06 abril 2008

[1004] R.E.M. | Fables of the Reconstruction (1985)

O R.E.M. ganha a mídia de novo, com o lançamento de Accelerate. Há 4 anos eles não lançavam um disco de estúdio. Mas a agitação tem outro motivo: depois de Up (1998), Reveal (2001) e Around the Sun (2004), o REM resolveu pegar pesado de novo. Os tic-tacs eletrônicos cedem espaço para uma bateria de verdade; a guitarra ficou distorcida de novo, não como em Monster (1994), mas bem mais pesada do que aquela dos últimos discos. O REM sempre foi assim, uma banda em eterna metamorfose - com várias idas e vindas. Em seus quase 30 anos de carreira, algumas pérolas ficam perdidas. A maior delas é Fables of the Reconstruction, 3º disco da banda, lançado em 1985.

Claro, o REM não foi ignorado em "1001 discos..." Marcou presença com Murmur (1983), Document (1987), Green (1988) e Automatic for the People (1992). Quatro discos! Então, qual a razão para acrescentar o desconhecido "Fables.."? Simples: é o álbum mais injustiçado dos 14 lançados pelo REM.

Lá em 85 o REM ainda era rotulado como "college band", "guitar band" e outras bobeirinhas de críticos. Seus dois primeiros discos detonaram nas rádios universitárias. Eram muito parecidos. Mesma produção, mesmo ambiente, mesmo estilo de composição. Mesmo tipo de engano inocente cometido pelos contemporâneos do U2. Banda nova quer experimentar e aprender, esticar e empreender. A rotina mata. O REM trocou Athens (Georgia) por Londres. Trocaram também de produtores, escolhendo Joe Boyd, que nos 70's havia trabalhado com gente como Fairport Convention e Nick Drake. Era mudança pra valer.

Engana-se quem pensa que o som envelheceu. Claro, o efeito "modernizante" não foi tão chocante quanto aquele que Brian Eno conseguiu com o U2, mas o REM nunca mais seria o mesmo. Tudo que os transformou em superbanda conhecida mundialmente foi rabiscado e tentado em "Fables..."

"Feeling Gravitys Pull" abre o disco com a mesma força que "Drive" abre "Automatic..." "Maps and Legends", a 2ª faixa, é a cara de "Losing my Religion". "Driver 8" remonta o antigo REM, enquanto "Old Man Kensey" mostra aqueles backing-vocals que se tornariam uma das várias marcas registradas da banda. A sexta faixa, "Can't Get There from Here" é quase um funk, alegre e com muito swing. Estilo que se repetiria com mais sucesso em outros discos. A guitarra de Peter Buck nunca foi tão original. A voz de Michael Stipe nunca foi tão seca, o oposto de seu estilo tradicional.

Talvez para não assustar tanto, a música seguinte volta ao "velho" REM de "So. Central Rain" e afins. Trata-se de "Green Grow the Rushes", simples e eficiente.
E segue assim por três faixas, nítido porto seguro da banda e do produtor. Até que chega "Good Advices" que, ao lado de "Maps..", "Driver 8" e "Can't Get..." é um dos melhores momentos do álbum. Stipe lembra que "home is a long way away". Clara saudade. Se terminasse por aqui já estaria acima da média, mas eles trataram de fazer um dos melhores encerramentos de discos de todos os tempos. Colada em "Good Advices" começa "Wendell Gee", uma balada tão bonita que dói. Levada num mandolin que retornaria no disco "Green" de 88, em outra balada obrigatória do REM, "You are the Everything".

A capa do disco, como quase todas dessa fase da banda, é poluída e meio tosca. Vale mais a enigmática montagem que aparece na parte interna do encarte. Mas, imbatível mesmo é a brincadeira que o título do disco permite: "Fables of the Reconstruction" é grafado de tal forma que também permite outra leitura: "Reconstruction of the Fables".

O REM já estava pronto - reconstruído. O mundo ainda demoraria uns 3 discos pra saber; pra entender. "Fables..." é um disco perfeito demais para uma banda iniciante. Talvez seja por isso mesmo que fique jogado num canto toda vez que alguém tenta listar os melhores momentos do REM.

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