27 maio 2008
17 maio 2008
[1006-1007] Deep Purple | Burn (1974) | Come Taste the Band (1975)
Uai... 2 discos de uma vez? Pois é, não temos convenções nem regras aqui. E a motivação para a inserção dessas obras do Purple é o lançamento de "Good to be Bad", do Whitesnake. Foi indicado até na Veja?!? Som H3 (Hetero - Hard - Heavy) virou moda de novo? hehe.. Viadagens e sons cabeça-tristonhos devem ter dado no saco. Daí o novo bafafá em torno de Led, Coverdale e o bom e velho Hard Rock. Boa hora para colocar na vitrola dois discaços ignorados em "1001 Discos para Ouvir antes de Morrer".
1974. O Purple se desmanchava pela segunda vez. O fracasso de "Who do We Think We Are" (73) foi a gota d'água que faltava para Glover (bss) e Gillan (voz) deixarem o barco. O trio que ficou (Lord (kbd), Paice (drm) e Blackmore (gtr)) deu uma sorte danada e conseguiu arrancar o excepcional Glenn Hughes do Trapeze. Voz e baixo num só cara. Seria suficiente, mas os caras pegaram um vocalista também, um balconista chamado David Coverdale. Apesar da manutenção do núcleo da banda, a alteração no estilo do som é nítida. Um certo swing de origem estadunidense abre outros horizontes para a banda em "Burn". "Might Just Take Your Life", a 2ª faixa, é a que mostra a alteração de forma mais escancarada. Relativo alívio para a porrada que é "Burn", a faixa de abertura. O riff de abertura e os solos de Blackmore e Lord são puro Purple, coisa que não fica devendo nada para "Smoke on the Water". Mas tinha uma novidade ali no meio: duas vozes. Duas baita vozes. Enquanto Coverdale cuida da coluna da música, Hughes esgüela na ponte e no refrão. Puxa, se nossas duplas sertanejas fizessem 1% disso...
O disco é bem homogêneo, todo bom. Mas tem um ponto de destaque absurdo: "You Fool No One". A bateria do rock nunca tinha sido tão original até esta introdução do Paice - nada parecido fora gravado até então. É a única faixa em que Hughes e Coverdale cantam juntos o tempo todo.
Até então o Purple não era muito chegado em baladas. Só havia gravado "When a Blind Man Cries", um lado-B de "Machine Head" (72). Dá pra imaginar Coverdale sem baladas? Pois bem, sua estréia é com "Mistreated", um blues-baladão dramático pra chuchu. Aqui Coverdale inventaria uma de suas marcas registradas, o "baby baby baby". Aqui Blackmore faria seu último grande solo desta fase.
Ainda em 1974 eles lançariam "Stormbringer" e se desmanchariam de novo. O mala do Blackmore não aguentou a guinada no som da banda, cada vez mais USA-oriented (lá estavam a grana e as grandes turnês e as grupies mais gostosas - não necessariamente nest ordem).
Mas os caras deram sorte de novo: conseguiram convocar um dos melhores guitarristas da época, Tommy Bolin. Doidão eclético e muito talentoso que tocou com Zephyr (lembra Janis vitaminada), James Gang e no disco de jazz-fusion "Spectrum", do baterista Billy Cobham. Bolin só colocou uma condição: manteria uma carreira solo em paralelo. O cara estava numa fase de hiperprodutividade, a la Hendrix em 66-68, e precisava de mais veículos para despejar suas crias.
Para sorte nossa o momento da entrada de Bolin no Purple está bem documentada: dois discos, "Days may come and days may go" e "1420 Beachwood Drive" mostram os ensaios. Jams imensas com 10 e 12 minutos, improvisos e sons como "Statesboro Blues" e "Dance to the Rock & Roll" estão ali, gravados ao vivo numa garagem californiana.
Mas o ápice deste Purple Mark IV está em "Come Taste the Band", lançado em 1975. Logo na faixa de abertura, "Comin' Home", as diferenças entre Bollin e seu antecessor ficam claras. A guitarra agora é mais leve, solta. Tem menos "técnica de conservatório" e mais pó de estrada. O resto da banda, particularmente Hughes, parece adorar a mudança. Lord pega o clima com um teclado menos sisudo, mais pianinho. O disco segue assim, deixando pistas que caracterizariam muito do som que apareceria anos depois, na forma de Whitesnake's, Def Leppard's e todas as bandas de hard rock estadunidenses. Engraçado, mas muita gente não atribui tal "culpa" ao Purple de 75. Pô, escutem "Gettin' Tighter" e vejam quantas vezes aquela introdução foi surrupiada nos anos 80.
Era época de LP's - lado A, lado B. Naqueles tempos o produtor podia esconder algumas surprezinhas no lado "desprezado" dos discos. Está ali uma das baladas mais bonitas dos anos 70, "This Time Around". Hughes não escondia o tanto que gostava (e copiava) Stevie Wonder. Aproveitou esta faixa (sem Coverdale) para mostrar toda a influência de Wonder em seu jeito de compor e cantar. A faixa toda é levada só no baixo e no teclado de Lord - uma obra-prima. Que abre espaço para outra, "Owed to 'G'", faixa instrumental usada por Bolin para mostrar que também tinha muita técnica.
"You Keep on Moving" fecha o disco mostrando que o som de negão não pegara só Hughes, mas toda a banda. É a melhor faixa do disco, e mostra tudo que a banda poderia ter virado se não tivesse acabado ali. Pois é, um ano depois o doido do Bollin, que já vivia chapado, resolveu passar dessa pr'outra. E a banda se desmanchou pela última vez nos anos 70. Voltaria só em 84, mas essa é outra história.
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