansado de acompanhar os passos e a
voz dela.

– Por que você vem aqui? – ele perguntou tentando
interrompê-la. Sem sucesso.

– ... sabe, acho que você devia tomar uma atitude. Sei
lá. Dar um upgrade na sua vida...

– O que vem fazer aqui?! – tentou novamente. E ela
ignorando. Todas as vezes que ela aparecia, ele
perguntava e nada.

– ... quem sabe sair pelo mundo, viajar só você e sua
mochila...

– QUE MERDA VOCÊ VEM FAZER AQUI?! – Ele já estava aos
berros e ela nem aí. Continuando seu discurso. Como
sempre. Ela vinha, enchia o saco, nem o escutava, mas
quando ia embora ele não via a hora dela voltar.

Ali, enquanto ele gritava, ela falava. Ninguém se
ouvia. E, lá fora, a Bernadete, vizinha do lado,
comentava com a amiga que o moço do 201 – o da porta
que não mais abria - estava gritando sozinho de novo.
Coitado.

22 agosto 2005

BlueNoir - Lyrics

Antes de mais nada: não é culpa minha. Achei aqui um som chamado BlueNoir. Não ia perder a deixa, né? Saca só:

B L U E N O I R

Awhile ago I was so sure I'll never know
How could I feel something or somehow
Now I dont know 'bout the future
but I know I want you to be around
-
So why push me away
Its so easy for me to let go
Its so easy for me to be alone
and seal it all and carry on
just carry on
-
I know that I could fall in you anytime
But I didnt alow myself to do so
cause it was so unsure and cause Im so fragile
I dont want to scare you away
-
So dont push me away
its so easy for me to let go
Its so easy for me to be alone
and seal it all and carry on
just carry on
...

19 agosto 2005

Fotos...

Janelas permanentes... Prisão de momentos.
Podemos desfilar zilhões de metáforas (várias piegas) para falar de Fotos. Desconheço quem não goste delas, de uma forma ou de outra.
Curto vê-las. Só.



Se vc tb, não deixe de conhecer Limited Exposure.

17 agosto 2005

O Grande Encontro

Por Guz Vasconcellos


O Desajeito tinha um serviço pra entregar e ainda por cima estava atrasadíssimo pra aula. Enquanto isso, o Apressadinho, que não tinha pra fazer, não via a hora de chegar em casa. Era por volta daquele horário estranho que fica entre a novela das seis e a das sete. Há mais ou menos um ano e meio, pra ser mais exato. Cada um vindo de um lugar diferente da cidade.

Não se conheciam. Sequer sabia um da existência do outro. Foi, talvez, no mesmo momento que o primeiro apertou o botão do elevador que o segundo ligou o seu carro., embora não haja provas concretas do fato. Dois mundos diferentes, prestes a se encontrar. O Desajeito sempre pensava demais, dizem até que ainda fala, sozinho, andando na rua. Ás vezes até ri. Já o Apressadinho sabe muito bem como se comportar na multidão e nunca tinha imaginado - pelo menos foi isso que ele disse à polícia – fazer mal a uma formiga.

O Desajeito andava rápido, a pé, fazendo ultrapassagens no passeio. O Apressadinho mais rápido ainda, de carro, driblando o trânsito lento da avenida. O Desajeito, leste-oeste. O Apressadinho, norte-sul. E ali na frente o sinal. Fechado. Quase
abrindo. O Desajeito pensou que dava tempo de atravessar enquanto o Apressadinho ficou feliz de saber que o sinal abriria assim que ele chegasse. Não se viram. Sincronismo perfeito. Um grande encontro.




ps do pv: Baseado em fatos reais!

15 agosto 2005

Órfão

O mano Guz mandou um texto novo, pra variar bem legal, mas proibiu sua publicação se ele fosse o seu 3o post consecutivo. Ou seja, eu tinha que dedicar um pouquinho da minha atenção ao BlueNoir. Não falo nada novo desde 27/7 e bem que eu poderia justificar minha 'ausência' falando que o trampo novo tá pesado. Ele tá pesado, mas minhas razões são outras. Temo que a principal delas seja uma certa desilusão que me pegou pela 1ª vez em quase 36 anos de vida. Logo eu, que numa auto-piedade mal policiada vivo pensando que já vivi de tudo. Logo eu, que numa arrogância bastante criticada vivo apropriando, indevidamente, uma coisa chamada "Verdade".

Juro que não queria 'poluir' o BlueNoir com assuntos assim. Por outro lado estaria quebrando a principal regra (totalmente tácita) deste espaço: a liberdade de falar, desenhar, cantar ou gritar qq coisa. A qq momento. Então vamos lá:

Quando minha mãe, Dona Tutti, e o Tio Kinka começaram a falar que nunca mais votariam em ninguém eu fiquei 'p' da vida. Escolheram mal (Collor), se decepcionaram e agora iriam se abster de emitir uma opinião? Eu achava que aquilo era uma covardia estúpida, burra mesmo.

Discutir política comigo é, desde então, um 'programa de índio'. Com exceção da barba que, apesar da vontade, nunca ostentei, tudo em minha postura remete ao PT. Àquele PT raivoso, de 89 e 94. Tudo vira 'cavalo de batalha', sacrilégio, ofensa. Nunca fui filiado ou 'militante'. Nunca vi motivo para tal. Mas em mesas de trabalho ou de botecos sempre mereci o rótulo "petista". Com algumas variações do tipo "comunista" ou "revolucionário". Algumas vezes com algumas críticas (verdadeiras) bastante constrangedoras. Do Chico Beto Souza, por exemplo: "Para um comunista até que vc tem uns gostos bem elitistas, não?" ... hehe

Difícil explicar. Não sou um "comunista". Aqueles com estofo suficiente para definir rótulos falariam que sou um "socialista". Pra simplificar gosto de falar que sou um "canhoto de esquerda".

Que, desde 89, sempre votou no PT. A primeira 'traição' aconteceu no ano passado. Escolhi o cara do PSTU pra prefeitura de Vga. Não me senti bem. Mas tenho certeza que ficaria pior escolhendo o cara do PT. (Que, no final das contas ganhou e está executando (?) seu 2º mandato.) Era uma coisa localizada? A insatisfação com os rumos (rumos?) de minha cidade natal? Acho que sim.

Mas pensando na incrível montanha de lixo que os caras tentaram esconder com uma toalhinha de rosto percebi que aquilo lá, pequenininho em Vga, já era sinal de que minha escora/escola política já não era mais a mesma.

Um 'liberal-empresário' como vice?
Um 'tucano' no BC?
Política macro-econômica neo-liberal?
A expulsão da Heloísa e da Luciana?
Esmolas na política social?
Aliado do R.Jefferson e do Severino?

Já tinha sintoma sufiente para um diagnóstico sem erros: aquele governo não tem nada a ver com o que a gente pensava. Nadica de nada. Mas, movidos por uma esperança cega que nem Freud explica, seguimos torcendo. Teve que aparecer a tal montanha de lixo (pra não usar uma palavra mais pesada) pra gente perceber o erro. O tal "estelionato eleitoral". A traição. Difícil nomear o sentimento.

Escolhi um bem próximo, conhecido: tô me sentindo órfão.

Minha ideologia não mudou. Meu jeito de ver o mundo não mudou.
Minhas utopias e sonhos estão mantidos.
Mas agora meus heróis são só aqueles que já morreram (alguns de overdose).

Ontem eu tava numa mesa com outros 2 caras que também sempre votaram no PT. Gastamos umas 2 horas do nosso tempo tentando entender a tal 'montanha de lixo': Pequenas variações do mesmo tema; Soluções implausíveis; Uma ou outra piadinha sem graça; 2 golos de cerveja e um 'taco baiano'; Centenas de dúvidas e só uma coisa certa: o olhar triste e perdido de 3 órfãos.

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Naquele estilão de Barão Vermelho das Verdades vivia dizendo que a Esquerda Americana (digo, do Alaska a Terra do Fogo) era BURRA. Antes da eleição do Lula eu já falava, imaginando uma possível derrota.

E pensar que eu vi inteligência na vitória...

Que Burro!

[imagine o encerramento aí pronunciado por aquela menininha da propaganda (excepcional) da Sadia].

09 agosto 2005

A Conta

Por Guz Vasconcellos


Dia desses a D. Maria entregou uma notinha ao seu marido e antes mesmo que ele argumentasse que, afinal de contas, era ele quem punha comida na mesa, ela já foi explicando:

- Num preocupa não que isso não tem nada a ver com os 35 anos de serviços prestados. Aí não estão as roupas lavadas, passadas e guardadas. Não inclui todos os cafés da manhã, almoços e jantas prontos exatamente de acordo com os horários da sua agenda e escolhidas de acordo com sua vontade: frango com macarronada às quintas e domingos, feijão gordo às quartas e sábados, bife com batata às terças e sextas... Nada de varrer, tirar pó, pôr as coisas nos lugares. Também não levei em conta as faxinas de empurrá móvel e horas-extras lavando a garagem. Antes que você diga qualquer coisa, quero só que você saiba que não estou cobrando nada disso...

E o marido só olhando.

- Acontece que eu passei em frente do bar ali na esquina e vi que a cerveja “para levar” custa vinte centavos mais barato. Quer dizer que o dono do bar cobra vinte centavos por cerveja pela amolação?! Então eu truxe essa conta aí. São só os meus vinte centavos por cerveja que você tomou aqui em casa...

Ele ficou uns minutinhos quieto. Pensando. Depois perguntou se ela aceitava cheque para trinta dias...