14 fevereiro 2006

A Súmula dos Simuladores

Agorinha mesmo o Guz me mandou este link para um post do Torero: hoje é dia do Botonista! Não sabia que a gente tinha um dia. "A gente", tsc tsc...



[Flashback - 1980: Rua Dr Francisco de Oliveira]

Segunda era dia de descer para a casa da Vó. Sexta era dia do pai tomar cerveja. Nos outros três dias ele nos pegava na escola. Mal chegávamos em casa e a mesa da copa se transfigurava. O cachepot (?) e o pano eram jogados de lado. Nascia assim o nosso Maracanã. A mesa era daquelas que escondiam uma extensão. Bastava puxar e levantar dois pedaços de madeira para ganharmos um belo meio de campo com uma cor diferente do resto da mesa. Tá certo que tinha um certo desnível entre as partes, mas nada que atrapalhasse nossos craques.

O Velho escalava o time em questão de segundos. Sempre no esquema 4-3-3. Eu, meio visionário (hehe), tentava colocar dois cabeças de área na esperança de segurar um ataque que tinha Tita (7), Nunes (9 - ou ainda seria o Adão?) e Júlio César (11 - o Uri Geller - entortava todo mundo). E ainda tinha o Zico de ponta de lança!

Apesar da real competição o velho Paulo sempre era muito didático: "Chutando assim vc nunca vai fazer gol". "Daí não é força - é jeito!". Se eu segurasse a palheta fazendo uma paralela com o botão, vish.. "Não aprendeu nada!".

O Velho narrava as partidas, gastando todos os bordões da turma da Rádio Globo da época: "Choveu na horta do Mengão tricampeão!!". Com direito a comentários sobre a arbitragem: "Goooool Le-gal!". Me restava reunir o time e dar uma nova saída. Acontecia umas 20 vezes por tarde. Quando eu apertava um pouquinho a queda era de dez.

Foi assim que aprendi tudo que sei sobre futebol. As regras, táticas e truques. Jogava a bola de verdade na rua e no clube. Mas o futebol de verdade parecia acontecer só na mesa.

[1985 - Rua João U. de Figueiredo]

Com o velho as partidas ficaram mais raras. Uma vez, numa festa de aniversário de um dos 6 filhos rolou um campeonato. Tio Dinho, Tio Renato, Maurício & Mariano. Tio Luiz e tio Hernani? Não lembro. Só lembro que foi um puta torneio. Fui eliminado na 1a fase. Sorte minha: pude acompanhar todos os clássicos. E acrescentar várias outras 'manhas' ao meu repertório.

Virei colecionador. Tinha uns 100 times. Daqueles vagabundos, Gulliver e afins. Me gabava de ter o campeonato paulista completinho. (Explico: já tinha virado corintiano). Tinha até o XV de Jaú, verde e amarelo. O Santo André e o São José! Mas girava o Brasil. Central de Caruaru, Fluminense de Feira de Santana. Adorava os times 'exóticos'. Daqueles que entravam no Brasileirão numa época em que até 40 equipes disputavam a primeira divisão.

Acho que entre 84 e 85 fizemos (a turma do bairro e eu, uns 6 moleques) quase uma centena de campeonatos. Tinha final de semana com dois! Um no sábado outro no domingo. Dois "estrelões" garantiam a realização de rodadas duplas. Meu velho detestava o Estrelão. A gente customizava: placar de papelão, placas de patrocínio e até redinha de filó nas traves. Um luxo!

Que eu aproveitava muito sozinho também. Conseguia fazer partidas históricas defendendo duas equipes. Tentando ser imparcial (faz-me rir...) e narrando todas as partidas. Vez em quando o velho me interrompia para um "amistoso". Agora ele não ganhava tão fácil. Mas criticava muito nossas "novas" regras.

[Hoje]

Minhas últimas partidas foram contra o Guz. Além de umas raras tentativas de fazer o Mateus aprender o jogo. Faz tempo já. Substituímos a mesa e os botões pelo Winning Eleven. Agora dá até pra fazer trancinhas no Carlos Alberto. Tem torcida e locutor "de verdade". E muitas partidas emocionantes. Não vou esquecer nunca um sonoro 6x1 no menguinho do Guz. Show da dupla Tevez e Nilmar.

Mas, da mesma forma que o botão nunca substituiu o prazer da pelada de verdade, no campinho de terra, o computador não deveria substituir o simulador analógico, o jogo de botão. Só ele dá 100% de controle sobre o jogo, não depende do computador decidir se o lateral direito pode subir para apoiar ou não. Na mesa você interpreta melhor seu adversário. Na mesa vc fica cara a cara com o 'inimigo', e não sentado ao lado dele. É mais jogo. E periga ser o mais nobre mesmo, como diz o texto do Torero.

Só é foda pr'eu pq desde que comecei a escrever este post uma musiquinha me martela a memória: "Naquela mesa tá faltando ele..."

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1 comentários:

Anônimo disse...

Excelente o texto, Nandô. Lembrou do seu 6x1 no W11, mas esqueceu a coça que eu te dei na última vez que jogamos botão, né?!

Hehehe...

Ah, saudade...