25 janeiro 2007

Scratch #081

"Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: nem ele me persegue, nem eu fujo dele, um dia a gente se encontra"

- Mário Lago


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Em dia de São Tom, o scratch vai para o Lago? Não estaria melhor na lagoa, ou no jardim? Talvez, mas seguiria sem sentido. Afinal, hoje é dia de São Paulo também. E a lagoa e o jardim são cariocas, como Tom, Lago e Chico. Mereciam destaque a fina garoa, a feia fumaça e as meninas que - deselegantemente indiscretas - rodam suas bolsas de compras naquela esquina famosa que fica perto da 25 de março. Mas hoje é 25 de janeiro. No dia de São Tom, a menina-musa-intrusa deveria ser outra, elegante: aquela coisa linda que vem e que passa, cheia de graça. E o que o Lago tem com tudo isso? A Amélia, pelo que todos sabem, nem está na esquina da Ipiranga com a São João e muito menos balança docemente a caminho do mar. A Amélia era mulher de verdade. São Tom mentia sobre sua paixão de verdade, a Lígia. Dizia nunca ter sonhado com ela. Santo não sabe mentir, e a máscara cai quando ele diz não gostar de samba. Desmascarado, Tom roubaria do Lago a desculpa: "atire a primeira pedra aquele que não sofreu por amor". De novo o Tom da Lagoa e do Jardim cruzaria o caminho do Lago. Com o tempo, tudo se encontra.

15 janeiro 2007

O Melhor de 2006

Tô adiando este post desde o ano passado. Afinal, como falar do melhor de um ano que eu não vi. É sério. Não foi só uma questão do tipo "foi rápido demais - não vi passar". Eu simplesmente não vi nada ou praticamente nada em 2006. Nada que seja de 2006.

Exceções para o retorno do Superman (hehe.. programa com sobrinhos - um filme honesto e bobinho) e "Dália Negra" (De Palma ficando velho e ultrapassado).

Raconteurs, Magic Numbers e mais os 80's requentados. Que dureza. Um pouco de alívio quando o assunto é som de 2006 veio do novo Audioslave (Revelations - médio que tá ficando repetitivo) e Red Hot (Stadium Arcadium - que ainda consegue soar criativo, mesmo num álbum duplo). Alívio 'dos bão' foi o acústico do Lenine. Dispensa comentários.

Livros de 2006? ...

Hehe.. conhecerei 2006 outra hora...



Porque durante 2006 eu viajei por outros anos. Na verdade estive entre 1930 e 1976. O meu 'best of' de 2006 é jurássico - resultado d'uma pesquisa que ficou gooooooglamente maior do que eu imaginava quando mergulhei num projeto 'pessoal' chamado Junkyage*. Vi, li e ouvi coisa pra caramba, ao contrário do que a introdução deste post pode fazer crer. Podes crer, bicho...

Na Last.fm, por exemplo, consta que eu ouvi 7.331 músicas desde o dia 8 de maio de 2006. Ela só conta o que ouvi no micro. Considerando uma média de 4min por música isso dá um total de 29.324 minutos de música - 488 horas ou 20 dias inteirinhos. Deve dar mais, porque tô falando de uma época em que as músicas de 10, 18 e 28 minutos não eram consideradas 'anti-comerciais'. O mercado ainda não tinha sido "formatado" pelas rádios e emissoras de TV. De qq forma, uns 30 dias da minha vida foram consumidos por muito som. Não que eu não faça nada quando ouço música. Quase sempre tô executando uma atividade em paralelo. Como este post, por exemplo. Mas vamos ao que interessa.



Esse é o top TOP de minha parada de sucessos. Igualmente 'dedurada' pela Last.FM. O Spirit foi uma descoberta e tanto. E "Ice" é uma música instrumental que mostra todo o potencial d'um moleque chamado Randy California. Um discípulo do Hendrix que morreu novo como o mestre. "Hey Jude" com o Duane (um dos Allman Brothers) é menos melosa que a versão dos Beatles. Duane toca guitarra com o Clapton em "Layla". Mas foi com seu irmão que ele escreveu uma bela página da história do rock. Não dá pra comentar todas as músicas, mas "Easy Money" é duca e "On the Way Home" é aquela que o Renato Russo gravou em seu acústico. Aqui, numa versão ao vivo, ela é ainda mais arrepiante.



Deu Spirit no topo da parada - a banda que mais ouvi. O Crimson só chegou ali agora no começo do ano, quando consegui duas caixas (de 4 CD's cada) com shows da banda. Fui obrigado a rever meus conceitos: o Crimson é fundamental para o rock progressivo. Ao lado de Yes, Genesis e Pink Floyd. Cada um na sua. Dos 4, o Crimson é o mais radical (na proposta musical). Por isso é menos popular. Mas revisão de conceito de verdade foi com CSN&Y. Quem diria que um dia eu gostaria tanto deste tipo de som? Interessante é o tanto de história que os 4 caras têm. Antes e depois da reunião. Stephen Stills é o mais surpreendente. Tem um disco de 68, "Super Session", que deveria constar em toda lista de "Discoteca Básica". Além dele tem Mike Bloomfield e Al Kooper. Todos com uma resposta muito consistente ao desafio que vinha da Inglaterra (Beatles + Stones + LSD). Aliás, eu desconhecia que o som produzido nos EUA era tão rico. Da lista acima ainda tem: Youngbloods (duca!), Byrds (fundamental), Allman Brothers (riquíssimo), The Band (vale o nome). Isso sem falar no Tom Waits. Se eu fosse cantor/compositor ele seria minha maior inspiração. Ele e sua única cria dos tempos modernos, o Mark Sandman (Morphine).

Spooky Tooth, Caravan, Traffic, Savoy Brown e The Pretty Things provam o tanto que é idiota e mentiroso o dilema "Beatles ou Stones". O Reino Unido era muito maior que as duas bandas. Na lista alguns poucos invasores que não fazem parte do período estudado da Junkyage* (mas são fortemente influenciados por ele): Cowboy Junkies (como um bom junky, não vivo sem eles), Red Hot (culpa do excelente novo disco), XTC (matando saudades - anos 80 de verdade e bom gosto) e Pearl Jam (que também lançou um bom disco - mas também ficou um pouco enjoativo).

Wow... como se não bastasse, mergulhei também no cinema da época. É uma dureza achar esse tipo de coisa em Vga, mas a gente sempre dá um jeito (se é que me entendem). Coitado do Zé Carlos (News Video) que compra "clássicos" só para alugar para um freguês, hehe.

"Easy Rider" é realmente um marco. Não dá pra entender como o Dennis Hopper virou um bobinho depois daquilo. Ou até dá, rs. "The Trip" é Roger Corman (famoso por filmes de terror) mostrando como é uma viagem com LSD. Dá vontade de rir. Do mesmo jeito que "Estranho no Ninho" dá uma vontade danada de chorar. "Skidoo" é Otto Preminger com Groucho Marx + LSD. Indescritível. "Wild on the Streets" tem uma história incrível: uma banda de rock joga LSD em reservatórios d'água e toma o governo dos EUA!! Jack Nicholson, ligadaço na época (participou de "Easy Rider"), escreveu o roteiro doidão de "Psych Out". Lógico que revi "Blow Up" e ainda corro atrás de "More" e "Zabriskie Point", ambos com trilha sonora do Pink Floyd. Conclusão rápida? Nunca mais se fez cinema assim. Não é dizer que era "BOM". Tecnicamente, com certeza, não. Mas a temática, a liberdade e a entrega dos atores é muito chocante. Como será o "On the Road" do Walter Salles, hem?

Por falar nele, no livro "Pé na Estrada", lógico que tive que lê-lo de novo. Ele é um dos estopins da Junkyage*. Bob Dylan (injustiçado nas listas acima - não dá pra escutar 1hr daquela voz direto, hehe) disse que não sairia de casa não fosse por "On the Road". De novo emendei o livro do Kerouac em "O Teste do Ácido do Refresco Elétrico", do Tom Wolfe. Lendo, ouvindo Grateful Dead e Big Brother Corp. (Janis no vocal), vendo os vídeos dos "Festivos Gozadores" - experiência multimídia que explica melhor toda aquela revolução. Peguei também duas coletâneas de contos do PKDick, que ficava tão longe de tudo.


Ufs... que tamanho de post. E não mostra um milésimo do que foi o meu 2006, hehe. Quem sabe daqui alguns dias, quando o(a) Junkyage* (re)nascer!

08 janeiro 2007

Pattern Recognition - The Movie

O livro do William Gibson, que por aqui se chama "Reconhecimento de Padrões", finalmente vai virar um filme. Deve sair em 2008, com direção do excelente e sumido Peter Weir (A Testemunha, Sociedade dos Poetas Mortos, Sem Medo de Viver). Já é uma das grandes notícias de 2007 e 2008, hehe.

[A outra é o possivel lançamento de "Spook Country", novo livro do Gibson, em agosto deste ano. É o primeiro desde "Reconhecimento...". E ele tá sumido de seu blog desde janeiro do ano passado].

Seguinte, sou fanático pelo livro (Nani! kd ele?). Li em 2005 e fiquei torcendo pela inevitável versão cinematográfica*. Na época pensei no Ridley Scott (Blade Runner) para a direção. Mas, pensando bem, o Weir é uma escolha mais certa. Ele não é over em cenografia e efeitos: é um puro Diretor de Atores. Joga as interpretações na frente de tudo. Vide Harrison Ford em "A Testemunha" ou aquela arrepiante atuação de Jeff Bridges em "Sem medo de Viver".

Weir + Gibson... aposto que terá U2 na trilha. Ele tem uma cena memorável em "Sem medo..." com um dos sons mais memoráveis do U2, "Where the Streets have no name". E o Gibson é fanzaço dos caras e vice-versa. Aliás, a história de "Reconhecimento de Padrões" tem um 'q' do U2 de "Achtung Baby" e "Zooropa". A história rola boa parte nas Zooropa, mas faz referências ao 11/set direto.

O que mais escrever sem estragar a história? Hã... a atriz! Quem fará o papel da protagonista, a Cayce. Ela é uma mistura da Nani com a Ariela Mazé (paulistana, nada a ver com a filha do Fábio Jr.). Referências que só eu costuro, hehe. Eu não colocaria uma bonitona+gostosona não. Os estúdios devem ficar tentados a colocar uma Jolie ou Julia (Roberts) no papel. A primeira é muito 'quadrada' (! - não era, ficou) para o papel. E a Julia tá velha (para o papel). Sei lá. Se pudesse ser brasileira seria alguém como a Camila Morgado. Gwyneth Paltrow! É, podia ser. Faz tempo que ela tá devendo um filme bom.


* Agora vou contar um cadinho da história. Não leia se você não leu o livro, ok? Aliás, se não leu, vc tem até 2008 para fazê-lo. Não precisa gostar de sci-fi e afins.

A vocação 'cinematográfica' dos textos do Gibson é notória. A diferença de "Reconhecimento de Padrões" é que tem cinema na história: Um filme maluco que é distribuído em pequenos trechos (menores que a duração média dos vídeos do YouTube) e vira uma mania mundial. Ninguém sabe onde ou por quem o filme é produzido. Aliás, ninguém entende a história. A "febre" faz com que alguns fãs banquem até a divulgação quando um novo trecho "cai na rede".

Imagina só o que um BOM diretor faz com um roteiro assim. Ele fará dois filmes em um! Pode exercitar dois estilos totalmente diferentes. Imagina que briga de foice não foi pra ganhar a direção d'algo assim! Daí que tenho quase certeza que Gibson influenciou na escolha. É fácil pegar um roteiro do Gibson e fazer pirotecnia. Nas mãos do Weir, "Pattern Recognition" deve virar um exercício de estilo como há muito não vemos no cinema.

Caramba... 2008 tá longe!

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Tira-gosto (Scratch) de um trecho de seu livro que serve de base para este artigo:


"Of course," he says, "we have no idea, now, of who or what the inhabitants of our future might be. In that sense, we have no future. Not in the sense that our grandparents had a future, or thought they did. Fully imagined cultural futures were the luxury of another day, one in which 'now' was of some greater duration. For us, of course, things can change so abruptly, so violently, so profoundly, that futures like our grandparents' have insufficient 'now' to stand on. We have no future because our present is too volatile. ... We have only risk management. The spinning of the given moment's scenarios. Pattern recognition." (page 57)

Scratch #080



Surrupiado da Go Ape Shirts (!).
What a f***ing monkey biz! hehe..