10 outubro 2007

O Dia em que uma Crítica me Pegou

Relembrei hoje: aconteceu no dia 24 de abril de 1989. Devia ser uma típica segundona, aquele mashup de ressaca com preguiça. Meu pai assinava O Globo e eu surrupiava o Segundo Caderno. Ele era especial nas segundonas, porque tinha uma coluna chamada "Discolândia".

(Não me pergunte como peguei a imagem acima. Você não acreditaria.)

O primeiro parágrafo do artigo da Ana Maria Bahiana funcionou como litros de café. Não acreditei no que li. E reli. E li de novo. Leia:

São duas e meia da madrugada. Choveu. Ao longe você ouve, às vezes, o chiado rouco de um carro sobre o asfalto molhado. A TV, sem som, passa um filme que era novidade quando seu avô estava no ginásio. O resto do mundo é uma possibilidade distante, meio anestesiada; a metade diurna da sua vida, a pessoa normal que você é, arquivada em alguma outra gaveta, algum outro tempo. Você não está triste, você não está feliz, você não está nenhuma dessas coisas corriqueiras. Existem apenas pianos, lembranças, reflexões, tão reais que você pode, se realmente quiser, tocá-los com as pontas dos dedos, em algum lugar no betume negro da madrugada.

Esse é o disco dos Cowboy Junkies.


Foi a primeira e única vez que comprei um disco por causa da crítica. Eu só ouvia "rock pauleira" na época. Mas não quis saber qual era o estilo dos Junkies. Simplesmente queria experimentar aquele sentimento daquele parágrafo da Ana Maria. Ela não errou nem 1 milímetro. Nem uma gotinha. Virei fã d'uma crítica, e adorei até o seu parcial Almanaque dos Anos 70.

Há tempos eu tentava recuperar a crítica acima. Consegui hoje, graças aO Globo. No restante do artigo, Ana Maria detalha o disco e seu processo de construção. É o "Trinity Sessions", lançado lá fora em 88. Sua produção custou US$ 200 (duzentos dólares!). Foi gravado ao vivo numa igrejinha do Canadá (Trinity), num único dia (tinha que ser 27/nov/87). Três versões de cada música, tudo acústico e capturado por um único microfone "overall".

Ana não conta, mas a primeira reação dos 3 irmãos que formam a banda, tão logo encerrada a gravação, foi correr para o colo da mãe. Levaram um "copião" para escutar com ela. Após os 52'59" a mãe Junkie exclamou: "Parece meu neto".

Anos depois, Oliver Stone surrupiou a versão que eles fizeram para "Sweet Jane", do Velvet Underground, e a colocou para contrabalancear com as poças de sangue de "Assassinos por Natureza". Foi o único momento em que os Junkies ganharam um 'arzinho' pop e um pouco de divulgação. Nos outros vinte e poucos anos da banda, a segurança d'um culto fiel. Tenho todos os discos deles, uns 16 oficiais e quase uma dezena de não-católicos. Tudo culpa da crítica da Ana Maria.

Mas, todos os fãs concordam, a mágica Sessão de Trinity nunca mais se repetiu. Claro, obras-primas não se replicam nem reproduzem. São fatalmente únicas. Mas os Junkies são teimosos. E vão lançar em poucos dias um novo "Trinity Sessions". Estão comemorando os 20 anos do "filhinho". E resolveram fazer tudo de novo. Desta vez, com vídeo também. Falaram que nem ensaiaram nem nada. Mas também não tinham a intenção de repetir, nota por nota, a viagem de 2 décadas atrás. O peso da idade deve se refletir no novo disco. Como? Também estou curioso.

E a Ana Maria, que tento contactar em vão há uns 3 anos, será que também ficaria curiosa? Será que aquela madrugada se repetiria?

São exatamente 18h12, e meu porão ficou escuro d'uma vez. Está tocando "Dreaming my Dreams with You". E a Ana não errou um milímetro sequer...

02 outubro 2007

Blade Runner: Enfim!

Lá no início do BlueNoir eu planejei uma série de 100 posts sobre Blade Runner. Parei no segundo. Não porque seria "nerd"emais, mas desanimei quando li que a chance do lançamento de um versão definitiva do filme era mínima. Qual não foi minha surpresa quando, tropeçando (literalmente), descobri via Wired que finalmente será lançado "Blade Runner - The Final Cut".

Ridley Scott finalmente conseguiu finalizar sua obra prima. 25 anos depois. E em altíssimo estilo. O filme será relançado nos cinemas, agora em outubro (lá nos EUA). Em dezembro sai a caixa com 5 (!!!!!) DVD's. Todas as versões estarão lá, inclusive a remendada versão original (de 1982). Terá também o "Director's Cut" de 1992. Céus... custará o olho da cara. Mas meu presente de final de ano já está escolhido.

Ridley é um arquiteto chato e perfeccionista. A entrevista que ele deu para a Wired é meio chatinha (e tem 5 páginas). Mas tem revelações maravilhosas. Exemplo? Ridley nunca leu "Do the Androids Dream of Electric Sheep?", do PKD (Philip K. Dick). Fala que na página 32 já existem 17 "histórias". Que o livro seria uma péssima influência para o livro... Pode?

Agora tomei coragem para retomar meu projeto de 100 comentários. Antes (da caixa), acho que vou reler "Do the Androids..." (versão pocket). Aguardem posts doidões...

Free Burma (Myanmar)


Free Burma!