Prêmios e campeonatos sempre serão uma fonte de injustiças. Variáveis e gostos são amplos e diversos demais para que a gente simplesmente fale: é o melhor filme, a melhor música, etc. Vivo cometendo tal pecado. "Blade Runner" me ensinou o que é cinemão. Na lata, ele sempre é meu filme favorito. Uma certeza que é constantemente abalada. Quando revi a trilogia do "Poderoso Chefão" pela enésima vez eu cravei: "Poderoso Chefão" é o melhor filme de todos os tempos! Besteira...
Mas uma besteira gostosa. Por isso Nick Hornby, principalmente o seu "Alta Fidelidade", é tão divertido. O protagonista vive fazendo listas: "as 10 melhores músicas para uma segunda-feira modorrenta"; "as 10 melhores músicas quando se está numa fossa daquelas"; "os melhores filmes para um primeiro encontro com uma garota". Não é nada sério. Provoca produtivas e úteis discussões sobre cultura inútil. E grana só entra na história se rolar alguma aposta besta. Caso contrário, é a prosa pela prosa.
Daí que o Oscar e similare$ são uma bullshitagem ('cagada de touro' em pt-br vira besteira mesmo) pura. Uma bobeirinha que movimenta milhões e mobiliza praticamente toda a indústria de entretenimento. Toda mesmo: do mundo da música até o universo dos games. É o principal item em todo o arsenal de marketing de Hollywood. Chega a ser até divertido quando não exagera nas encenações.
Em 1992, quando "Silêncio dos Inocentes" papou todos os prêmios relevantes (filme, diretor, atriz, ator e roteiro), pensei que o Oscar estava ficando mais coerente e livre. Pena, foi uma exceção. Um desvio que só se repetiu no ano passado, quando "Crash" levou o prêmio de melhor filme. Fora isso, a regra no Oscar é grana, conservadorismo e décadas de atraso.
O atraso, maior fonte de injustiças, ganhou um tipo de 'band-aid': aquele tal 'Prêmio pelo Conjunto da Obra'. Hitchcock, o mais completo diretor de cinema, ganhou um. Foi uma das cenas mais deprimentes na história do cinema: Hitch velhinho, muito debilitado. Ele não precisava disso. Assim como Robert Altman. Engraçado é que parece que os caras da academia adivinham quando o cara está prestes a deixar este mundo. Dá o prêmio de consolação e o cara capota. Engraçado nada - é triste mesmo.
Mas eis que a Academia resolve inovar: recompensa uma injustiça dando um prêmio 'de verdade'. Assim, finalmente, Martin Luciano Scorsese ganha o prêmio de melhor diretor. Foi quase tão deprimente quanto as cenas com Hitch e Altman. Sorte deles, da Academia, que Scorsese tem um senso de humor danado. E recebeu o prêmio das mãos de três reis magos: Coppola, Spielberg e Lucas. Pegou a estatueta perguntando: "Vocês têm certeza de que sou eu mesmo?" Era.
Não pelo pesado e cínico "Taxi Driver". Nem pela sua obra-prima, "O Touro Indomável". "Os Bons Companheiros" ou "A Última Tentação de Cristo"? Nem pensar. "Os Infiltrados" nem foi um esforço explícito para obtenção do Oscar. É um remake de um filme de Hong Kong!?! Não me lembro do Oscar descer tanto o nível. Talvez o Oscar 2007 seja lembrado pela maior forçação de barra de todos os tempos. Triste.
Tomara que em 2027 eles não estejam fazendo o mesmo com o Alejandro Gonzáles Iñárritu. "Amores Perros" já merecia o prêmio de melhor filme estrangeiro em 2001. "21 Gramas" e "Babel" encerram uma das trilogias mais acachapantes da história do cinema. Mas a academia estava ocupada, corrigindo uma injustiça cometida em 1977.
03 março 2007
Prêmio de Consolação
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