E por falar em ressurreição! Uma das bandas mais criativas e bem sucedidas dos anos 80 vai se reunir para comemorar os 30 anos de sua primeira gravação. O Police está de volta!
Por enquanto se trata de uma grande turnê mundial. Claro, Pindorama tá na lista. Provavelmente no último trimestre. Um CD e um DVD com o registro do passeio deve ser inevitável. Mas, por enquanto, nada de novas gravações. É mais provável que seja só isso mesmo: uma grande comemoração e pronto. Sting, apesar do desastre de seu último disco (Sacred Love), tem uma carreira solo consolidada. Andy Summers tá com uns 60 anos. Não tem mais pique para banda. E Stewart Copeland é um esquisitão-legal que sonha desde 86 com a volta do Police. Terá seus 10 meses de curtição.
Como eu já disse por aqui, não gosto de 'revivals'. Mas, de novo, taí mais um que curti. Sim, porque o cenário musical anda paupérrimo. Sim, pq finalmente poderemos ver o trio no Brasil. E não precisa ter música nova. Aliás, tomara que eles evitem isso. Não tenho dúvidas de que cada som será retrabalhado. Sting regravou dezenas de sucessos do Police, todos com uma roupagem bem jazz. Copeland é vidrado em sons do 'terceiro mundo' desde a primeira fase da banda. E Andy Summers é eclético por natureza. O último disco dele é "Splendid Brazil", gravado em parceria com o excelente guitarrista Victor Biglione. Ele gravou "Chovendo na Roseira" (Jobim), "Retrato em Preto e Branco" (Jobim e Chico), "As Rosas não Falam" (Cartola) e "O Ôvo" (Hermeto), dentre outros clássicos tupiniquins. Tudo instrumental. Todas fenomenais. Tudo passou batido na terra do calypso-bruno-amarronado.
O Police nasceu praticamente no 'boom' do pior momento do rock: na era "punk+disco". Passou batido, apesar da guitarra seca de "Next to You". Diferença fundamental: inteligência + reggae. Acabou criando um estilo que foi cansativamente copiado mundo afora. Um de seus filhotes mais nobres é o Paralamas do Sucesso (mesmo formato - mesma proposta inicial).
O trio não tem lógica e talvez por isso tenha sido tão criativo. Sting era professor com uma voz fraquinha pero marcante. Um Chet Baker sem heroína (só um yagezinho de quando em vez). Copeland, filho de diplomata estadunidense, girou mundo. Playboyzinho culto e antenado. Para muitos, o melhor baterista dos últimos 30 anos. Para mim ele perde do Bonzo (Led) e empata com o João Barone. Summers era o mais velho dos três. Tava no mundo do rock desde o início da era Beatles! Participou de coisas pra lá de estranhas como o Dantalion's Chariot, banda pop-psych que lançou um disco em 67. Escute a introdução de "Bring on the Night" para entender porque muitos acreditam que Summers reinventou a guitarra.
A riqueza musical da banda merecia letras igualmente valiosas. É aqui que Sting se destaca. E não estou falando das rimas bem sacadas de "Every Breath you Take" (que ninguém tira da minha cabeça que é um quase plágio do reggae do LedZep, "D'yer M'aker" - sem demérito. Afinal, cria-se assim também). Mas tô falando de outras pérolas, tão ou mais importantes que o maior hit deles. "Roxanne" é um apelo passional para um puta (viu Veja: PUTA!). "Don't Stand so Close to Me" é um apelo frágil para uma aluna safadinha. "I Can't Stand Losing You" é o apelo dos apelos:
I guess this is our last goodbye
And you dont care, so I wont cry
But you'll be sorry when Im dead
And all this guilt will be on your head
I guess youd call it suicide
But Im too full to swallow my pride
I cant, I cant, I cant stand losing...
Como um dramalhão assim não soa patético? Tendo bom humor. E ritmo, muito ritmo.
Desse camburão ninguém tem medo. Que venha a Polícia!